O Professor - Capítulo 2

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O sol forte cegou meus olhos úmidos e minha cabeça girou. Droga! A bebida não foi uma boa ideia, apesar de ter me ajudado a fazer as palavras fluírem dos meus lábios com maior facilidade. Do contrário, nunca teria coragem de contar a ele qual era o meu problema. Aliás, pior ainda foi deixar que Rose me contasse coisas da sua vida sexual para me ajudar a apimentar o meu romance. Pelo visto seu conhecimento sobre esse assunto era tão escasso quanto o meu.
Olhei ao redor procurando uma direção a seguir quando senti uma mão forte se fechar em meu braço. Antes mesmo de me virar já sabia de quem se tratava. Ele. O meu professor. O mesmo que tinha acabado de me dizer que a falta de um orgasmo poderia jogar por terra todos os meus sonhos.
– Isabella, você enlouqueceu? – Ele não me repreendia. Muito pelo contrário. Seus olhos deixavam claro o quanto estava preocupado comigo. Eu, a garota virgem e louca, que transaria com o primeiro interessado apenas para não perder a chance de esfregar na cara daquele idiota, isso mesmo, idiota, que eu conseguiria sim escrever o romance perfeito.
– Por que? Porque o meu professor acabou de me dizer que o fato de ser virgem e inexperiente vai me reprovar?
– Não foi o que quis dizer – mais preocupação em seu olhar. Será que eu aparentava estar muito doida mesmo?
– Claro que você disse. Você... – as lágrimas caíram. Fiquei ainda mais revoltada. Ele estava me fazendo chorar. Era quase impossível me livrar da vontade de ranger meus dentes e bater os pés. – Você tem noção do quanto foi difícil ouvir aquilo? Sabe há quantos anos me dedico a este projeto? Não – limpei as lágrimas com as costas das mãos.
– Você não sabe e nem se importa. Você é mau, cruel e insensível, é um... um idiota! – Explodi.
Seus olhos se estreitaram e sua mão abandonou meu braço. Ele estava chateado, contudo suas emoções estavam muito mais controladas do que as minhas. Até nisso ele conseguia ser superior.
– Você está muito nervosa e este não é o melhor lugar para conversarmos.
– Não vou mais conversar com você.
– É claro que vai. Olha só o seu estado – olhei para mim procurando o motivo da cara que ele fez. Algo misturado com ansiedade e reprovação.
– Não precisa se preocupar professor. Não vou me matar, apenas repensar alguns detalhes da minha vida, como a minha virgindade por exemplo.
– Pelo amor de Deus Isabella! – Agora sim ele me recriminava.
– Pelo amor de Deus Edward! – Gritei e no mesmo instante me arrependi. Santo Deus! Eu acabei de chamar o meu professor, o mesmo que queria me reprovar por falta de sentimentos, pelo primeiro nome.
Ele respirou fundo. Seu autocontrole estava por um fio. Eu estava quase rompendo uma barreira importante erguida por ele. A sua única maneira de manter a relação com seus alunos restrita ao lado profissional. Droga! Ele era um exemplo de profissionalismo e agora eu estava ali, chamando-o pelo primeiro nome.
– Vamos até a minha casa Isabella. É próxima daqui. Poderemos conversar com mais calma.
– Sua casa? – O espanto era claro em minha voz.
– Ah não! – Ele passou as mãos nos cabelos me olhando de forma recriminadora. – Não coloque mais minhocas nesta sua cabeça, tá legal?
Eu já estava vermelha antes mesmo de conseguir raciocinar sobre o significado daquele convite e a forma como ele me repreendeu atingiu em cheio o meu ego.
– Não estou pensando em nada professor. Pelo que me lembro, foi o senhor quem sugeriu que eu tivesse alguns orgasmos para saber sobre o que estava escrevendo.
– Eu não... – ele parou tentando controlar sua voz que estava um pouco mais alta. – Eu não disse isso. Nem imaginava que você...
– O que? Que eu fosse virgem? Não consegue dizer a palavra? – A minha voz estava mais alta, no entanto isso não me envergonhava.
– Fale baixo Isabella! Vamos sair daqui. Rápido.
Passei a sua frente com o queixo erguido, mas precisei parar. Eu não sabia onde ele morava, aguardei que ele passasse por mim para acompanhá-lo.
O professor Cullen morava mesmo perto de onde estávamos. Andamos poucos metros, subimos uma escada de cinco degraus e passamos por um portão baixo que dava acesso ao pequeno condomínio onde ficava sua casa. Eram ao todo oito casas, mas não eram simplesmente casas. Eram “as casas”. A do professor Cullen era a quinta. De frente para o mar com uma parte da sala exposta por paredes de vidro. Dava para ver o mar de dentro.
Era linda e aconchegante. Móveis claros e rústicos misturados com madeira escura e detalhes modernos. Havia livros expostos por todos os lugares. Em quadros e estantes, que se espalhavam por vários lugares da casa. Sobre a bancada que separava a cozinha americana da sala de jantar, que por sinal foi onde ficamos e até mesmo na cozinha.
Caminhei lentamente apreensiva com a minha presença ali. Era estranho e um tanto quanto absurdo estar na sala de visitas do meu professor. Ele passou por mim demonstrando se sentir tão desconfortável quanto eu. Desapareceu por uma porta sem dizer nada. Aguardei. Aguardei. Aguardei. E ele não voltava.
Comecei a dar passos lentos em direção à porta por onde ele tinha desaparecido. Estava com medo e ansiosa. Então ela se abriu. O professor Cullen saiu de lá com os cabelos molhados, vestindo um short verde e uma blusa de algodão preta. Estava descalço. Totalmente à vontade. Fiquei perdida no desenho do seu peitoral revelado pela camisa justa ao corpo.
– Mais calma?
– Você demorou.
– Precisava tirar aquela roupa e tomar um banho. O sal incomoda depois de um tempo.
Banho. Ai meu Deus! O que seria uma chuveirada ao lado de um homem como ele?
– Então? – Resolvi que apressar a nossa conversa seria o melhor a se fazer naquele momento, antes que eu tivesse um capítulo inteiro sobre banho formulado em minha cabeça. Beijo no banho. Sexo no banho. Orgasmos no banho. Oh droga! O que estava acontecendo comigo?
Depois do que o Professor Cullen me disse parecia que um botãozinho, até então sem uso, tinha sido acionado e trabalhava a todo vapor dentro de mim. Minhas fantasias chegavam de maneira mais rápida e intensa.
– Eu não quis dizer que você deveria transar com todo mundo Isabella, me desculpe se a fiz pensar assim – ele continuava desconfortável com a minha presença em sua sala.
– Mas você deixou claro que eu não sei escrever porque não tenho conhecimento do assunto.
– Não... Quer dizer... Isabella isso é embaraçoso tá legal? Eu não sabia que você é virgem. Não que isso fosse da minha conta, mas... Tá tudo bem! – Ele se afastou e caminhou até a sua cozinha americana. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa branca e amarela. Isotônico.
Após beber um longo gole, respirou profundamente e me olhou com firmeza. A ideia que passou em minha cabeça foi a de que talvez, muito talvez, estivesse deliberando sobre o que fazer numa situação como a que me encontrava. Então ele riu e sacudiu a cabeça.
Foi demais para mim.
– Qual é o seu problema?
– O meu problema? – Ele perguntou surpreso.
– Isso. O seu problema.
– Nenhum. Acho quem tem um problema aqui é você.
– Olha só. Não estou interessada em seus sórdidos comentários a respeito da minha virgindade, certo? E você tem razão, o problema é meu. Por isso posso resolvê-lo da maneira que quiser.
– Pode. – mais uma vez bebeu a sua bebida de atleta, que permitia que aquele corpo fantástico conseguisse ser ainda mais fantástico e... Pare Isabella! Ele é um cretino!
– Ok. Até mais! – Virei em direção à porta.
– Vai sair à procura de alguém para transar só porque não quer admitir que o melhor seria mudar o seu tipo de literatura?
– Não vou mudar. Vou escrever um romance erótico porque sou capaz de fazê-lo e não vai ser um idiota como você, que nunca escreveu nada, que vai me dizer que não sou capaz.
– Ótimo! Então saia e adquira também as suas maiores decepções. Depois não diga que fui o responsável por tanta infantilidade. Você não tem ideia do que vai encontrar Isabella. Em pouco mais de um mês teremos a sua nota final e, com certeza, o que vai conseguir será apenas decepção. Nada que algumas sessões de análise não consigam resolver.
No calor das minhas palavras não percebi que acabei indo em sua direção. Acredito que o mesmo aconteceu com ele, pois quando finalmente dissemos tudo o que queríamos, estávamos tão próximos um do outro que podíamos sentir o calor que fluía de nossos corpos. Ainda nos encarávamos desafiadoramente, porém a atmosfera ao nosso redor era completamente diferente.
– Você é um arrogante, um idiota...
Eu queria insultá-lo cada vez mais. Minha dor era tanta que não me deixava raciocinar, no entanto eu sabia que havia muito mais do que mágoa ou raiva em minhas atitudes. Algo que eu nunca poderia explicar.
– E você é a aluna mais cabeça dura que já tive.
– Ótimo! Pelo menos o incomodo de alguma forma.
– Você não sabe do que está falando – ele cerrou os lábios como se tentasse impedir que algo mais escapasse. Tive medo do tanto de palavrões que seria capaz de me dizer naquele momento.
– Claro. Eu nunca sei.
Não foi possível. Realmente não consegui segurar a lágrima que escapou. Eu estava ferida não havia como negar. Mas me contive tentando ser forte e não desviei meus olhos dos dele. Por isso pude ver o que se passava em seu semblante.
Sua mão tocou meu rosto recolhendo a lágrima que tinha caído, e afagou a minha pele. Era o que faltava para me desarmar. Desabei, Chorei copiosamente na presença dele.
– Hey! Não. Isabella?
Eu já estava chorando e, como sempre acontecia, não conseguiria parar tão cedo. Fiquei surpresa quando ele me envolveu em seus braços e me puxou para seu peito, afagando meus cabelos e minhas costas.
– Calma! – Seu rosto estava muito próximo do meu.
Eu podia sentir o sabor do seu hálito. Era bom. Muito bom! Gosto de menta misturado com algo cítrico. Colava em minha língua como se sua própria língua estivesse me passando este sabor.
– Não posso acreditar que fracassei. Eu deixei de lado tudo em minha vida para atingir meu objetivo e agora o que tenho? Nada. Sou uma nerd insignificante que nunca despertou interesse de ninguém e se esconde atrás de livros e fantasias. É isso o que sou. – Ele riu baixinho.
– Não pense assim – sussurrou em meus cabelos. – Você é uma nerd sim, mas uma nerd linda!
Levantei a cabeça novamente surpresa com as palavras do meu professor.
– Você é linda Isabella!
A intensidade das suas palavras e a forma como ele mantinha suas mãos em mim, uma em meu rosto, com seus dedos alcançando a minha nuca, e a outra em minhas costas, tomando-a completamente para si, fizeram com que eu fizesse o que nunca acreditei que seria capaz de fazer.
Antes que qualquer pensamento pudesse me frear, meus lábios já estavam nos dele. Apenas o primeiro contato foi o suficiente para mandar uma descarga elétrica em meu corpo digna de uma tempestade. Eu nunca tinha beijado antes. Nem um selinho. Nada. Mas os lábios do meu professor eram tão macios que me davam a sensação de “lugar comum”.
Foi apenas um segundo suspenso no ar enquanto nossos lábios se encostavam. Um único segundo antes que a tempestade caísse descarregando em nós dois, toda sua eletricidade. Não tive tempo nem de pensar no que fazer. Seus lábios se movimentaram nos meus. Suaves e exigentes. Sugando. Experimentando. Logo depois um conjunto de ações quase me fez perder o equilíbrio.
Sua língua abriu passagem e cobrou da minha um pouco mais. Não foi uma tarefa difícil, devo deixar claro. Minha língua parecia ter vontade própria e experimentar o sabor da dele era algo desejado muito antes de eu ter consciência disso. Nosso beijo ficou mais intenso.
No mesmo instante suas mãos correram meu corpo. A que antes estava em minhas costas para me amparar, me explorava com paixão, colando meu corpo ao dele, enquanto a que estava em meu rosto, prendia seus lábios nos meus.
Mas “tudo o que é bom dura pouco”. Esta é a lei da vida.
O professor Cullen se afastou e deu alguns passos para trás, ofegante. Ele estava confuso e eu embasbacada com tantas sensações diferentes. Tinha sido bom? Não. Tinha sido perfeito.
– Desculpe-me! – Ele não me olhava. – Isso não... Desculpe Isabella! Eu não tinha este direito.
Não conseguia encontrar uma palavra que pudesse expressar o que queria dizer. Meu corpo gritava: “O que? Deixe para se desculpar amanhã e venha aqui terminar o que começou”. Porém minha mente me alertava que eu havia ultrapassado um limite importante e que por causa disso tudo poderia piorar em minha vida.
– Tudo bem – foi só o que consegui dizer.
– Não. Não está tudo bem. Isso não deveria estar acontecendo...
Eu não queria ouvir o que ele me diria. Não queria quebrar o encanto da sensação que agora formigava em meu corpo. Além do mais, já sabia o que ele iria me dizer e com certeza não seria de utilidade. Minha única vontade era: escrever. Com propriedade. Com conhecimento de causa. Eu queria escrever sobre o primeiro beijo entre os meus personagens.
Por isso preferi pegar a minha bolsa e fugir. Que se dane o que ele fosse pensar. Apenas não podia perder aquele sentimento. Precisava transcrevê-lo.
Corri para casa.
Rose estava sentada no sofá com dois livros abertos e um caderno no colo. Minha pressa chamou a sua atenção.
– Onde é o incêndio? – Gritou ao me ver passar correndo para o meu quarto. Não respondi. – Bella é sério. Aconteceu alguma coisa? Comeu alguma comida estragada?
Sentei em minha cama puxando o notebook. Abri, digitei a senha, conectei o pen drive, achei o arquivo e procurei a página certa.
– O que aconteceu? – Rose já estava em minha porta. – Você está com uma cara ótima, apesar dos olhos vermelhos. Andou chorando ou fumando maconha?
– Não uso drogas Rose – revirei os olhos.
– Ok. Então estava chorando. O que aconteceu?
– Estou em um momento mega hiper criativo.
– Ah! Ok! Momento criativo “hot”, ou momento criativo “dawn”?
Que doida! Tive que rir. Minha amiga era a melhor de todas as amigas que poderia encontrar, no entanto não podia contar que beijei o professor delícia dos seus sonhos. Seria uma traição imperdoável. Foi apenas um beijo, nada mais. Ela não precisava saber disso.
– Jake ligou – ela aguardou alguma reação. Eu queria apenas escrever. – Disse que não vem hoje – balancei a cabeça concordando.
– Ok! Vou deixá-la sozinha. Já vi que suas palavras estão para o papel e não para os ouvidos.
– Para o pen drive, para ser mais exata – ela riu e saiu fechando a porta.
Escrevi.
O tempo passou e eu ainda escrevia. Em poucas horas eu havia modificado os dois primeiros capítulos do meu romance. E tudo por causa de um beijo. Então esta era a chave. O professor Cullen tinha razão. Eu precisava viver os momentos apenas imaginá-los não era o suficiente.
Só que o tempo corria contra mim. Se eu queria conseguir me formar, além de provar ao arrogante do meu professor que era capaz de escrever algo erótico, precisava correr. E foi o que fiz. Mas não naquele dia. Escrever esgotava as minhas forças. Meu corpo implorava por descanso e minha mente por mais momentos de sonhos com aquele beijo.
Enviei o e-mail para que ele pudesse reavaliar os meus capítulos e me deitei. No dia seguinte teríamos aula. Precisava recobrar as minhas energias para mais uma batalha.
O sol da Califórnia não parecia mais me incomodar. Aquela manhã tinha um sabor especial. Pela primeira vez em toda a minha vida eu tinha certeza de ter feito a coisa certa. A forma como descrevi o primeiro beijo entre Melissa e Robert, meus personagens principais, estava não apenas bem escrita, mas fantástica.
Encontrei o professor Cullen na entrada da sala. Ele estava conversando com a professora Denali. Pareciam mais íntimos do que o necessário e este fato o incomodava. Eu podia perceber.
Alguns alunos conversavam ainda do lado de fora sem se importar com os dois, mas quando me aproximei nossos olhos se encontraram. Havia algo mais em seu olhar. Fiquei ansiosa. Será que ele não tinha gostado do que eu escrevi?
– Bom dia! – Sua voz baixa e um pouco rouca, porém suave, me surpreendeu.
– Bom dia professor Cullen – analisei suas feições. Ele não deixava transparecer nada.
– Vou atender todos os alunos no pátio. Quero conversar individualmente com cada um deles – a professora Denali ainda estava lá, porém não prestava muita atenção em mim.
– Ah, tudo bem!
Fui direto para o pátio. Alguns alunos já se encontravam lá. Quando o professor Cullen chegou, sem me olhar novamente, sentou em uma mesa afastada e, com uma lista nas mãos foi chamando cada aluno que ele orientava. Eu sabia que iria demorar até chegar a minha vez, então coloquei os fones e fiquei ouvindo música. Foi Leah quem me chamou avisando que meu nome já tinha sido chamado três vezes.
Droga! Viajei completamente. Tirei os fones e fui sentar à frente do professor. Ele me sondou por alguns instantes.
– Como está se sentindo? – Cautela era o seu segundo nome.
– Ótima! – Ele fez uma careta e baixou os olhos para o papel a sua frente. Reconheci meu texto.
– Você refez os dois primeiros capítulos – sua cabeça estava encostada em sua mão, que a sustentava.
– Sim.
Ele suspirou pesadamente. Seus olhos correram o pátio. Fiz o mesmo. Os poucos alunos que faltavam estavam espalhados. Ninguém prestava atenção em nós dois.
– Pode dizer professor. Eu aguento. Você não gostou não é? – O desânimo me abateu. Eu nunca conseguiria ser aprovada por ele.
– Na verdade... Está muito bom – mais uma vez seus olhos buscavam por algo em mim. Sorri largamente para ele. Completamente aliviada.
– Caramba! Essa foi uma injeção de ânimo.
– Você refez os capítulos ontem? Depois... – mais uma vez ele olhou para o pátio com medo de testemunhas.
– Sim professor. Acho que descobri a fórmula.
– Ah Isabella não! – Novamente a careta de desaprovação. – Isabella...
– Não se preocupe professor. Eu entendi.
– Não, você não entendeu.
– Entendi. O senhor estava com a razão. Realmente preciso de experiências. Preciso sentir o que meus personagens sentem para poder entender como funciona. Viu? Eu o beijei ontem e olha só o que aconteceu... Escrevi como deveria ser escrito. Era isso o que faltava.
– Não repita isso e, pelo amor de Deus, não... não conte a ninguém. Foi um momento ruim. Um erro Isabella.
Senti-me magoada. Claro que eu não esperava que ele me mandasse flores no dia seguinte nem que me pedisse em casamento por causa de um beijo, mas deixar explícito o quanto estava arrependido, abria uma ferida imensa em meu peito.
– Pode ter sido um erro, mas este erro me ajudou e muito. Não se preocupe professor, nunca vou contar nada a ninguém. Na verdade eu só posso agradecer por ter aberto os meus olhos. A única coisa que importa agora é que meu texto está no caminho certo. Você o aprovou não foi?
– Esta parte sim, mas existe muito mais do que um primeiro beijo Isabella e tenho medo de do que fará para escrever o que virá depois.
– Vou apenas escrever professor. Posso ir?
Ele suspirou pesadamente.
– Não faça nenhuma besteira. Eu me sinto péssimo pelo que fiz – forcei um sorriso amistoso.
– Quando o meu livro estiver pronto e for aprovado, vamos rir muito disso tudo.
Peguei a minha bolsa e fui embora. Não parei para olhar para o meu professor. Sabia que a repulsa em seu olhar me faria desistir do que tinha em mente. Ele podia não concordar, mas aquele beijo abriu a porta para o que eu precisava. Eu preciso seguir adiante.
– Bella – ouvi a voz de meu amigo me chamando e parei contra a minha vontade. Eu teria que correr contra o tempo e só Rose poderia me ajudar. – Oi.
– Oi Jake! Não apareceu para o jantar ontem. Que milagre!
– Até parece que vocês sentiram a minha falta. Rose reclama todos os dias da minha presença.
– Rose não se importa que você detone a nossa dispensa. Só se diverte pegando no seu pé.
– Sei.
– O que fez ontem? - Continuei caminhando em direção ao meu carro. Era sábado e não teria que perder o meu tempo com outras aulas. Tinha que me apressar para encontrar Rose em casa.
– Saí com uma gata – ele parecia animado.
– Sério? E como foi? O que vocês fizeram?
– Desde quando você se interessa pelos detalhes? Está me usando como laboratório para mais um de seus personagens?
– Digamos que estou colhendo informações para um novo projeto – ele riu e revirou os olhos. – Quer carona? Estou indo para casa.
– Não. Mas a encontro lá.
– Ótimo! Preciso que me dê algumas informações.
Não foi complicado contar a Rose o que aconteceu. Claro que omiti a parte do beijo, mas contei a ela que ele havia dito que sem as experiências eu não conseguiria escrever. Ela fez cara feia para o que o professor Cullen disse, no entanto concordava com ele que já tinha passado da hora de deixar as coisas acontecerem. Jake apenas achou tudo muito engraçado e não se importou em me dizer sobre o que excitava e o que não excitava um homem e como eu deveria agir para chamar a atenção de um cara.
Combinamos de sair naquele noite em busca das minhas primeiras experiências. Rose já havia marcado um encontro com um paquerinha novo, então fomos todos a uma boate muito bem frequentada que estava ganhando muito a atenção dos jovens.
Rose me arranjou um vestido colado ao corpo, que me deixou mais do que envergonhada. Era tão diferente dos meus jeans largos. Não parecia nada comigo. Os saltos foram um espetáculo à parte. Treinei quase a tarde toda e a noite meus pés doíam mais do que pandeiro depois do ensaio e eu ainda teria que aguentá-los por mais algumas horas. Rose e Jake concordaram que saltos altos davam um “que” a mais à mulher.
Deixei que Rose escovasse meus cabelos e brincasse de Barbie comigo. No final, fiquei espantada com a imagem refletida no espelho. Era eu, mas não parecia em nada comigo.
Na boate, o som alto e as pessoas aglomeradas na pista quase me fizeram desistir. Então Jake me convenceu de que se queria adquirir experiência, aquele era o local ideal. Ele só não sabia que eu pretendia muito mais. Se conseguisse ficar com alguém, não perderia tempo. Por isso aceitei a marguerita que Rose me ofereceu tão logo chegamos. Era forte, porém ideal para me ajudar com minha timidez.
Não bebi apenas esta. Bebi todas as que Rose e Jake me ofereceram. À medida que ia bebendo sentia meu corpo relaxar. Era ótimo! Se conseguisse ir até o final do meu plano, estar relaxada seria fundamental.
A música tocava, as pessoas dançavam e eu deixava que meu corpo acompanhasse cada movimento.
– Você está ótima! Tem uma porção de carinhas de olho – Jake falou em meu ouvido.
– Onde está Rose?
– Nos fundos com o carinha novo – ele riu. – Vou dar uma volta. Você vai ficar bem?
Fiz que sim com a cabeça. Jake com certeza já estava de olho em alguém. Meu amigo estava com os hormônios a todo vapor e não seria eu a atrapalhá-lo. Continuei dançando.
Não sei dizer o quanto a bebida contribuiu estava achando tudo quente e divertido. Dois rapazes, lindos, apesar de não poder analisar com muita precisão, já que meus olhos me traíam, estavam colados em mim. Eu dancei com eles permitindo que a música ditasse nossos passos.
– Você é quente – um sussurrou em meu ouvido. Gostei de ouvir isso. Se eu era quente era desejável. E, se era desejável, poderia colocar meu plano em prática.
– Sim ela é – o outro falou passando as mãos pelas laterais do meu corpo. Não foi como as mãos do professor Cullen, mas eram mãos de homem e isso já era o suficiente.
– Por que não sobe e faz um showzinho?
Antes que eu pudesse responder fui levantada e colocada sobre o balcão do bar. As pessoas gritaram exigindo que eu dançasse. Era engraçado. As luzes piscavam e um som oco me impedia de ouvir direito. Tudo estava fosco. Mesmo assim dancei. Os gritos aumentavam.
– Tira a roupa – alguém gritou. Dei risada.
– É, tira a roupa gostosa – uau! Isso foi mais do que já consegui até hoje de alguém. O máximo que já tinham dito era que eu era muito bonita e isso foi só um dia antes. Até então eram apenas elogios a minha inteligência e capacidade.
– Você está enlouqueceu de vez?
Alguém me agarrou com força me puxando do balcão. Suas mãos fortes seguravam em meus braços. Eu não conseguia reagir. Droga! Estava bêbada demais para fazer qualquer coisa.
– Perdeu o juízo Isabella? Meu Deus! – reconheci aquela voz aveludada. Era severa e sensual ao mesmo tempo. Era o professor Cullen.
Ele me puxou passando pelas pessoas até que chegamos num local mais vazio. Era possível respirar com mais facilidade.
– Uma água, por favor!
– O que você está fazendo aqui?
– Aparentemente estou livrando-a de uma ressaca terrível e de lembranças que só estragariam a sua vida.
– Oh! O príncipe encantado – dei risada.
– Você não sabe o que está falando. Está sozinha? O que estava pensando em fazer?
– Uma pergunta de cada vez, professor. Não estou em meu melhor momento – ri mais uma vez.
– Estou vendo. Tome. Beba.
– Tem álcool?
– Claro que não!
– Não tem graça – dei a língua para ele e depois desatei a rir.
– Você ia tirar a roupa? O que está passando em sua cabeça Isabella? Perdeu o juízo?
– Vou perder a virgindade queira você entender ou não – o encarei notando que meus olhos voltavam a enxergar melhor. Talvez a raiva ajudasse a dissipar o álcool.
– Que absurdo!
– Vá à merda!
– O que?
– Vá à merda! Não estou na faculdade. Não tenho que respeitá-lo. Saia do meu caminho tenho coisas a fazer – tentei caminhar, meus saltos me traíram e eu despenquei em seus braços.
– Você não vai voltar lá para terminar o seu showzinho.
– Quem vai me impedir? Você?
– Bella? - Rose se aproximou encarando o professor Cullen. – O que está acontecendo?
– Rosalie. Eu deveria imaginar – ele disse em desagrado. – Isabella está bêbada. Estava fazendo um espetáculo. Se não fosse eu para impedi-la...
Rose ficou visivelmente sem graça pela reprimenda do professor.
– Você está bem?
– Não – ele respondeu por mim. – Leve-a para casa.
– Não preciso de um pai – o desafiei. – E posso voltar para casa sozinha.
– Não pode. Rosalie, leve Isabella para casa.
– Tudo bem – ela resmungou em desagrado. – Só preciso... – olhou para trás e eu já sabia do que se tratava. Rose tinha outros planos. Eu não queria estragar a sua noite.
– Não precisa Rose. Eu pego um taxi.
– Você não vai voltar sozinha para casa – ele rosnou me fazendo tremer.
– Não sou obrigada a cumprir suas ordens.
– Eu vou Bella. Só preciso de um minuto.
– Não Rose. Eu vou sozinha – me apressei a caminhar prestando mais atenção aos meus saltos.
– Droga! – O ouvi praguejar atrás de mim. – Você é um problema Isabella.
– É só ficar longe.
– Vamos. Não vou deixar que você vá de taxi neste estado. Vou levá-la para casa já que sua amiga prefere ficar com o namorado.
– Você não sabe nada sobre Rose. Não fale assim dela.
– Não falo dela de forma alguma – ele segurava em meu braço, como se conduzisse uma pessoa incapaz, enquanto andava em direção ao seu carro. – Este não é o meu papel. Além do mais, é um problema seu.
– Isso. É um problema meu. E você não vai para o inferno se me deixar sozinha. Não precisa bancar o bom moço.
– Pode calar a boca um minuto?
– O que?
Ele abriu a porta do carro me fazendo entrar. Sentei contra a minha vontade e ele entrou rapidamente do lado do motorista. Olhou para mim e suspirou com impaciência para logo depois se debruçar sobre mim e prender o meu cinto de segurança. Seus dedos longos roçaram a pele do meu braço me deixando arrepiada. Nossos olhos se encontraram neste momento. Percebi o medo que passava pelos dele.
Ele ligou o carro e seguimos em silêncio. Até certo ponto.
– Você me deixa confuso, Isabella. Não dormi direito e hoje não consegui me concentrar em nada me culpando por a merda que falei. Parece que despertei um monstro em você obrigando-a cometer todos estes absurdos.
– Eu o absolvo de todos os seus pecados, mas, pelo amor de Deus, me deixe cometer os meus – ele riu sem vontade.
– Sabe o que está desejando?
– Sei.
– Não sabe nada. Perder a virgindade não é como nos contos de fadas onde a mocinha sente apenas o prazer do momento. É simplesmente uma merda. Você não vai sentir nada além de dor e incomodo. Não vai ter prazer e o cara que conseguir isso de você, provavelmente não vai querer uma segunda rodada simplesmente porque não existe vinculo entre vocês. Não vai existir carinho, amizade, compreensão, nada. É isso o que quer? Um idiota qualquer se satisfazendo em você? Foi para isso que esperou tanto tempo?
Minha coragem ia diminuindo à medida que suas palavras me atingiam.
– A primeira vez vai doer e muito provavelmente a segunda também, em algum momento as coisas começarão a acontecer...
– Não é disso o que você precisa – ele gritou. – Deixe de ser tão idiota. Será que não percebe o mal que vai causar a si mesma?
– Foi você quem disse que eu precisava – gritei em resposta me sentindo completamente humilhada. As lágrimas rolavam em meu rosto sem nenhum impedimento.
– Eu não disse – ele gritou outra vez.
– Só depois daquele beijo eu consegui escrever da forma que você acredita ser a melhor para o meu livro.
– Eu estava errado.
– Não estava.
– Merda! – ele bateu com força no volante e eu me assustei. Nunca tinha visto o professor Cullen descontrolado. Parou o carro no acostamento. Percebi que não íamos para lugar nenhum, apenas dávamos voltas aleatórias. Ele respirou fundo enquanto tentava controlar suas emoções
– Tudo bem, eu estava certo, Isabella, mas isso não deve ser motivo para você sair por aí dando pra todo mundo, ok? É burrice. Você precisa de muito mais do que um imbecil lhe comendo. Precisa aprender a ciência da coisa. Vai muito além do ato em si. Aliás, o ato não é grande coisa sem o antes e o depois. É aí que está a diferença.
– A diferença entre você e os carinhas que eu poderia arrumar naquela boate.
Era para ser uma pergunta, mas a certeza que eu tinha de que era isso o que ele queria me dizer era tão grande que as palavras saíram de minha boca como uma afirmação.
– Eu não disse isso – ele se defendeu.
– Mas foi o que quis dizer.
Ele me encarou com seus olhos cinza penetrantes. Eram absurdamente intensos.
– Isso é errado, Isabella – ele gemeu.
– Mas se você não me ensinar não terei como aprender, ou então vou correr o risco de me aventurar com qualquer outra pessoa que esteja disposta a me ajudar.
Que loucura eu estava dizendo? Estava propondo a ele que tirasse a minha virgindade? Propondo ao professor Cullen que me ensinasse a arte do amor? Meu Deus! Eu estava mesmo muito bêbada.
– Não vai mesmo desistir, não é?
– Não – mantive meus olhos firmes nos dele. Era o que eu queria? Sim. Definitivamente era tudo o que eu queria.
O professor Cullen deu partida no carro e voltamos a nos movimentar. Ele estava sério, olhando para frente num debate interno e conflituoso.
– Para onde está me levando?
– Para a minha casa.
Um milhão de borboletas levantaram voo em meu estômago causando formigamento em meu ventre.

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