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CAPÍTULO I
Vinte dias
antes
- Vem, Cléo. Vamos cantar.
Jessye me gritava ao lado do aparelho de
karaokê. Eu apenas balancei a cabeça negando, encostada ao balcão do bar, que
ainda estava sendo organizado para atender aos seus clientes, enquanto
bebericava meu suco de laranja artificial.
- Não tem a menor graça sem você. Sua voz é
a mais bonita – revirei os olhos e dei as costas as minhas amigas reafirmando a
minha falta de vontade em colaborar com o divertimento delas.
Meu nome é Cléo, tenho 25 anos, sou
colunista de um jornal e escrevo sobre vida e sentimentos. Formada em
jornalismo, especializei-me em literatura. Escrever sempre foi um grande sonho.
Saí da faculdade já empregada, o que se tornou muito importante para a minha
independência financeira. Tive a sorte de ver os artigos que escrevia caírem no
gosto da população norte-americana.
Sou brasileira, mas moro na América do
Norte há sete anos, quando fui aceita em uma das melhores faculdades da
Califórnia. Desde então, os Estados Unidos da América tem sido o meu lar. Ainda
me sinto triste por ter aceitado morar tão longe da família, ou da minha terra
natal, que tanto amo, porém o fato é que aqui estou, e sem nenhuma previsão de
voltar.
Eu estou noiva, aliás, foi por causa deste
relacionamento que larguei tudo em busca de uma vida nova ao lado de Jonathan. Até
hoje me pergunto como ele conseguiu me convencer. John também é brasileiro e
temos a mesma idade. É economista. Recentemente conseguiu um emprego numa
grande empresa, o que para ele é motivo de orgulho. Claro que compartilho este
sentimento, mas...
Nós começamos a namorar quando tínhamos 15
anos. Sim. São dez anos de relacionamento. John foi meu primeiro namorado,
primeiro amor, primeiro tudo. Assim como eu fui para ele. Primeiro e único...
Até agora... bem, era do meu noivo o sonho de morar nos Estados Unidos, eu
apenas o segui.
Fui parar em Las Vegas, a cidade do pecado, com minhas três melhores amigas: Jessye, Sandy e
Hilary. Nós nos conhecemos na universidade. Jessye e Hilary também são
jornalistas, embora tenhamos estudado em anos diferentes, Sandy, no entanto, é
dentista. Sandy e Jessye são amigas desde a infância, por isso tornamo-nos
amigas também.
Jessye é uma espécie de super irmã. Fala
muito, é bastante divertida e extrovertida ao extremo. Ela é quem sempre
consegue nos convencer a cometer loucuras como esta viagem a Las Vegas. É alta,
magra, cabelo ruivo e olhos verdes. Uma combinação perfeita para um rosto tão
bem desenhado. Poderia se dar bem como modelo, mas apesar de satisfeita por ser
bonita, minha amiga gosta de ser jornalista, mesmo sendo apenas a garota do
tempo de um jornal diário, e estando ciente de que não conseguiu o emprego pela
sua capacidade profissional e sim pela beleza que exibia em frente às câmeras.
Sandy é totalmente o oposto de Jessye. É
tímida, meiga, romântica. Fala pouco, mas topa todas as loucuras da nossa amiga,
acho que esta é a forma que encontra de reafirmar a sua amizade. Ela é algo
gostoso de se ver, quer dizer... Não é alta nem baixinha, possui cabelos
castanhos, lisos, pesados, que seguem em linha reta até a altura dos ombros, e
ganham movimento próprio a qualquer gesto. Seu rosto é fino com um queixo bem
desenhado. Os olhos possuem o mesmo tom dos cabelos: castanhos escuros. Sua
fisionomia dizia exatamente o que ela era: uma romântica.
Hilary é a que mais se parece comigo. Não
somos muito de extrapolar, mas também não somos tímidas. Racionais, porém
algumas vezes nos deixamos levar pelas emoções. Acreditamos no amor, contudo
achamos que respeito e amizade estão acima desse sentimento.
Hilary é loira, tem olhos azuis e é dona de
um corpo incrível. No entanto, nunca está satisfeita com ela mesma, como com o
nariz, por exemplo, que já operou duas vezes desde que a conheço. Além do
silicone e da “lipo”. Somado a tudo isso, malha de maneira obsessiva.
Entretanto, é uma pessoa incrível.
Você deve estar se perguntando o que estavamos fazendo em Las Vegas. A história é longa, mas a verdade
é que após dez anos de relacionamento, e três deste morando sob o mesmo teto,
eu e John resolvemos oficializar a nossa união. Um pouco por pressão minha,
admito.
Aqui nos Estados Unidos, morar junto não
caracteriza casamento, dessa forma, éramos apenas noivos que dividiam um
apartamento. Eu queria ser casada. Com direito a vestido de noiva e tudo o
mais.
John aceitou oficializar a nossa união, com
uma condição: passaríamos um mês separados. Separados mesmo. Não nos
falaríamos, nem nos veríamos. Não existiria o relacionamento, a fidelidade, o
companheirismo. Simplesmente seríamos solteiros novamente por um mês.
Motivo? Ele acreditava que, apesar da certeza do amor que sentia por mim,
não tínhamos vivido outras experiências. Sempre tinha sido apenas nós dois, o
tempo inteiro, e isso, de acordo com os pensamentos dele, não era saudável para
um relacionamento.
Eu
nunca senti falta de outras experiências. Ele tinha sido o suficiente para mim,
no entanto essa foi a condição para casarmos, e após uma semana chorando e
outra tentando ser o mais racional possível, decidi aceitar.
Lógico que minhas amigas não concordaram
com a minha decisão. Aliás, elas acharam um absurdo. E é por este motivo que fomos para em Las Vegas.
Elas acreditam que se ele teria direito a um mês curtindo e adquirindo novas
experiências, eu também deveria ter.
E a minha opinião? Apenas queria poder me
trancar no quarto e dormir o mês inteiro até tudo voltar ao normal, mas é claro
que elas não permitiriam que isso acontecesse.
No dia seguinte a minha decisão de aceitar
sua proposta, John saiu de casa. Foi morar com um amigo. O mesmo que conseguia
arrastá-lo para as baladas, o que sempre culminava em brigas e desentendimentos
entre nós dois. Acredito que esse rapaz tenha sido o grande idealizador desta
separação temporária.
Eu, como não podia deixar de ser, fiquei
trancada em casa, chorando por dias, e assim escrevi o artigo mais deprimente
de todos os que já havia escrito. Ironicamente ele foi o mais elogiado. As
pessoas gostam de ler sobre sofrimento, principalmente se for amoroso. Grande
constatação. Ainda bem, porque tenho certeza de que escreverei assim por um
longo tempo.
Após três dias, a primeira notícia chegou:
meu noivo foi avistado em um bar, acompanhado por uma loira. Era “uma
qualquer”, como me disseram, mas dentro de mim, havia a certeza de que não.
John gostava de beleza, eu era a sua maior prova.
Com meus 1,70 de altura, conseguia me
manter firme na dieta, sim, porque aqui, dieta é sempre um grande sacrifício. Só
assim me firmava em meus 65 kg muito bem distribuídos. Meus cabelos negros
permaneciam longos desde meus 10 anos. John adorava cabelos compridos, daí a
minha decisão em mantê-los assim. Mas o que mais gosto em mim são os meus
grandes olhos verde-esmeralda. Eles são realmente lindos!
Não preciso descrever como me doeu receber
aquela notícia, contudo eu havia concordado que deveríamos adquirir novas
experiências, e ele sair com outra mulher contava como nova experiência, então
eu teria que aguentar. Assim, após muitas lágrimas, minhas amigas conseguiram
me convencer a embarcar naquela viagem maluca.
Chegamos a Las Vegas um dia antes do
episódio do Karaokê. Ansiosas e sedentas por divertimento, logo nos aventuramos
em um cassino. Confesso que adorei! Dei muita risada, ganhei algum dinheiro,
porém perdi muito mais. Tudo bem! Estava apenas gastando um pouco do que tinha
economizado para o meu casamento.
Las Vegas nunca dorme e você sempre tem o
que fazer durante o dia inteiro, a qualquer horário. É só escolher. Então
entramos em mais um hotel cassino com o objetivo de conhecermos todos os
cassinos importantes da cidade, como boas turistas que éramos. Só que este não era
o nosso único interesse, também queríamos conhecer os leões que ficavam
expostos no local e que era uma beleza de atração. Depois fomos nos aventurar
nas máquinas alucinantes que lhe estimula a gastar cada vez mais.
Gastamos nosso tempo absorvendo o máximo
possível da cidade para o primeiro dia. Quando anoiteceu estávamos exaustas,
mesmo assim, trocamos de roupas e voltamos para a Strip em busca de mais
aventuras. E encontramos.
Eu e Hilary nos arriscamos em uma montanha
russa, que ficava dentro do hotel e se projetava para o lado de fora. Sandy e
Jessye não tiveram coragem de nos acompanhar. Foi muito divertido apesar de
bastante enjoativo para quem já tinha bebido um pouco além do que estava
acostumada.
Las Vegas é quente. Sufocantemente quente.
Mesmo com o ar-condicionado potente dentro dos cassinos, era possível sentir o
calor do lado de fora. O que nos forçava a beber. Muito.
Quando estávamos voltando para o hotel,
após várias bebidas que nos deixaram cambaleantes e muito mais alegres do que
realmente estávamos, vimos uma pequena loja, com letreiro em neon que indicava “Madame
Madeleine”. A ideia partiu de Jessye, como não poderia deixar de ser. Entramos,
já achando tudo muito engraçado. Fomos atendidos por um rapaz magro, careca e muito
alto, que vestia roupa larga branca e que nos tratou com polidez.
Ele nos encaminhou para uma sala reservada
onde logo fomos atendidas pela tal “Madame”, fantasiada com uma túnica púrpura
brilhante, um gorro da mesma cor e sua “bola de cristal”. Enquanto ela se
concentrava, nós nos olhávamos divertidas.
- Vejo lágrimas e tristeza – senti um
pequeno aperto no peito, mas logo entendi que mulheres procurando por
clarividência sempre seriam uma presa fácil. O que mais ela poderia pensar? –
Não se atormente menina – a “Madame” abriu os olhos me encarando. Fiquei
aflita. Não tinha mais dúvidas de que ela falava diretamente para mim. – Vejo
também um casamento em seu futuro, algo para muito em breve, e também muita
felicidade.
Foi impossível evitar o sorriso que
consegui demonstrar e o alívio que senti. Mesmo sabendo que tudo não passava de
charlatanismo, fiquei esperançosa. Afinal, eu realmente queria um casamento e
desejava desesperadamente a minha felicidade de volta.
Fiquei tão eufórica com as suas palavras que
não consegui mais prestar atenção ao que ela dizia se reportando as minhas
amigas. Permaneci perdida em pensamentos, imaginando como seria quando tudo
acabasse. Restavam apenas vinte dias para o término do prazo e então eu poderia
ter John de volta, da forma como almejei: casada e feliz.
Voltei para o Hotel, envolvida pelos
pensamentos. Antes de dormir ainda pensava “só mais dezenove dias e então: casamento
e felicidade”. Eu tinha concordado em encarar tudo como uma despedida de solteiro
estendida, por isso precisava me animar para curtir os longos setes dias ao
lado das minhas amigas.
Mal sabia o que me aguardava.
CAPÍTULO II
Dezenove
dias antes
- Hey! Spice
Girl? Estamos aguardando por você – Hilary chamou através do microfone.
Tive que rir.
- Cantem vocês. Estou cansada – já estava
praticamente cedendo. Elas iriam cantar a nossa música, Spice up your life, eu não poderia perder.
- Cléo! – Sandy me chamou, piscando seus
olhinhos brilhantes que sempre me convenciam a fazer a sua vontade.
Dei risada e fui até elas, deixando a
caixinha de suco no balcão. Devo admitir que era muito divertido quando
brincávamos daquela forma. Não cantávamos nada. Éramos desafinadas e muitas
vezes perdíamos o tom, mas dávamos muitas risadas. Foi assim desta vez também.
Sem público, sem plateia, mas com muita vontade de rir.
Só quando terminamos percebemos a presença
deles. Quatro rapazes lindos, à primeira vista, moviam-se em nossa direção com
passos decididos de quem sabia que era notado. Jessye foi a primeira a
percebê-los.
- Hum! Quatro por quatro. O que acham? –
olhei para trás curiosa e então o avistei.
Alto, forte, mas não muito, cabelos negros,
cortados no maior estilo Top Gun,
jogados para o lado e levemente repicados. Seu jeans estava justo ao corpo, o
que o valorizava. Havia algo nele que transmitia segurança, talvez a forma como
andava ou olhava, o fato era que ele parecia o tipo de homem que sabe o que
quer e não hesita em fazer tudo para conseguir. Era sexy! Eu não podia negar.
Seus olhos me fulminaram. Fiquei perdida
neles até perceber o que estava fazendo, então desviei o olhar sentindo-me
ridícula.
Os amigos que o acompanhavam não ficavam
para trás. Um era loiro e forte, bem forte. O outro era loiro também, mas num
tom mais claro do que o primeiro, pele bronzeada, corpo magro, mas definido, eu
supus, ao avaliar pela roupa. O terceiro possuía cabelos castanhos, corpo
normal, nem magro nem gordo, nem forte nem frágil. Fazia o tipo habitual.
- Oi – o loiro forte falou deixando claro a
sua intenção em relação ao nosso grupo. Ele era o típico galanteador. – Podemos
cantar também? – seu sorriso era muito bonito, e ele sabia disso. Ah, sim!
Apenas confirmou que fazia o gênero “conquistador”. Exatamente como Jessye
gostava.
- Claro! – a própria Jessye respondeu
retribuindo ao sorriso dele. Eu sabia que ela daria um jeito de ficar com o
cara. Isso não me agradava muito, por isso me afastei do grupo e voltei ao
balcão.
Sandy me acompanhou. Ela era tímida demais
para se expor daquela forma. Apenas sorrimos uma para outra. Conhecíamo-nos
muito bem para entender que não queríamos participar daquela conversa. Estava
cansada e enjoada para entrar em uma luta com Jessye pelo fato de não estar
interessada em conhecer pessoas novas. Ela não entendia. Eu queria apenas
passar o meu tempo enquanto John não voltava para casa.
Jessye e Hilary ficaram ao lado dos rapazes enquanto cantavam. Fred
Mercury, boa escolha! Fiquei observando o quanto eles eram harmoniosos. Fato
que nos mostrava o quanto éramos terríveis como cantoras. O de cabelos pretos
possuía uma voz linda, apesar de não estar muito animado para cantar.
Identifiquei algo de muito familiar nele.
- Ele parece triste – Sandy se expressou ao
meu lado ao perceber o quanto eu olhava o rapaz. Ela tinha dito as palavras que
estavam em minha mente.
- É.
- Jessye não vai permitir que nos livremos
deles – olhei-a pelo canto dos olhos e vi o seu sorriso de satisfação. Apenas
eu não estava no clima das minhas amigas.
- Você não quer?
- E você?
Voltei a olhar para o rapaz de cabelos
negros. Ele era lindo! Como se tivesse ouvido os meus pensamentos, virou em
minha direção e nossos olhos voltaram a se encontrar. Um misto de agonia e
ansiedade brincava em meu estômago. Senti o ar preso nos pulmões. Era uma
reação um tanto quanto incomoda, então desviei os olhos voltando a atenção para
a minha amiga.
- Eu não concordei em vir com vocês para
conhecer rapazes. Vou me casar com John. Ele é suficiente para mim – reafirmei
os argumentos utilizados para justificar a minha aceitação em viajar com elas.
Não seriam os olhos intensos daquele rapaz que me fariam desistir dos meus
objetivos.
- Eu sei. Mas ele é lindo. E esta é a sua
despedida de solteira estendida...
- Não, Sandy!
- Não estou te pedindo para casar com ele –
apontou para o rapaz de cabelos negros que ainda me olhava. Quase morri de
vergonha. - Mas a ideia era que vocês tivessem novas experiências. John já está
tendo as dele – encolhi-me com as lembranças. – Já era para você começar a
adquirir as suas.
- Não vou sair me agarrando com todos os
homens que aparecerem na minha frente só porque preciso de novas experiências,
que, aliás, eu nem acredito que preciso. Apenas concordei em deixar com que
John tivesse as experiências que desejasse. Só por este mês – senti meu peito
apertado. Era como normalmente me sentia ao lembrar das coisas que meu noivo
andava fazendo.
- Tudo bem! Mas que ele é um gato, isso lá
é. E definitivamente, possui uma bunda linda! – olhei admirada para a minha
amiga que estava vermelha pelas suas próprias palavras. Gargalhamos juntas. Ele
realmente possuía uma linda bunda.
Assistimos aos seis cantando mais duas
músicas, cada vez mais entrosados e empolgados, para finalmente desistirem e
começarem a conversar animadamente. Aproximaram-se de nós duas sem interromper
a conversa. Jessye estava mesmo decidida a ficar com o carinha loiro e forte.
Saco! Eu ia ter que aturá-la jogando-me para cima de alguns deles. Tinha
certeza de que fará isso.
- Essas são nossas amigas, Sandy e Cléo –
Hilary nos apresentou.
- Cléo? – o cara loiro e bronzeado ficou
interessado.
- Sim.
- Diferente, mas bonito – sorri me sentindo
um pouco desconfortável com a maneira como ele me olhava e sorria. Contudo não
havia um interesse real em mim como mulher, o que e certa forma era um alívio.
– Eu sou Michael, estes são Bill, Juan e Douglas - ele sinalizava para o cara
loiro pelo qual Jessye estava encantada, o de cabelos castanhos, com aparência
latina e o da bunda bonita.
“Douglas”.
Repeti mentalmente. Então a bunda bonita tinha um nome. Achei graça dos
meus pensamentos, mas me limitei a sorrir para eles. Douglas era um nome
bonito, como o seu dono e a sua bunda. Mordi os lábios tentando não rir. John
me mataria só de imaginar os meus pensamentos a respeito da bunda de alguém.
Ok! Esta era uma nova experiência: Achar a
bunda de outro homem bonita. E ele nem era uma pessoa famosa, ator de filmes ou
qualquer coisa deste tipo que permite às mulheres tais pensamentos. Esses eram
permitidos, afinal de contas, quem nunca pensou naquele ator maravilhoso
enquanto estava com o seu companheiro?
Ri sarcasticamente. Aquela era uma maneira
de dar o troco ao que John estava me fazendo passar.
- Vocês estão curtindo Las Vegas por algum
motivo especial? – o que eu tinha identificado como Juan falou quebrando o meu
devaneio.
Seu sotaque era carregado. Latino, com
certeza.
- Estamos em uma despedida de solteira estendida
– Jessye deu risada ao informar sobre a nossa condição.
- Como assim? – Bill ficou animado.
- Ah! Esquece isso – apressei-me a dizer.
- É. Esquece – Hilary brincou me deixando
mais tranquila. Era complicado admitir os motivos para estarmos lá. – Vamos
beber alguma coisa?
- Claro! – Juan se empolgou.
Sentamos em uma mesa grande, mas não o
suficiente para oito pessoas. Por este motivo, ficamos todos apertados, colados
um ao outro, para felicidade da Jessye, que não cansava de puxar conversa com
Bill. Hilary também conversava com ele, disputando sua atenção com a nossa
amiga. “Isso não é bom” pensei desconfortável.
Douglas, o rapaz de cabelos e olhos negros,
dono de uma bunda interessante, não falava nada. Sentado ao meu lado, ele
apenas tentava acompanhar a conversa de todos, assim como eu estava fazendo, ou
tentava fazer. Pude perceber que Sandy respondia timidamente a algumas
perguntas que de vez em quando Juan fazia diretamente a ela. “Isso também não é
bom” me mexi tentando não pensar muito no rumo daquelas relações.
O celular de Douglas tocou duas vezes, sem
som. Apenas percebi porque ele o pegou e olhou o visor decidindo ignorar as
ligações. “Estranho!”. A cada vez que tomava aquela decisão, eu verificava que
ele parecia mais triste e também mais irritado, pois pegava seu copo e tomava
um longo gole. “Problemas com mulheres, com certeza”. O que mais poderia ser?
Após a primeira hora juntos, Douglas pediu
licença e se afastou da mesa. Ele foi até o balcão, onde já havia algumas
pessoas circulando, e começou a mexer no celular. Deduzi que enviava e recebia
mensagens de texto. Por que eu sentia tanto interesse pelo que ele fazia? Por
que tanta curiosidade a respeito do que estava acontecendo com um desconhecido?
- Ele está passando por um momento
complicado – Juan sinalizou ao meu lado como que respondendo as minhas
perguntas silenciosas.
- Imaginei – fiquei envergonhada por ter
sido desmascarada, perante minhas amigas, em relação ao meu interesse.
- Ele foi traído pela namorada – Bill
revelou abertamente. – Após quatro anos dedicando-se apenas a este
relacionamento, ela apronta uma dessa com ele. O cara ficou super mal! É por
isso que estamos aqui. Como bons amigos, estamos tentando fazer com que ele se
recupere. Tenho medo que seja uma batalha perdida.
“Então é isso”. Entendi na hora o porquê da
sensação de familiaridade. Estávamos curtindo a maior fossa. Sofrendo os mesmos
motivos, mas em circunstâncias completamente diferentes. Lógico! Ele tinha sido
traído, o que era péssimo, enquanto eu apenas estava dando um tempo programado
com o meu noivo para depois, enfim, podermos casar. O que era aceitável.
- Como assim? – Hilary quebrou meu
devaneio.
- Ele é louco pela ex-namorada, que está
desesperada, implorando por uma segunda chance. Disse que foi um erro. Que
estava arrependida e que o ama. Douglas está muito magoado, mas... – pela sua
cara entendi que ele não concordava com a decisão do amigo.
- E você acha que ele vai voltar para ela –
Jessye afirmou buscando a atenção dele outra vez.
- Infelizmente, sim.
- Eles viviam um relacionamento perfeito.
Era amor de verdade, pelo menos nós achávamos. Pensavam em casamento, mas
então, ele descobriu a traição e tudo acabou – Michael alimentou a história que
Bill contava.
- Que triste! – Sandy suspirou olhando para
mim sugestivamente.
Ela
era uma romântica incurável e claro que pensou que aquilo nos tornava iguais,
por isso, quem sabe... O que ela não sabia era que eu não me sentia como ele.
Não havia a desilusão amorosa. Ou Havia? Eu não queria pensar daquela forma.
John estava apenas com medo de descobrir que deixou algo para trás. Era
razoável o que ele me propôs.
- Estranho. Se ela o ama, por que ficou com
outra pessoa?
Hilary ficou pensativa, no entanto eu
percebi muito bem quando seus olhos me encararam, sugerindo que John havia
feito o mesmo. Droga! Ela nunca entenderia que o que estava acontecendo foi em
comum acordo e que se estávamos dando um tempo, não existia o relacionamento,
ou seja, ele poderia ficar com quem quiser, assim como eu, apesar dos pesares.
- Quem consegue entender o que passa pela
cabeça de uma mulher? – Juan brincou e todos começaram a rir e filosofar.
Senti-me especialmente tocada pelos
comentários das minhas amigas, que pareciam me alfinetar com cada uma das suas
filosofias e risinhos cínicos. Desviei a minha atenção para o que realmente
estava à frente de qualquer outra coisa para mim no momento, pois continuava
presa ao que acontecia a Douglas.
Um coração partido, como o meu. Eu, pelo
menos, teria um final feliz. Voltaria para John e nos casaríamos. Douglas, no
entanto, poderia voltar para a namorada, mas será que ele conseguiria ser
feliz?
Após um tempo, o homem que roubava a minha
atenção voltou para a mesa, sem se justificar, mas antes de sentar trocou um
olhar confidente com Bill. Fiquei completamente curiosa a respeito dos seus
pensamentos. O que ele achava disso tudo? Como estava reagindo? O que esperava
dali para frente? E principalmente: ele seria capaz de perdoar o que a namorada
tinha feito?
- Estou curioso, vocês ainda não explicaram
o que é uma despedida de solteira estendida.
Michael trouxe de volta o assunto, dando
continuidade a conversa sem deixar com que a atenção caísse sobre Douglas e a
sua história. Aquele era um bom amigo. O problema é que com isso ele desviou
todas as atenções para mim, e as minhas amigas não pareciam nem um pouco
interessadas em me salvar.
- Estamos tentando convencer a nossa amiga
Cléo a não se casar.
Jessye revelou seu plano. Dei risada. Ela
não desistiria. Acho que mesmo na porta da igreja minha amiga tentaria alguma
coisa para me convencer de que John não era o cara certo para mim. Ainda bem
que eu era segura e sabia exatamente o que queria. Do contrário, já teria
sucumbido.
- Nossa! Que belas amigas – Juan piscou
para mim em meio à brincadeira. Concordei com ele apenas balançando a cabeça.
- Você vai casar? – Bill pareceu
interessado.
- Ah! – pensei no que poderia dizer a ele.
Minha única reação foi cruzar os braços em frente ao peito aguardando a bomba
que viria.
- Ela fez um acordo com o noivo. Um mês como
solteiros e depois poderiam casar – Jessye não fez questão de esconder o meu
caso. Fiquei envergonhada. Ainda não tinha me acostumado a esta situação.
- Corajosa – Bill me encarou e depois virou
a bebida de uma só vez. – Eu teria terminado o relacionamento se uma mulher me
fizesse uma proposta dessas – bateu o copo na mesa. Fiquei ainda mais
embaraçada.
- Não foi ela quem fez – Hilary voltou a
disputa a atenção dele com Jessye, revelando um pouco mais. Olhei para minha
amiga, constrangida enquanto Bill arregalava os olhos para mim.
- Ele fez esta proposta? – Michael
estreitou os olhos como se estivesse indignado. – E você aceitou? – eles riram
me deixando ainda mais sem jeito. Se é que era possível.
- Por que você aceitou?
Foi a primeira vez que Douglas falou
diretamente comigo desde que tínhamos nos reunido. O fato acabou chamando a
atenção de todos. Olhei em seus olhos, negros como a noite, profundo como a
solidão. Parecia loucura, mas eu o entendi. Era como se tivesse me vendo nele.
Como se tivesse sido sugada pelo seu olhar. Quando percebi, já estava falando
tudo.
- Nós dois estamos juntos há dez anos.
Começamos a namorar aos quinze. Eu fui a primeira namorada dele e ele foi o
meu. Nunca vivemos outros relacionamentos. Não sinto falta disso, mas entendo o
lado dele. Eu quero casar, porem não posso exigir que ninguém passe o resto da
vida comigo sem ter vivido o que deseja. John foi sincero. Achei melhor assim
do que mais tarde eu descobrir que ele... – parei sem saber como continuar. Não
podia tocar no assunto sem magoá-lo ou até ofendê-lo.
- Que ele está te traindo – finalizou a
minha frase com aqueles olhos negros ainda nos meus, me sugando. Todos estavam
em silêncio. Era como se o mundo tivesse parado para ouvir a nossa conversa.
- Isso – bebi um gole desviando os olhos
dos dele. Não sabia como continuar, já que acabara de revelar a ele que a sua
situação era pior que a minha.
- Novidade! – ouvi a Jessye falando com
espanto. – Nem para as amigas ela se justificou. Isso me parece uma traição e
das boas – ela não estava magoada nem irritada comigo. Eu podia jurar que
Jessye só contou aquele detalhe para chamar a atenção de Douglas para mim.
- Como você conseguiu aceitar esta
situação? Quer dizer... Você acha que vai conseguir conviver com as escolhas
dele? – Douglas ainda buscava por respostas para as suas próprias perguntas.
Entendi o seu dilema.
- Acho que essa foi a parte mais difícil. Quando você tem escolha é
extremamente complicado tomar esta decisão – ele me olhou sem entender o que eu
dizia. – Quando você não tem, quando a decisão parte da outra pessoa, você só
pode aceitar e seguir em frente, por mais que doa. Mas quando a escolha é sua,
quando você tem vários caminhos, é difícil decidir, porque uma escolha exclui
as outras e muitas vezes não é possível voltar atrás. Por isso foi muito ruim
ter que optar. Foi doloroso e conflitante, mas eu acabei aceitando.
Parecia que eu respondia às perguntas
internas dele. Se deveria ou não perdoar a namorada. De certa forma isso me
incomodou um pouco.
- E você tem certeza de que fez a escolha
certa?
- Eu tento acreditar que os fins justificam
os meios – sorri sem graça. – Depois de algum tempo vamos rir do que aconteceu
e vamos agradecer pelas nossas escolhas. O bom é saber que no final tudo dará
certo.
Douglas se calou e voltou a ficar reflexivo.
Nossa conversa morreu naquele momento. Nós apenas continuamos acompanhando os
nossos amigos, sem nada acrescentar.
Duas horas depois estávamos nos despedindo,
para tristeza de Jessye e Hilary que ainda não tinham conseguido nada com Bill,
mas tínhamos compromissos diferentes, por isso apenas trocamos telefones e
marcamos de nos encontrarmos no dia seguinte. O que não me deixava nada
animada.
Iríamos ver as fontes dançantes do
Bellagio, uma das muitas atrações turísticas existentes em Las Vegas. Eles já
conheciam a cidade e não pretendiam fazer passeios com esta finalidade, apenas
frequentavam os Cassinos à noite por ser divertido, no entanto pretendiam ficar
rodando os diversos bares atrativos que havia por lá.
Fiquei confusa com meus sentimentos na
despedida. A curiosidade sobre o que Douglas faria em relação ao que estava
passando com a sua namorada, me impulsionava a querer saber mais sobre dele. Talvez
por esse motivo eu estudei jornalismo. Nenhuma história poderia passar por mim
sem um meio e um fim. E a dele estava apenas começando.
Entrei no carro pensando em como tudo se
resolveria, enquanto Hilary e Jessye se alfinetavam motivadas pela disputa
descabida pelo mesmo cara. “Santo Deus! Com tantos homens interessantes dando
sopa, elas resolveram desejar o mesmo?”
Encostei a cabeça no banco do fundo do carro
e fechei os olhos sentindo-o ganhar movimento. Douglas seria sempre uma
interrogação para mim. Aquilo me incomodava muito. Fiquei tentando não ouvir
Jessye e Hilary discutindo sobre quem merecia ou não ficar com Bill, que talvez
nunca mais voltasse para nossas vidas. O que elas entendiam de encontro casual?
Nada do que acontecesse naquela viagem seria para sempre.
Abri meus olhos ao ouvir os gritos ao lado
do nosso carro e a buzina insistente. Eram os rapazes. Tive que sorrir. Eles
gritavam para encostarmos o carro. As meninas ficaram eufóricas, porém a
disputa entre Jessye e Hilary acirrou. Revirei os olhos para elas, preferindo
prestei atenção ao que diziam.
-
Douglas quer falar com a Cléo – Michael gritou enquanto Bill e Jessye brincavam
com as direções dos seus respectivos carros no trânsito movimentado.
- Douglas quer falar com a Cléo! – Sandy ecoou
ao meu lado me fazendo pular assustada.
“Douglas quer falar comigo? Sobre o quê?”
Meus pensamentos tentavam analisar os
acontecimentos. A animação de minhas amigas fazia meu estômago revirar. Jessye
encostou o carro e imediatamente todos começaram a sair. Eu permaneci sentada,
sem saber direito o que fazer ou dizer.
- Ele quer falar com a Cléo – ouvi Bill se
justificando para Jessye e Hilary. Eles se divertiam com a situação.
Por um motivo desconhecido, fiquei
envergonhada. Reuni toda a minha coragem e desci do carro. Douglas já aguardava
por mim, um pouco afastado do grupo que voltava a conversar animadamente. Fui
até ele.
-
Fiquei curioso a respeito do que me falou. Sem saber você acabou respondendo a
algumas dúvidas que me corroíam.
Andamos nos afastando dos nossos amigos. Eu
estava certa quando imaginei que respondia aos conflitos dele. Mas de que
maneira poderia ajudá-lo? Na minha situação, não era possível ajudar nem a mim
mesma. Douglas também estava constrangido, porém decidido a conversar sobre o
que tinha acontecido.
- E no que posso te ajudar?
Meus braços estavam cruzados no peito. Uma
atitude que demonstrava desconforto ou insegurança e era realmente o que eu
sentia. Não sou psicóloga, então o que ele estava querendo? Meus próprios
problemas já não eram suficientes?
- O que você faria se ele te traísse? – Engoli
seco.
Não sabia muito bem como agiria, no entanto
já sabia qual era a sensação. Exatamente o que senti quando soube que John
estava com uma garota, logo depois que nós fizemos o acordo. Como já previra
que poderia acontecer, não me permiti cobrar nada, apenas fiquei calada,
tentando me convencer de que seria apenas uma experiência e nada mais, contudo,
a mágoa e a tristeza eram reais.
- Você foi traído. Eu já estou sabendo –
assumi timidamente querendo desviar o assunto de mim.
- E o que você faria? – respirei fundo
tentando não ficar presa ao sentimento de tristeza e revolta que uma traição é
capaz de provocar nas pessoas. Além do vazio e da sensação de solidão.
- O que aconteceu? – encostei-me a uma
pequena cerca que limitava a passagem de carros e ele me acompanhou. Mais uma
vez, tentei desviar o assunto da minha história e voltar para a dele.
- Ela teve um caso com um colega de trabalho.
Não da empresa onde trabalha, mas do mesmo grupo, só que de estados diferentes.
Ele estava envolvido em um projeto que o levou até São Francisco e eles ficaram
juntos durante o tempo em que o cara esteve por lá. Fiquei sabendo através do
Bill, que viu quando os dois saíram do cinema e resolveu segui-los. Se não
fosse por ele eu nunca ficaria sabendo. Michele foi muito cuidadosa.
Douglas ficou calado pensando sobre o que
estava me contando
– Eu não consigo entender. Nós dois éramos
perfeitos juntos. Combinávamos em tudo. Ela foi a pessoa que mais me entendeu
até hoje. Nós nos completávamos. Não entendo como ela pôde...
Mordeu os lábios. Eu podia sentir sua
angústia. Meu coração acelerou com as lembranças e minha respiração ficou um
pouco mais pesada.
- Eu fico pensando se ela tivesse me
contado... Se ninguém, além de nós dois, soubesse. Eu seria capaz de perdoar?
Porque, às vezes sinto vergonha por pensar em voltar depois de ser publicamente
traído. Meus amigos sabem o que aconteceu e eu não tenho coragem para passar
por cima de tudo. Tenho medo do que será.
Ficou calado como se tivesse sido
derrotado. Podia muito bem compreender como ele se sentia. Eu também não queria
que as pessoas soubessem do meu acordo com John. Era humilhante.
- Eu te entendo. Mas tem que pensar
primeiro em você. Se realmente a ama, e se tem certeza de que isso não vai se
tornar uma situação recorrente, deve pensar no que quer e não no que seus
amigos vão dizer. Que se danem as pessoas! O que importa é o que realmente
sente.
Ficamos nos olhando refletindo sobre o que
falamos. Dei risada relembrando das minhas palavras e ele me questionou com o
olhar.
- Por que você me procurou?
- Porque você foi a única pessoa que me
compreendeu depois da Michele – minha respiração ficou presa com a sua
revelação. Era estranho e gostoso ao mesmo tempo. - O que você me falou fez
todo o sentido e, pela primeira vez, eu senti realmente vontade de conversar
com alguém sobre o que aconteceu. Talvez tenha sido pelo fato de estarmos
passando pelo mesmo problema. Você sabe exatamente como eu me sinto.
- Não
estamos, não – onde ele queria chegar? Nossos problemas eram completamente
diferentes.
- Estamos sim – cruzou os braços no peito,
exatamente como eu tinha feito quando começamos a conversar. Seus olhos negros
estavam cravados nos meus e seus lábios exibiam um leve sorriso debochado que
me tirou do sério.
- Minha situação é muito diferente da sua. Ela
te traiu!
- A única diferença é que você permitiu que
seu noivo fizesse isso.
- Do que você está falando?
- Que você está sendo traída com sua
permissão e eu fui traído sem precisar dá-la. No final é tudo a mesma coisa. –
aquele sorriso ainda estava lá, ironizando a minha história, tornando tudo
ridículo. Senti muita raiva.
- Eu não estou sendo traída. Estamos
adquirindo experiências. Você... Você nunca vai entender.
- Eu entendo muito bem. Você simplesmente
diz que foi uma decisão madura para não ter que se justificar pelo fato aceitar
uma traição. Essa é a sua desculpa para estar com ele.
- É isso o que você pensa? Você vai voltar
com ela então? – estranhamente não me sentia confortável com o que ele poderia
responder.
- Não sei ainda. Mas você me ajudou muito.
Obrigado!
Ele ampliou o sorriso e começou a se
afastar. Senti meu coração disparar. Ele era inacreditável. Andei apressada
passando por aquele homem inacreditavelmente insuportável, alcançando as minhas
amigas.
- Vamos embora – avisei enquanto me dirigia
para o carro. Não poderia passar nem um minuto ao lado dele.
- O que aconteceu? – Sandy apressou os passos
me acompanhando ao ver a minha cara de aborrecida.
- Ele é um idiota. Vamos embora.
Entrei no carro e imediatamente peguei meu tablet. Precisava escrever, mesmo que
através daquele aparelho horrível para digitar.
“Caro leitor,
Hoje aprendi que existem regras quando você
deseja adquirir novas experiências e a primeira e principal delas é: nunca se
deslumbre com o primeiro cara que chamar a sua atenção, ele pode ser um
babaca.”
CAPÍTULO
III
Dezoito
dias antes
- Você está encantada por ele – Jessye
dizia rindo enquanto andava pelo quarto do hotel, que dividíamos, escolhendo o
que usar.
Eu estava cansada. Passamos longas horas
caminhando pelas ruas de Las Vegas, uma insistência da minha amiga, que achava
que deveríamos conhecer um pouco além dos pontos turísticos. Ela estava
obstinada em falar sobre Douglas, mesmo já tendo se passado vinte e quatro
horas do nosso encontro.
- Não estou, não – era a milésima vez que
repetia aquilo. – Apenas fiquei comovida com a história dele. O cara está
sofrendo! Foi terrível o que a tal da Michele fez! Como ela pôde?
Eu tinha contado para as minhas amigas a
conversa que tínhamos tido e o motivo da minha irritação. As garotas passaram
quase toda a noite enchendo minha cabeça por causa daquilo. Não sei por que
motivo elas cismaram que Douglas era o homem ideal para mim. Eu mal o conhecia
e logo de primeira ele já tinha conseguido me irritar. “Com certeza este era o
tipo de homem para a minha vida, o que me tira do sério” pensei com ironia.
- E você está encantada por ele! – repetiu.
Deixei
que meu corpo caísse sobre a cama e coloquei o travesseiro no rosto. Iria
ignorá-la.
- Cléo! – Jessye puxou o travesseiro. –
Relaxe!
- Não consigo relaxar com vocês tentando o
tempo todo arrumar alguém para mim. Eu já disse: não quero novas experiências.
Eu sei muito bem o que desejo. É casar e ser feliz, com John – ressaltei.
- Case e seja feliz – disse impaciente
batendo as mãos na lateral do corpo. – Mas duvido que consiga conviver com as
novas experiências dele. Vai culpá-lo o tempo todo pelo que viveu e vai se
arrepender de não ter vivido nada.
- Não é porque você ficou aborrecida com John
que sou obrigada a concordar com a sua opinião.
Douglas tinha se tornado um “mala”. Ele e todo
o seu sofrimento, sua história e falta de compreensão. Que saco! Por que me
importava tanto? Sua opinião era tão importante assim? Ou estava ferida pelo
fato de alguém ter percebido que eu realmente me sentia traída, mesmo
concordando.
- Quer saber? Acho que Douglas tem razão.
Você está aceitando a traição de John e se justifica com essa história idiota
de tempo. Não existe tempo nem separação se você continua completamente presa a
ele.
Jessye se trancou no banheiro fugindo da
minha explosão. Fiquei parada na porta canalizando a minha raiva, na esperança
de que ela se desmaterializasse e com isso eu conseguisse matar a minha amiga.
O que ela queria que eu fizesse? Para Jessye
era fácil escolher uma pessoa e dar um jeito de conquistá-la, nem que seja por
pouco tempo. Para mim era completamente estranho e anormal.
Eu nem mesmo sabia paquerar. Nem conseguia lembrar
se já havia paquerado alguma vez na vida ou se apenas correspondi à paquera do
John. Era inimaginável pensar em mim, beijando ou sendo tocada por outra
pessoa. E a vergonha? Como conseguiria tirar a roupa para um estranho? Não.
“Definitivamente eu não consigo agir assim”.
Foram dez anos vivendo com apenas uma única pessoa. Uma e única. Nunca havia
beijado outros lábios. “Ai meu Deus! É tudo uma loucura! Como eu pude
concordar?”
Voltei a fechar os olhos e me perdi no
tempo. Só recuperei a consciência quando Jessye saiu do banheiro, depois de um
longo banho, com uma toalha no cabelo e o secador na mão.
- Vai ficar aí parada? Acha mesmo que algum
príncipe virá buscá-la como se você fosse a Cinderela? É banho e rua, Cléo.
- Você é completamente irritante – levantei
sem paciência e fui para o banho.
Tirei a roupa e entrei no chuveiro, sem
molhar meus cabelos. Enquanto passava o sabonete no corpo, pensava em como
seria dividir momentos tão íntimos com uma nova pessoa. Não que tivesse que
fazer aquilo, ou quisesse, mas tipo... Tomar banho juntos. Eu tomava com John,
claro, no entanto como seria fazer aquilo com... Douglas, por exemplo. “Douglas...
Ele deve ser lindo sem roupas”. Imediatamente me reprimi pelos pensamentos
absurdos com uma pessoa desconhecida e ainda por cima irritante.
Mas Douglas era sensível, romântico e se
importava realmente em estar perdendo alguém que amava. Com certeza ele nunca
faria o tipo de proposta para a namorada dele. Não. Não faria. Era triste
constatar. O suspiro que saiu de meus lábios foi inevitável. Douglas era o tipo
de cara que quando gostava de alguém, era esta pessoa e mais ninguém.
Como eu podia estar tão certa disso? Sacudi
a cabeça espantando os pensamentos.
- Esqueça Douglas, Cléo – tentei voltar aos
meus pensamentos, antes de Douglas mudar o rumo deles.
Além disso, existiam coisas mais íntimas,
que exigiam um pouco mais de cumplicidade, sei lá! Como por exemplo... Ah, sei
lá, tantas coisas que sexualmente só podem acontecer com duas pessoas que
realmente se conhecem bem, que possuem certa intimidade. Como eu poderia
fazer... Caramba! Como eu poderia?
Senti meu rosto pegando fogo de vergonha
pelos meus pensamentos. Minhas amigas não entendiam. Não era só o fato de não
querer ou não achar necessário. Era também o de não conseguir. De quanta
coragem eu precisaria para tirar a roupa diante de outro homem que não fosse o
John? E para... Não. Definitivamente, não.
- Morreu afogada no chuveiro? – Jessye
bateu na porta chamando a minha atenção. - A noite não vai esperar por você.
- Já estou saindo – gritei em resposta.
Jessye já estava me irritando.
***
Escolhemos um cassino diferente da noite anterior,
contudo ainda na Las Vegas Boulevard, ou Strip, como é conhecida. Graças a Deus
não precisávamos sair muito da rota dos pontos turísticos, que eram mais ou
menos próximos de onde estávamos hospedadas. Bom, nosso hotel não ficava
exatamente na rota, e sim um pouco mais afastado, pois as nossas condições
financeiras não nos permitiam abusar muito com hotéis de luxo, por exemplo. Mas
a Strip era imensa e nela conseguimos encontrar um lugar que estava em
equilíbrio com as nossas finanças e com as nossas necessidades turísticas.
Chegamos ao cassino com a noite já
fervendo. A grande atração era a imensa adega vertical, a maior do mundo, com
capacidade para dezesseis mil garrafas, que podiam ser facilmente retiradas por
mulheres que ficavam penduradas em cabos que permitiam que elas chegassem com
muita facilidade ao topo, ou onde estava a garrafa solicitada.
As pessoas se divertiam com aquele espetáculo
diferente, mesmo que lhes custasse vários dólares a mais por uma garrafa de
vinho. Realmente era algo fascinante de se assistir, apesar de verificar que os
homens do local estavam interessados mais nas garotas penduradas do que nos
vinhos.
As meninas queriam algo além de jogar,
queriam diversão. No entanto rolava de tudo. Las Vegas tem esta versatilidade
infinita, onde em uma mesma noite podíamos viver várias coisas diferentes.
Fiquei um tempo na roleta com as minhas amigas, mas era impossível dar sorte
com um jogo como aquele. E na verdade Jessye estava mais disposta a paquerar um
rapaz alto de ombros largos que usava um paletó cinza e possuía um sorriso que
deixava claro o quanto era cafajeste.
Por este motivo peguei uma bebida e fui
para os caça-níqueis. Pelo menos ali eu perderia pouco dinheiro e tinha chances
mais reais de ganhar alguma coisa. Bebi e joguei. Joguei e bebi. Não sei por
quanto tempo, mas sei que passei a achar as coisas mais divertidas. As luzes
mais claras e interessantes. As pessoas mais engraçadas.
Comecei a acreditar que aquelas pessoas,
que eu não conhecia, eram amigas de longas datas. Todo mundo era “gente boa” o
suficiente para passar algum tempo conversando comigo. Mas as minhas amigas não
estavam lá. “Onde elas estão?” pensei me sentindo um pouco perdida.
O consumo de álcool era inevitável. E na
verdade, eu não estava realmente muito disposta a evitar qualquer coisa. Estava
em Las Vegas para me divertir, então que a diversão chegasse com tudo.
Fui até o bar solicitar mais bebida. Só um
pouco mais. Que mal poderia ter? Sentei em um de seus bancos altos e vermelhos,
aguardando pelo garçom que tinha ido providenciar o meu pedido. Tamborilei meus
dedos no balcão pensando no que fazer para encontrar as minhas amigas.
- Sua noite parece estar bem animada.
Olhei assustada para o lado e vi Douglas
sorrindo para mim. Lindo! Como ele era lindo! Usando uma camisa branca que caía
perfeitamente bem em seu corpo maravilhoso. Mas o que era aquilo? De onde
vinham aqueles pensamentos? Fiquei constrangida ao constatar que meus olhos realmente
percorreram seu corpo e mais ainda quando lembrei que mais cedo eu tinha
imaginado como seria tomar banho com ele.
Comecei a rir. Alguém estava se apossando
do meu corpo. Definitivamente aquela não era eu.
- O quê? – disse acompanhando minha risada,
levantando uma sobrancelha.
Olhei para trás e vi que seus amigos também
estavam próximos de nós dois. Minhas amigas haviam reaparecido e eu nem sabia
de onde elas tinham saído. Claro que Jessye e Hilary já estavam disputando o
Bill enquanto Sandy e Juan conversavam um pouco afastados, junto a uma máquina
muito colorida. Michael observava Bill entreter as minhas amigas, contudo ele
não estava muito a vontade. Voltei a olhar para Douglas e a imagem do banho
ressurgiu em minha mente com toda força. Foi mais forte do que eu.
- Toma banho comigo?
- O quê?
Como eu pude dizer aquilo?
- Ops! – explodi em risadas. Meu Deus! O
que estava acontecendo comigo? – Toma uma bebida comigo? – corrigi-me rapidamente
rindo do meu deslize. Ele riu junto.
- Claro! Pensei que você estava aborrecida
comigo – meu sorriso se desfez imediatamente ao me lembrar do motivo por eu
estar irritada com ele. Desviei o olhar. – Eu não queria...
- Você tem razão – cortei sua fala
facilitando as coisas entre a gente. A tristeza da minha afirmação fez com que
eu encostasse a cabeça no balcão, mas me lembrei de onde estava e levantei
muito rápido. Então vi tudo girar. – John é um idiota! – falei alto demais. Ele
riu.
- Concordo com você – completou bebendo o
que o garçom tinha colocado sobre o balcão para ele. A bebida era azul? Linda e
gelada.
- Hey! – chamei rapidamente o garçom. – Eu
também quero uma dessa
- Vamos com calma, Cléo.
- Por quê? A ideia é adquirir novas
experiências. Tomar um porre é uma nova experiência para mim, então... – levantei
o copo para ele em um brinde silencioso e virei o conteúdo de uma vez só. Ardeu
minha garganta. - A noite é apenas uma criança – voltei a sorrir sentindo no
peito a alegria inexplicável que só a bebida poderia me proporcionar naquele
momento. – Ah! Michele também é idiota. Um brinde aos idiotas. A todos os
idiotas – brindamos rindo das nossas infelicidades.
- Tudo bem. Então vamos beber para
comemorar o fato de termos sido traídos.
Ele também estava alegre demais? Nossa! Nem
todo mundo tem equilíbrio suficiente para beber. Comecei a rir
descontroladamente do meu pensamento. Douglas me olhou questionando a minha
atitude.
- Você está bêbado – acusei.
- Estamos.
- Eu não – no entanto percebi que minha voz
enrolava um pouco e, claro, as luzes estavam mais fortes e giravam. Giravam?
Recomeçamos a rir e a noite foi ficando
mais engraçada. De repente estávamos bem próximos, brindando e bebendo sem
parar enquanto falávamos mal dos nossos companheiros, ou ex-companheiros, ou
qualquer coisa do tipo.
- Eles mereciam passar por isso. Seria
ótimo ver a Michele chorando pela dor de uma traição – Douglas fez uma careta e
eu ri concordando com a cabeça.
Tudo era muito engraçado e eu não conseguia
mais encontrar motivos para não estar relaxada ao seu lado. Tanto que tudo o
que vinha a minha cabeça eu falava.
- Como ela pode trair um homem como você?
Sua bunda é linda! – ele gargalhou jogando a cabeça para trás. Nossa! Ele
ficava tão lindo rindo daquela maneira.
- Obrigado. Eu ainda não observei a sua.
Levante um pouco para que eu possa dizer algo a respeito – com dificuldade
levantei e fiquei de costas empinando a bunda para ele. – É linda também.
Redonda. Se bem que com roupa é complicado avaliar – fiquei séria. Olhamo-nos
por uma infinidade de tempo. Ele também estava sério.
- Sabe que hoje fiquei imaginando como
seria tomar banho com você? – não conseguia acreditar no que estava dizendo. –
Não era para eu te dizer isso – sussurrei tapando a boca com a mão e
expressando o pânico com os olhos.
Nossos rostos estavam muito próximos.
- E foi bom?
- Hum! Não sei. Acho que banho junto exige
intimidade. Eu acabei de conhecer você.
Sem nenhum aviso sua mão segurou em minha
cintura. Não sei como nem porque, mas senti que meu corpo estremecia com aquele
toque. Puxei o ar com força. O que eu estava fazendo? Ele gentilmente acariciou
a região, com calma, cuidado e... desejo. Foi exatamente como imaginei que ele
era. Seguro do que queria. Todas as suas atitudes exalavam isso. Mordi meus
lábios reprimindo um suspiro. Suspiro era algo muito intimo também, não era? Não
podia suspirar porque ele estava acariciando a minha cintura.
- Você é linda, Cléo! – Douglas se
aproximou um pouco mais. Suas mãos me puxaram em sua direção. Minha cabeça
girava. – Muito linda! – nossos lábios estavam tão próximos que um único e
mínimo movimento seria suficiente para que eles se tocassem. Eu queria aquilo?
Eu podia aquilo? Não.
- Não podemos fazer isso – comecei a me
afastar. – Eu nem conheço você.
- Sou Douglas, prazer – riu e me puxou
rapidamente para um beijo.
Nossos lábios se encontraram. Foi como ser
levantada naqueles cabos que as mulheres usavam para pegar os vinhos. O frio no
estômago me causava a mesma sensação: medos e prazer, misturados em um
sentimento único, que eu ainda não conseguia identificar.
Eu estava beijando outro homem? Eu? Sim. Eu
estava beijando outro homem, e era... Era maravilhoso! Muito, mas muito diferente
dos beijos que dava em John.
Ele movimentou os lábios e o acompanhei. Era
um beijo quente, sedutor. Os lábios dele eram macios, saborosos, suculentos,
convidativos e eu os devorava.
Eu?
Não.
Definitivamente aquela não era eu. Porque a
verdadeira “eu” apenas assistia àquela usurpadora de corpos inocentes, assumir
as minhas atitudes. Então tudo bem. Porque estava muito bom.
A língua de Douglas não travava uma batalha
com a minha. Ela simplesmente me acariciava. Experimentava-me. Cedia e buscava
por mim enquanto suas mãos corriam minhas costas em uma pressão suave, porém
segura, que me prendia cada vez mais ao seu corpo. Fiquei arrepiada ao
constatar que ele me segurava com posse.
Era tudo muito bem sincronizado, como se
tivesse ensaiado exaustivamente cada movimento que fazia e por este motivo
havia alcançado a perfeição. Então... minhas pernas cederam e ele me segurou
com mais firmeza em seus braços.
- E a Bela Adormecida despertou – abri os
olhos e ri da nossa situação. Era assim que eu me sentia, como se estivesse
despertando de um sonho delicioso.
Ele riu e beijou meu pescoço com carinho.
Um calafrio percorreu minha pele. Ouvimos o som dos copos sendo postos no
balcão. O garçom tinha servido mais uma rodada. Bebemos em um único gole após o
brinde tradicional.
- A noite é uma criança – Douglas se
aproximou ainda mais de mim. – Vamos dançar! – fui puxada do banco onde estava
sentada e quase caí ao tentar acompanhar seus passos.
Douglas me levou para fora do cassino e eu
me perguntava se deveria avisar as minhas amigas que estava saindo. Entramos em
um táxi, que para mim apareceu em nossa frente como um passo de mágica, como a
carruagem da Cinderela. Seguimos rumo a algum lugar que eu não tinha nenhuma
condição de descobrir qual era. Também não sei dizer quanto tempo levamos até
chegar ao nosso destino, pois Douglas aproveitou para me beijar o caminho todo.
Eu não tive como, e também não quis impedi-lo.
Entramos no que parecia ser uma grande
boate. Douglas imediatamente me agarrou pela cintura e começamos a dançar e
rodopiar. Era muito bom! Apesar de só piorar o meu caso. O som era alucinante
assim como as luzes. Não sei quando nem como, mas a noite passou por mim como
um flash. Quando percebi, estávamos do lado de fora. Encostados em um carro e
escandalosamente agarrados.
Meu corpo agia sem a minha autorização, no
entanto, no momento, eu estava sendo muito grata a ele. Douglas tinha mãos
firmes, lábios deliciosos, um corpo de matar e seu cheiro era incrível. Não sei
por que pensei em cheiros naquela hora, mas o dele era uma delícia.
Embriagava-me. Ou eu já estava embriagada? Não tinha condições de pensar com
aquele homem sedutor me acariciando com tanta habilidade.
- Vamos para meu quarto – propôs entre beijos
e carícias.
Abri os olhos, aliás, acho que arregalei os
olhos, mas achei graça da minha reação e ri. Era impossível reagir de outra
forma quando não tinha a menor noção do que estava fazendo.
- Não posso ir ao seu quarto. Eu mal te
conheço – minha voz estava tão embolada que quase não me reconheci nelas.
- Pois eu a conheço. Você é a criatura mais
doce, delicada, sensível, sensata, bonita, sexy e gostosa que eu já conheci em
toda a minha vida – cada adjetivo foi acompanhado de beijos que Douglas
distribuía em me rosto, pescoço e decote.
- Não me beije dessa forma enquanto eu
estiver tentando raciocinar – empurrei-o para afastá-lo um pouco. - E eu não
posso transar com você.
- Por
quê? Você é virgem? – ironizou esta parte. Lógico que eu não era. – Vamos,
Cléo! – era maravilhoso ouvia a sua suplica e a forma como falava meu nome, com
tanto desejo. - Novas experiências. Esqueceu? – voltou a beijar meu pescoço e
meu corpo foi invadido por chamas.
- Não posso transar com você por causa dos
seus pés.
- O que tem de errado com os meus pés? – ele
se afastou cambaleante e olhou para os próprios pés, quase caindo devido à
posição.
- São imensos – eu quase não conseguia
falar de tanto que ria.
- E o que pode acontecer? Eu pisar em você?
– Agora ele ria também.
- Você nunca ouviu falar sobre nada
relacionado a isso?
- O quê?... Ah!... – estava quase lá. –
Ah!... – seu sorriso foi encantador e ao mesmo tempo orgulhoso. “Ai meu Deus!
Que homem!”
- Entendeu?
- Não vou machucá-la – seu orgulho era
imenso e infantil.
Se eu não estivesse bêbada com certeza
antipatizaria com ele. Mas eu estava bêbada, encantada, e doida para descobrir
a veracidade daquela história. Sandy sempre teve dúvida a respeito desta
verdade universal.
- Não. De jeito nenhum.
- O que você tem a perder?
Eu estava muito tentada a aceitar. Tudo
naquele momento era politicamente, socialmente, economicamente e sexualmente
correto. “Céus! Como me negar esta chance?” Fiquei olhando para ele refletindo,
se é que eu conseguia refletir sobre algo no estado em que me encontrava:
embriagada de álcool e desejo.
- O que você quer que eu faça? Quer que eu
me ajoelhe e implore pelo seu amor? – ele realmente ajoelhou. Fiquei parada.
Deliciada pela sua atitude. – Quer que eu a peça em casamento? – “Casamento?
Ele falou em casamento?” – Cléo, você aceita casar comigo? – as palavras saíram
quase gritadas, chamando a atenção de algumas pessoas.
Era tudo confuso em minha cabeça, mas eu
estava feliz e ele falava em casamento. Casamento e felicidade. Não era tudo o
que eu mais queria?
- E então? – olhei para aquele homem
perfeito a minha frente e me vi em uma fantasia. A minha fantasia.
- Sim – demos risada embalados por um
momento só nosso.
Ele levantou me puxando pela mão para
dentro de um taxi, outra vez. Meu coração disparou pensando no que faríamos em
um futuro muito próximo, quase presente. Para minha surpresa Douglas deu outro
endereço ao taxista e nós fomos embora.
- Para onde vamos? – o carro estava rápido
demais e minha cabeça girava.
- Vamos nos casar – achei graça e não
contestei.
Casar!
Paramos em frente a uma casa. Enfeitada com
neon, como tudo em Los Angeles, e uma placa na frente anunciando casamentos.
Era muito engraçado. Tudo era engraçado. Meu estômago revirou indicando que meu
nível de álcool estava altíssimo.
- Como você quer casar? – Douglas estava ao
meu lado, segurando minha mão e indo em direção a casa.
- Acho que... De branco? – ele riu sacudindo
a cabeça.
- Estamos em Las Vegas. Você pode casar
como quiser.
- Como você quer casar?
- Vestido de Elvis Presley – minha risada
foi forte e convidativa. Ele riu junto comigo.
Entramos e ele imediatamente começou a
acertar tudo com o atendente, que mais parecia um personagem de Guerra nas
Estrelas, com sua roupa exótica. Enquanto uma senhora, tão estranha quanto, me
conduzia a uma sala reservada para que eu pudesse escolher como gostaria de me
caracterizar. Ela percebeu que eu estava mais do que bêbada, no entanto aquela
situação parecia ser normal: pessoas neste estado, buscando por casamento.
- Eu mal o conheço – confidenciei rindo
para ela que apenas sorriu de volta e me mostrou o que tinha para eu escolher.
Fiquei encantada com uma versão do vestido
de Fiona, todo branco, como de uma camponesa, porem justo ao corpo, com um
cinto que caía pela cintura e descia pelo comprimento do vestido. Era muito
medieval, mas lindo. Olhei-me no espelho e achei perfeito.
Saí à
procura do meu “noivo” e me deparei com uma versão moderna de Elvis Presley me
aguardando em frente ao que parecia ser um padre, ou algo do tipo. Tive que
rir. Era patético. Mas ele parecia feliz, então tudo bem! Eu também estava.
Fiquei
olhando meu vestido, brincando com as flores em minhas mãos enquanto o padre,
ou qualquer coisa parecida, falava algumas palavras. Douglas me cutucou dizendo
ser a minha vez. Olhei em seus olhos, negros, profundos, absorvendo-me, me
senti perdida. Ele era realmente lindo. Encantador. E seus olhos... Sugavam-me
para si.
- Sim ou não, Cléo? – demonstrando
impaciência.
Não podia me negar o direito de ficar com
aquele homem estonteante. E eu queria ficar com ele, não importavam as
consequências. John tinha recebido meu aval para me trair, não foi? Isso
significava que eu também podia ficar com quem quisesse.
- Cléo? – ele riu da minha cara de dúvida e
depois se aproximou sussurrando em meu ouvido. – Meu quarto nos espera – uma
emoção dentro de mim fez com que meu corpo inteiro formigasse.
Eu queria.
Eu podia fazer isso.
- Simmmmmmm! – finalmente consegui falar e
ele me beijou sem esperar pelo tão significativo: “Eu os declaro, marido e
mulher”
2 comentários:
Era para ser engraçado, mas eu tô quase chorando!!!! Desse fim de semana não passa!!! Já estou apaixonada!♥
Tatiana' parabens. Comprei ontem, e infelizmente ja terminei. Amei, otimo. Aguardo novidadess. Me adicione
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