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Capítulo 1
Um Novo
Começo
VISÃO DE CATHY
E
|
stava
no quarto, arrumando minhas coisas. Sentia-me muito feliz por ter conseguido o
emprego e ao mesmo tempo triste, pois essa conquista significava deixar de
morar e conviver diariamente com amigas que aprendi a amar durante os dois
últimos anos. Eu estava um pouco emotiva nesta última semana.
Enquanto guardava meus livros
preferidos na última caixa, sentia as lágrimas se formarem. Mia bateu na porta
me afastando dos pensamentos depressivos.
— Não comece a chorar outra vez, Cathy. Nós já
conversamos sobre isso várias vezes. Você vai apenas se mudar para outra casa,
que, diga-se de passagem, é simplesmente sensacional. Além disso, vai passar a
maior parte do seu tempo viajando com um dos gatos mais maravilhosos do momento.
O que há de tão triste nisso? Ah, já sei, deve ser o salário absurdo que vai
ganhar para ficar ao lado dele o tempo todo. — começou a rir e a me fazer
cócegas.
Graças a Mia Baker, uma das minhas
melhores amigas, eu havia aprendido a gostar de moda e de me vestir bem, mas
isso era o que tinha de mais superficial em nossa amizade. Mia é uma das poucas
pessoas em quem confio e por esse motivo, faz parte
do grupo seleto que sabe da verdadeira história que me cerca. Ela é
meiga, companheira e, acima de tudo, completamente racional e justa. Eu a amo. Iria
sentir terrivelmente a sua falta.
— Pare com isso, Cathy. Vamos, vou
ajudá-la. Você vai levar tudo mesmo? Pode deixar uma parte aqui, para o caso de
decidir voltar — um sorriso largo brilhou em seu rosto.
— De jeito nenhum. Vocês precisam
alugar e terei espaço suficiente no meu novo quarto. Além do mais, quando eu
estiver viajando, o que acontecerá quase sempre, não vou precisar nem da metade
dessas coisas.
— Não será o mesmo sem você. Vai
ficar um imenso vazio.
Não consegui impedir as lágrimas de
caírem após a sua declaração. Mia é como uma irmã mais velha. Aquela que eu nunca
tive. Sou filha única. Meu pai nem queria filhos, mas minha mãe engravidou numa
tentativa de manter o casamento, ou o que ela acreditava ser um casamento.
Pensar em minha mãe me doía ainda
mais. Ela tinha morrido tão jovem. Eu ainda era uma criança. Estava com apenas
12 anos e fiquei sozinha no mundo, com parentes que nunca se preocuparam
realmente comigo. Somente com o que o meu pai, que nunca desejou ser pai,
poderia lhes proporcionar financeiramente.
No início não foi tão ruim viver com
eles, só não era como deveria ser, especialmente num caso como o meu: órfã de
mãe. Principalmente depois de descobrir toda a verdade com relação à minha
família.
Nossa relação nunca foi difícil, pelo
menos não com a minha tia, irmã mais velha da minha mãe, mas me senti aliviada por
fazer faculdade em Los Angeles e não precisar mais ser um peso em suas costas.
Nasci em Carson City, Nevada,
Estados Unidos, em meio a cassinos e turistas. Foi por esse motivo que minha
mãe conheceu meu pai. Ele era um forasteiro na cidade, viajando a trabalho e se
divertindo nas horas vagas. Vim para Los Angeles cursar a universidade,
recomeçar a vida e também para fugir do que restava dela. Foi quando conheci
Mia e nunca mais nos desgrudamos. Até agora.
— Vou sentir sua falta também —
enxuguei as lágrimas com as costas das mãos. — Vamos falar sobre outra coisa? —
ri, tentando conter a emoção.
— Ok, então! Pronta para hoje à noite? Estamos
preparando uma tremenda despedida para você.
Pelo seu olhar percebi que minha
noite seria longa.
— Ai, meu Deus! O que vocês estão
aprontando? Dá até medo de imaginar.
Mia riu com vontade, o que me causou
medo. Não sabia se deveria temer o que ela estava planejando ou animada com a
possibilidade de diversão.
— Tudo bem! Mas nada de tentar me
deixar bêbada, certo? Você sabe como fico quando bebo, aliás, álcool e Cathy
não se misturam. Mesmo assim vocês não perdem este hábito, se não me cuidar vou
acabar me metendo em encrencas.
— Nós não vamos deixar nada lhe
acontecer.
Ela saiu do meu quarto dando seus
pulinhos infantis que muitas vezes me faziam esquecer que se tratava de uma
mulher séria e responsável, que também mais parecia uma modelo de tão linda.
Mia é alta e magra, seu corpo é
muito bonito, apesar de eu não ver muita graça em corpos magros demais, porém o
dela é diferente. Suas pernas são longas e torneadas e sua cintura é bastante fina.
Seus seios são do tamanho ideal. Ela com certeza seria uma grande modelo, porém
escolhera trabalhar como consultora de moda.
Minha amiga é incrível!
Sozinha no quarto eu me entreguei
outra vez aos pensamentos. Estava completamente insegura com o meu novo emprego.
Quando fiz a entrevista tinha quase certeza de que não seria selecionada. A
pessoa responsável nem sequer olhou em meus olhos, apenas fez algumas perguntas
e me dispensou. Por isso fiquei surpresa quando no dia seguinte fui convocada
para mais uma etapa da seleção. Eu nem sabia para qual artista iria trabalhar,
porém se soubesse, com certeza, nem conseguiria responder às perguntas.
Dessa vez fui entrevistada por uma
mulher muito bonita, a manager do artista para quem eu iria trabalhar, Helen
Jones. Uma manager era muito mais do que uma agente. Ela era a responsável por
todos os detalhes da vida do ator, desde seus trabalhos até a roupa adequada
para ele vestir.
Helen não é muito alta. Tem feições
finas como as de uma criança. Seu rosto é angelical, e ela tem um sorriso no qual
é muito difícil não reparar. Conversamos bastante, de maneira descontraída e,
apenas no final, disse que havia gostado muito de mim. No outro dia me ligou
dizendo que eu tinha sido escolhida para o cargo. Somente depois de acertarmos
todos os detalhes ela me disse quem era o artista.
Fiquei sem reação, porém consegui me
recompor a tempo e fingir indiferença, rezando para ela não desistir de me
contratar por esse deslize. Eu simplesmente o achava o homem mais bonito que já
vira. Havia até um cartaz do seu último filme colado na porta do meu quarto do
qual, é claro, me livrei logo em seguida.
Como seria trabalhar com ele? E a
enorme atenção dada à sua carreira? Como eu me sairia diante de tudo isso?
Suspirei e balancei a cabeça tentando afastar os pensamentos de insegurança.
No dia seguinte seria a assistente
do ator mais famoso do momento: Thomas Collins, 25 anos, podre de rico e lindo,
muito lindo! Precisava tirar esses outros pensamentos da cabeça, afinal de
contas ele agora era meu chefe e, “onde se ganha o pão, não se come a carne”,
como dizia a minha sábia amiga, Anna Moore. Era importante me concentrar nisso.
Além do mais, o amor era a última coisa que eu procurava. Não por não acreditar
nele, apenas por achar desnecessário naquele momento da minha vida.
Já tive experiência suficiente para
saber que equilíbrio e amor não andam de mãos dadas. Então estava fora de
qualquer cogitação me relacionar com alguém, por ora. Não que eu tivesse
problemas com relacionamentos, mas tinha uma séria restrição com a ideia de me
apaixonar. Um reflexo do meu passado.
Para ser bastante sincera, Thomas
era o último homem na face da Terra por quem gostaria de me apaixonar, pelo menos
na vida real. Seus personagens eram perfeitos. Homens lindos e apaixonados, do
tipo que dão tudo que têm pela mulher amada. Era difícil não sonhar com alguém tão
encantador, porém esse era o personagem. A personalidade do homem, descrita por
todos os tabloides, era completamente diferente.
Na verdade, ele era um mulherengo,
um colecionador de mulheres, exatamente o tipo que eu procurava passar bem longe.
Sem contar que não acredito no homem perfeito, nem no homem que ele
interpretava nos filmes. São apenas personagens. Por isso suspiramos por eles.
Meu trabalho seria organizar a sua vida
e fazê-lo cumprir a agenda. Ao que me parecia, ainda por cima, era indisciplinado
e descomprometido. Não seria uma tarefa fácil. Para tanto eu teria que conviver
com ele o tempo todo e estar em constante contato com toda a sua equipe para
que não houvesse conflito de interesses ou de horários. Além disso, teria de
discutir todas as propostas de trabalho recebidas e enviadas pelos seus agentes
que, até onde eu sabia, eram três, todos homens: Green, Miller e Williams. Com
exceção da líder de sua equipe, que me contratara, que estava grávida e
planejava sair de cena tão logo fosse possível, eu seria a única mulher no
grupo. Isso poderia ser complicado.
— Tudo arrumado — minha voz ecoou no
quarto vazio e desmontado, logo ouvi Mia gritar, do quarto dela:
— Então vá se arrumar, garota. Pelo
amor de Deus, nada de ir simplesinha. Hoje nós vamos arrasar! É sua despedida e,
principalmente, a comemoração de sua vitória profissional e financeira — a risada
do outro quarto e me animou. — Esta noite vai entrar para a história! — Não
pude deixar de rir.
Fomos a uma boate que frequentávamos
muito. Era perfeita para nossa despedida, pois sua programação se dividia entre
Karaokê com uma banda ao vivo, muito
divertido e show com DJ, que era alucinante. Ficava bem próxima à praia e nós adorávamos! Estava sempre lotada, mas como
já éramos conhecidas pelo pessoal da portaria, eles nos davam acesso livre. Era
uma das boates mais bem frequentadas do momento e, de vez em quando, aparecia
por lá alguém famoso ou importante.
Éramos cinco amigas: eu, Mia Baker,
Daphne Hill, Anna Moore e Stella Adams. Morávamos todas juntas em um apartamento
de quatro quartos na 3rd Street Promenade, Santa Mônica, Los Angeles. Nossa
convivência era no mínimo pacífica. Claro que tínhamos gostos e interesses específicos
e éramos diferentes em diversos aspectos, porém isso normalmente não era um
problema. Por esse motivo estávamos reunidas naquela noite, gostávamos da
companhia umas das outras.
Escolhemos uma mesa entre o palco e
o bar, o que deixou todas satisfeitas com a localização. No meio da noite a
conversa estava bastante animada e ríamos muito. Como eu já tinha previsto, as
meninas estavam tentando me deixar bêbada e, apesar de conseguir me livrar da
maioria dos copos que me davam, estava começando a me sentir “alta”.
A fraqueza com bebidas alcoólicas
sempre era o ponto alto da noite para as minhas amigas, entretanto elas se
mantinham fiéis e não extrapolavam comigo, por isso eu conseguia terminar a
noite andando com as próprias pernas.
Como sempre fazíamos, depois de
algumas doses, óbvio, acompanhávamos a banda em alguma música do momento. Naquela
noite as meninas estavam com tudo, escolheram uma bastante insinuante e, antes
de cantarmos, apostamos quem conseguiria ser mais sexy, uma brincadeira que eu
jamais aceitaria se não estivesse bebendo. O cantor era um conhecido de outros
momentos de diversão e nos anunciou como a atração da noite, chamando a atenção
dos homens. Confesso que tive ímpeto de voltar para a mesa, mas me contive para
não desapontar minhas amigas.
Quando a banda começou a tocar,
estávamos totalmente empolgadas, pelo menos eu tentava ficar, então começamos a
cantar e a dançar. A plateia gritava e nós nos divertíamos. Era sempre muito
alegre quando saíamos e, apesar do clima de despedida ter nos deixado bastante emotivas,
estávamos realmente dispostas a
curtir tudo o que a noite poderia nos proporcionar.
Quando já tínhamos passado da metade
da música, Daphne me puxou pelo braço e mostrou no andar de cima uma pessoa
encostada na grade olhando fixamente para mim. Não consegui ouvir o que ela
dizia, mas percebi de imediato de quem se tratava. Como não perceber? Eu havia
olhado para ele todos os dias nos últimos dois anos de minha vida e agora ele
estava lá, imóvel como uma estátua, perfeito como um anjo.
Thomas Collins. Sua beleza era tanta
que não pude deixar de suspirar ao vê-lo. Só voltei à realidade quando Daphne
me rodou no palco mandando não dar bandeira. Fiquei sem graça de imediato sentindo-me
uma idiota olhando-o daquele jeito. Mas antes de desviar o olhar o vi sorrir de
maneira tão perfeita que me tirou o ar.
Todo o meu pensamento se voltou para
os problemas que poderia ter por causa daquela noite. Ele podia não saber quem
eu era, porém eu sabia exatamente quem ele era e, não apenas por se tratar de
quem se tratava, mas principalmente porque no dia seguinte ele seria o meu
chefe. A forma como Thomas Collins
tinha me olhado não me ajudaria muito a sustentar o personagem que interpretaria
quando estivéssemos juntos.
A música acabou e nós descemos do
palco sob uma chuva de aplausos, gritos e gracinhas dos rapazes que assistiram
nossa performance. Daphne e Anna adoravam a atenção que recebiam dos garotos da
boate. Eu normalmente ficava completamente sem graça. Quando passei, voltando
para a mesa, não pude evitar olhar mais uma vez para o andar de cima. Baixei a
cabeça imediatamente quando percebi que meu futuro chefe ainda estava encarava.
Seria mais difícil do que eu imaginava. Era importante que Thomas Collins não
tivesse nenhum interesse por mim, seria o mais saudável para o nosso trabalho.
— Caramba! É ele mesmo? Nem
acredito, o cara é mesmo muito lindo, não é? Não vai falar com ele? Se
apresentar? — Anna tagarelava ansiosa atrás de mim como sempre.
— De jeito nenhum! Teremos tempo de
sobra para nos conhecer amanhã. Espero sinceramente que esteja bêbado o suficiente
para não se lembrar de nada do que viu — fui seca. Eu estava morrendo de medo.
Que imagem ele teria de mim?
— Deixe de bobagem! Você ainda nem
começou a trabalhar, além do mais, está apenas se divertindo, que mal há nisso?
— Mia tentava me animar. — Ele não pode fazer nenhum juízo de você só porque
cantou e dançou com suas amigas. Thomas não tem nada a ver com a sua vida pessoal.
— Eu cantei e dancei de maneira
bastante sensual, Mia. Ele pode formar um monte de conceitos sobre mim por
causa disso, inclusive achar que pode se dar bem comigo. — enquanto pensava
nesta possibilidade, um calafrio me percorreu. Teria de ser bastante forte e
dura com ele para que nada acontecesse. Seria como jogar fora uma grande oportunidade.
Definitivamente, eu não queria isso.
— Acho que devemos brindar a
situação com mais uma rodada — Daphne sugeriu já levantando para buscar as
bebidas, mas eu a segurei dizendo que era a minha vez. Precisava me afastar um
pouco para organizar minhas ideias.
Caminhei em direção ao bar, tentando
me sentir mais segura. Parei no balcão para pedir as bebidas. Enquanto aguardava,
senti uma mão tocar o meu ombro, logo depois um rapaz muito bonito, loiro e
forte se sentou no banco ao meu lado, se apresentando. Ele me lançou um sorriso
encantador. Eu sabia exatamente quem ele era e podia imaginar o motivo de estar
ali.
Gelei.
— Oi, meu nome é Kendel, posso saber
o seu? — Deu um sorriso lindo, mas por trás havia a arrogância típica de
pessoas na sua posição.
Era um dos agentes do Thomas, Kendel
Miller, conhecido em toda a cidade como um garanhão, um conquistador, aliás,
classificação que também servia para o próprio Thomas.
— A princípio não, Kendel — peguei
minhas bebidas e levantei do banco indo embora.
Parte da minha fuga estava
relacionada ao fato de não querer ficar ali o ouvindo alimentar o próprio ego. Outra
ao fato de não querer conhecê-los antes da hora e formar uma imagem errada.
Mas, para ser bem mais sincera, eu queria realmente fugir do que ele pretendia.
— Olha, seja um pouco mais
receptiva, tá? Meu amigo quer muito conhecê-la, disse que não vai embora sem
antes lhe pagar uma bebida. Garanto que vai gostar de conhecê-lo — ele piscou
para mim e, tornando a conversa mais confidencial, acrescentou: — Acredite, muitas
garotas gostariam de estar no seu lugar — sorriu de forma maliciosa, certo de
que já havia conseguido o seu objetivo.
— Kendel, não é? — Fingi não lembrar
o nome dele. — Por favor, diga pro seu “amigo” que quem paga a minha bebida sou
eu e, que se ele for esperar por isso, sinto muito, mas irá morar aqui.
Levantei uma sobrancelha enquanto
falava e saí de forma desafiadora. Fui infantil, eu sei, mas foi impossível
evitar a raiva que senti pelo fato dele achar que pode ter qualquer garota. Kendel
até podia, mas eu nunca seria uma delas.
Quando cheguei à mesa, as meninas estavam
loucas querendo saber o que ele tinha me dito, além do motivo de eu ter saído
com raiva. Elas tinham prestado atenção. Ótimo. Parece que o assunto não seria
encerrado naquela noite. Expliquei o ocorrido a elas que caíram na gargalhada.
— Você não muda mesmo, hein Cathy? Sempre
tão difícil com os homens. Conhecê-lo não vai lhe fazer mal algum — Stella ria
da minha cara irritada.
Logo a conversa mudou de rumo, o que
me fez ficar grata. A história já havia recebido toda a atenção que deveria.
Além do mais, já tinha decidido que deixaria para pensar sobre ela no dia
seguinte.
Após alguns minutos conversando e
desfrutando das nossas bebidas resolvemos nos levantar para dançar. Foi ótimo!
Eu adoro. Simplesmente me esqueço do mundo. É uma liberdade para o meu corpo
sempre tão preocupado com o que as pessoas estão pensando a meu respeito.
Estávamos bem animadas e nos
apoderamos da pista. Sabíamos que as pessoas nos observavam, éramos todas
bonitas, cada uma do seu jeito e, no geral, chamávamos bastante atenção. Por um
momento esqueci que ele também estava lá. Achei que depois da minha resposta
iria procurar outra garota para se divertir.
Não sei porque fiquei um pouco
decepcionada com esse pensamento. Balancei a cabeça tentando expulsar aquele
sentimento e me entreguei à dança não pensando mais em nada. Meu corpo recebia
com prazer todo o calor dos outros corpos na pista e em pouco tempo já estava transpirando
e precisando de mais uma bebida.
Stella, Anna e Daphne saíram da
pista de dança. Não consegui saber para onde iam, no entanto, pelos risinhos emitidos,
percebi que estavam aprontando alguma brincadeira. Comecei a me preparar
psicologicamente.
Mia me pediu para buscar mais
bebidas. Saímos e fomos juntas ao balcão. Eu precisava escapar rapidamente de
qualquer coisa que as meninas estavam aprontando, então tentei ser rápida o suficiente
para chegar à mesa e simplesmente me acorrentar lá, porém quando me virei,
rápido demais, deparei com Thomas Collins em pessoa. A bebida sujou sua camisa
e escorreu pelo decote da minha, passando de maneira insinuante pelos meus
seios que, automaticamente, enrijeceram com o contato. Não pude evitar levar as
mãos ao decote, arquejando pelo contato do líquido gelado com a pele e ele
sorriu com a minha reação.
— Eu gostaria de poder ajudar, mas
até onde sei, não tenho permissão para conhecê-la e terei de morar aqui se quiser
fazer isso — ele estava brincando, é claro, mas eu fiquei envergonhada na mesma
hora.
— Desculpe! — Eu me desculpava pelas
duas coisas, pela resposta desaforada e pela camisa dele. — Acho que estraguei
a sua camisa.
Antes que eu conseguisse terminar a
frase, as meninas surgiram do nada e me agarraram, puxando-me para algum lugar
distante dele. Todas riam muito. Só quando estava a caminho, percebi para onde
estavam me levando. Os tequileiros! Agora estava na maior enrascada. Iria ficar
bêbada na frente do meu chefe. Meu Deus! Ele teria a pior de todas as imagens
de mim. Comecei a protestar e choramingar mas não adiantou. Antes de subir o
degrau e me sentar na poltrona, Mia sussurrou no meu ouvido:
— Não se preocupe, não deixarei nada
acontecer a você.
Acordei em meu quarto. O sol já
estava há muito tempo brilhando no céu. Levantei rápido demais indo direto ao
chão. Minha cabeça doía muito e meu estômago estava revirado. Só então me dei
conta de que estava nua e que Mia estava dormindo ao meu lado.
— Meu Deus! O que aconteceu? — Falei
alto o suficiente para acordá-la, fazendo minha cabeça doer ainda mais.
— Caramba, Cathy! Você não consegue
dormir quieta um só minuto? Mexeu-se a noite inteira. Eu mal consegui pregar os
olhos.
— Mia, o que estou fazendo sem
roupas, deitada com você em minha cama? — Senti meu estômago revirar.
Mia riu olhando para mim,
cinicamente:
— Não se lembra de nada? Caramba! Achei
que você tinha gostado — fez beicinho, demonstrando sua decepção.
— Por favor, diga que é mentira —
quase chorei de pânico.
Mia estava gargalhando.
— O que acha que aconteceu, sua
doida? Você bebeu demais, os tequileiros a deixaram louca e eu a trouxe para
casa como prometi. Como vomitou em toda a roupa, eu te joguei embaixo do
chuveiro, depois você se deitou. Quando eu estava saindo me pediu para ficar e
cuidar de você. Apenas isso. Você deve ser maluca mesmo. De onde tirou a ideia
de que eu poderia gostar de mulher? Nada contra, mas acho que já conviveu tempo
demais comigo para saber que meu negócio é homem — ela não parava de rir.
Respirei aliviada por um segundo,
até me lembrar de que não fazia a menor ideia de como havia saído da boate,
aliás, eu não tinha a menor ideia do que aconteceu depois dos tequileiros. O ar
voltou a me faltar. O que ele havia presenciado?
— Mia, o que aconteceu depois
daquilo?
— Nada. Eu já tinha dito para as
meninas que eu a pegaria logo em seguida e tiraria de lá. Não o deixamos ter nenhum
contato com você bêbada. Pode relaxar.
Fiquei mais tranquila, no entanto lembrei,
imediatamente, que me mudaria naquele dia e deveria estar, no mínimo, apresentável.
Levantei lentamente e fui direto para o banheiro. Tomei um banho demorado,
depois gastei algum tempo secando o cabelo até ele ficar totalmente liso; era o
mínimo que poderia fazer para melhorar a minha imagem. Eu gostava do meu cabelo,
longo e volumoso. Estava loiro, mas já foi de diversas cores. Eu e minha
vontade de mudar de cara sempre. Ou quem sabe de fugir do que sou.
Olhei-me no espelho e gostei da
imagem. Aos 23 anos havia conseguido o corpo que desejava. Livrei-me dos seios
pequenos, que me faziam parecer uma adolescente, colocando um pouco de
silicone, nada muito exagerado, apenas o suficiente para fazer volume num
decote. Tinha malhado muito enquanto estudava na universidade, ganhando formas
mais firmes, arredondadas nas pernas e na bunda, mantendo a cintura bem fina. Gostava
do meu corpo! Isso era inacreditável, já que as mulheres ficam o tempo todo
insatisfeitas com algo. Eu não fugia ao padrão, no entanto isso não acontecia
em relação ao meu corpo.
Voltei para o quarto me deparando
com um conjunto estendido sobre a minha cama. Mia! Constatei com carinho. Ela havia
escolhido uma saia creme, não muito comprida, nem muito curta, que modelava
perfeitamente meus quadris. Uma blusa branca justa ao corpo com uma abertura
que revelava meus ombros, além de um casaco preto de cintura afivelada. Para os
pés, um sapato alto preto, totalmente fechado que valorizava bastante meus
tornozelos.
— Sem revelar, mas também sem
esconder — Mia entrou no meu quarto com aquela sutileza só dela e me abraçou. —
Vou sentir sua falta!
— Eu também — as lágrimas já estavam
querendo descer. Desviei meu olhar. — Preciso me apressar, não posso me atrasar
no primeiro dia de trabalho.
— Vai chamar um táxi?
— Não. Helen vai mandar um carro me
buscar.
— Helen é a pessoa que te contratou?
— Isso. A manager. E também uma
espécie de chefe dos agentes, entendeu? Na verdade seu cargo é a central de
comando, tudo deve passar por ela. Eu serei uma espécie de braço direito,
ficarei com todas as atividades relacionadas ao dia a dia de Thomas Collins.
— O Gato, lindo e maravilhoso dos
filmes! Que trabalho difícil! — Sua ironia chamou a minha atenção.
— Quer que eu vá ou não? Ontem era o
trabalho perfeito, hoje uma besteira.
— Não estou dizendo isso. Apenas
acho que este trabalho será muito importante em sua vida.
— Como assim?
— Não sei. Ontem sonhei com vocês
dois se beijando — Mia levava a sério os seus sonhos. Sempre acreditava que era
uma espécie de premonição. Eu apenas achava graça, principalmente porque nem
sempre dava certo e o que acontecia era tão previsível que seria impossível não
se realizar.
— Está doida? Ele é o meu chefe
agora. Não posso pensar nele de outra maneira. Além do mais, nunca fui dessas
que ficam suspirando por um ator lindo e maravilhoso — sorri, sabendo que era
mentira. Eu sempre suspirara por Thomas Collins.
— Foi só um sonho e você até ontem
suspirava por um certo ator que ficava bem aqui na sua porta — abracei-a e senti
muita vontade de chorar, porém me segurei. Nada mais de despedidas. Precisava
me apressar.
— Vou me vestir. Preciso ir — tentei
disfarçar.
Bastou ver o carro que foi me buscar
para perceber minha nova realidade. Era um Acura MDX, preto, lindíssimo. Eu adorava
carros. Fiquei boquiaberta com tamanho luxo e design. Com certeza seria uma maravilha
dirigir um modelo daqueles, era uma pena ter motorista. Entrei me sentindo um
pouco fora do meu mundo.
Minha família não era pobre, também
não possuíamos dinheiro para viver com luxo. Vivíamos bem, com certo conforto.
O carro do meu pai era sempre um modelo chamativo, por causa do seu trabalho e
o de minha mãe era qualquer coisa que servisse para me buscar na escola. Meu pai
era um apaixonado por veículos automotivos.
Sentia-me frustrada por perceber
que, mesmo tão distantes, havia tanto dele em mim. Voltei a pensar em minha
mãe. Gostar de carros deveria ser um problema, afinal fora um carro que a
tirara de mim, mas mesmo depois de todos os acontecimentos, de tanto
sofrimento, eu continuava louca por eles.
Quando paramos em frente à casa, fui
arrancada dos pensamentos para entrar em uma realidade nunca antes vivenciada.
A casa era linda! Tão em sintonia com o restante do ambiente, esculpida pelas
mãos de Deus, ou do melhor arquiteto e engenheiro do mundo. Com certeza! Era grande,
porém não como as mansões das estrelas de cinema. A sua entrada era uma mistura
de simplicidade e glamour. Branca com imensas janelas de vidro. Eram tão
grandes que mais pareciam portas. Muito bem localizada na Palisades Beach Road,
de frente para o mar. Havia um muro muito alto que impedia qualquer pessoa de
enxergar o seu interior, o que lhe dava total privacidade.
Fiquei parada, sem saber o que
fazer. O motorista retirou as minhas malas e me avisou que esperavam por mim na
sala principal. Fui em direção ao local que ele apontou. Levava uma pequena
bagagem de mão, com algumas coisas que iria precisar para a primeira reunião,
como meu Smartphone e
meu notebook,
por exemplo, alguns dos presentes do meu pai que eu me vira obrigada a aceitar.
Eles tinham providenciado um computador que deveria estar em meu quarto.
Abri a imensa porta e me deparei com
um corredor revestido de madeira clara, dando acesso a um enorme vão muito bem
decorado, totalmente clean. Dei
alguns passos tímidos e tive uma visão mais ampla do ambiente. Dividia-se em
duas salas, a primeira com alguns sofás formando um ambiente aconchegante e,
mais atrás, a de jantar, completa. Ao lado ficava um declive com alguns degraus
ligando a o ambiente a outro. Ao me aproximar, ouvi vozes não muito distantes.
Reconheci a de Helen e me encaminhei para lá.
A sala onde todos estavam era algo
espetacular! De onde eu estava podia ver um ambiente lindíssimo, com alguns
sofás, cadeiras de madeira com forros brancos e algumas poltronas. “Muito
apropriada para uma reunião”, pensei sorrindo. A vista foi o que me chamou mais
atenção. Outra porta, de correr, toda de vidro dava a impressão de que retinha
o mar. Tão azul!
— Ah! Você chegou! Bem na hora.
Estava agora mesmo falando sobre você com os rapazes. Venha, deixe-me apresentá-la.
Meninos comportem-se, por favor! Essa é Catherine Brown, a nova assistente
minha e do Thomas, como já havia explicado. Catherine, estes são Thomas Collins, Dyo Green e
Kendel Miller.
— Oi, outra vez, Cathy! — Kendel se
aproximou com um sorriso gigantesco no rosto.
Não gostei, por isso não retribuí o
sorriso. Não me senti a vontade com a sua intimidade com o meu nome, pois era
algo que eu só permitia a meus amigos. Apenas apertei sua mão como resposta. Os
outros rapazes limitaram-se a acenar de onde estavam, inclusive Thomas, que
parecia bastante cansado, apesar de estar olhando fixamente para mim. Acenei de
volta. Será que ele contaria que me conheceu na noite passada? Será que vira
algo que não deveria? Fiquei um pouco tensa.
Todos sorriam com a coincidência. Eu
consegui perceber quando trocaram olhares, deixando-me ainda mais sem graça.
Implorei intimamente para que Helen não tivesse notado. Não sabia o que ela
pensaria de mim se soubesse do que tinha acontecido no dia anterior. Com
certeza a manager de um artista famoso esperaria uma postura mais séria de mim,
adequada para uma profissional competente.
— Bem, Cathy, estávamos terminando a
reunião. Vou passar mais algum tempo com você e depois trabalharemos um pouco na
rotina. Terá a tarde livre para arrumar as suas coisas. Lembre-se de que
viajaremos em dois dias e só voltaremos daqui a uma semana.
Helen parecia um pouco preocupada
com a reação dos rapazes, porém não disse nada, o que me fez sentir melhor em
relação à situação. Seu jeito sempre carinhoso de falar lembrava a minha mãe,
como se quisesse sempre confortar. E eu me sentia mesmo bastante confortável
com em sua presença, tanto que nem me incomodei por ter usado meu apelido.
— Certo — sorri para ela, o que não
era difícil.
Passei o restante da manhã com Helen
me ensinando os procedimentos e passando toda a agenda programada até o fim do
ano. Ela me explicou que, apesar de tudo ser organizado com antecedência, as
coisas mudavam o tempo todo, seguindo o ritmo ditado pela popularidade de
Thomas e que estávamos em uma ótima fase, com novos trabalhos aparecendo o
tempo todo.
Existiam novas propostas,
automaticamente enviadas para o meu novo endereço de e-mail, que eu deveria
analisar e verificar a disponibilidade até o outro dia pela manhã, quando haveria
outra reunião. Teria que me lembrar dos eventos anuais do cinema mundial e seus
respectivos personagens que estavam programados, pois já contavam com a
participação do Thomas, exigindo atenção especial para essas datas. Muito trabalho,
então.
Almoçamos juntas e, durante todo o
tempo não vi nem ouvi Thomas pela casa. Quando acabamos, Helen me levou até o
meu novo quarto, no andar de cima, deixando-me lá para arrumar as minhas coisas.
As malas estavam ao lado da cama, esperando por mim.
Fiquei boquiaberta com o aposento.
Era tão grande que eu poderia morar nele. A decoração seguia o bom gosto do
restante da casa. O padrão era o mesmo, uma imensa janela de vidro tendo como
pano de fundo uma linda visão do mar. Cortinas brancas, bem leves, uma cama enorme,
com cobertores brancos, encostada na outra parede, de frente para paisagem. Ao
lado, o criado com um abajur. Achei ótimo, teria luz para dormir sem problemas.
Antes da cama, havia uma
espreguiçadeira branca tão bem acolchoada que poderia facilmente servir como
lugar para dormir. Um tapete se estendia por baixo dos móveis e uma mesa de
centro de madeira rústica com alguns objetos de decoração. Olhei ao redor e me
dei conta da outra sala que dava acesso a duas portas, closet e banheiro.
Arrumei as coisas mais rápido do que
pensei, afinal era muito espaço para tão poucos pertences. O que havia de mais
volumoso eram os meus livros, a maioria técnicos, saldo da universidade e do
MBA. Arrumei-os meticulosamente na prateleira do quarto. Combinaram com o
ambiente. Como tinha tempo de sobra, resolvi trocar de roupa. Vesti um short e
uma regata, já que ficaria presa no quarto o restante da tarde, e comecei a
arrumar uma mala para a viagem.
Separei as peças e deixei na cama para
depois organizá-las. Quando estava quase terminando, ouvi uma batida leve na porta,
que logo foi aberta, revelando Thomas já entrando no quarto. Fiquei branca! Não
sabia o que fazer. O que ele queria?
— Oi! — ficou meio sem graça. Será
que percebeu minha apreensão? Eu precisaria ter cuidado com minhas reações na
sua presença, não poderia demonstrar o quanto me intimidava, do contrário ele
ganharia território.
Seus olhos percorreram meu corpo, aparentemente
surpresos com a minha roupa. Minha vontade era que se abrisse um buraco no chão
e me engolisse. Como eu podia ter sido tão descuidada? Onde estava com a cabeça
ao me vestir tão à vontade no meu primeiro dia de trabalho? Fiz uma nota mental
para prestar mais atenção nas minhas roupas de forma a não cometer tal deslize novamente.
— Oi! Ah, desculpe, eu estava
arrumando as coisas, não sabia que alguém apareceria. Dê-me só um minuto, vou
me trocar — virei em direção ao closet, mas ele me interrompeu.
— Não. Não precisa. Desculpe-me por
aparecer sem avisar. Quanto à roupa, fique a vontade, você também mora aqui,
aja como se a casa fosse sua, por favor! — Ele me lançou um olhar tão
penetrante que acabou com as minhas forças em um segundo.
Se eu permitisse, logo estaria
suspirando enquanto o admirava. Consegui recompor minhas feições a tempo. Estava
parecendo uma fã apaixonada e isso era tudo o que não poderia ser naquele
momento.
— Se não conseguir relaxar, vai ser
difícil trabalhar. Vim dizer exatamente isso. Como dono da casa sinto-me na
obrigação de dar-lhe as boas-vindas e dizer que pode desfrutar de todas as
áreas da casa, piscina, praia particular, sala de vídeo, tudo — sorriu de forma
perfeita.
Era incrível como um sorriso caía
tão bem num rosto tão perfeito quanto o dele, que por sinal, sabia muito bem
disso. Não era à toa que sempre sorria na hora certa, como se estivesse sendo
dirigido numa cena de filme. A única coisa que pensei foi como conseguiria escapar
daquilo.
— Você está planejando fugir? —
Fiquei um pouco surpresa com a pergunta. Como eu poderia ter dado a entender
que queria fugir?
— O que?
— A mala. Parece que você está
arrumando, não desarrumando — riu da minha confusão.
— Ah! Eu estou arrumando mesmo, para
a viagem. Gosto de minhas coisas organizadas.
— Mas viajaremos só depois de amanhã.
— Eu sei, mas terei um dia cheio e iremos
no outro bem cedo. Prefiro não fazer as coisas correndo, principalmente tendo
tempo livre agora. Quer ajuda com as suas?
— Você não precisa fazer isso por
mim — Thomas se referia às minhas obrigações como assistente, no entanto eu já
sabia o quanto ele era desorganizado e displicente, então é claro que esta
seria uma das minhas obrigações de agora em diante.
— Eu sei, por outro lado, sou
responsável pela sua agenda e por fazê-lo cumprir os compromissos. Meu início
neste emprego seria um fiasco se você atrasasse nossa viagem porque não conseguiu
organizar a sua mala a tempo — sorri inocentemente para ele, que sorriu de
volta. — Ou então, se por causa da falta de tempo, você não levasse o mais
adequado.
— Nesse caso, fique à vontade, meu
quarto é aqui ao lado — indicou o caminho com a mão. Eu hesitei um momento,
pensando na informação que tinha acabado de receber. O quarto dele era ao lado
do meu, isso seria no mínimo constrangedor e no máximo uma tentação muito
perigosa, exatamente o que não deveria acontecer. Fechei a mala imaginando que
estava fechando o meu coração e aproveitei para lacrá-lo.
Fui ao quarto de Thomas, que era tão
lindo quanto o meu. Percebi que sua varanda o ligava a minha, separados apenas
por um pequeno muro com espaço para flores. Ele me indicou o caminho para o
closet informando-me a respeito das suas preferências. Enquanto eu arrumava a
mala, meu chefe aproveitou para tomar um banho. Rezei para que demorasse o suficiente
para eu terminar tudo e ir embora.
Para o meu azar, não foi o que
aconteceu. Quando estava acabando de arrumar as roupas dentro da mala, ele saiu
do banheiro só de toalha. Foi involuntário. Meus olhos percorreram todo o seu
corpo. Fiquei maravilhada com tanta perfeição.
Thomas era exatamente o meu padrão
de beleza masculina. Um corpo harmonioso, com músculos muito bem definidos, sem
exageros, o que não o deixava perder a forma magra. Seu peito e abdômen eram o
retrato da perfeição, uma estátua de Adônis não faria jus a tanta perfeição. Um
caminho guiado por pelos levaram meus olhos até o limite da toalha; fiquei constrangida
com a minha indiscrição e imediatamente desviei o olhar.
Ele sorriu de maneira fantástica, me
prendendo cada vez mais aos seus encantos, e veio em minha direção. Thomas Collins
sabia que eu estava encantada e essa ideia me atirou ao poço. Fechei os olhos e
abaixei a cabeça. O que ele ia fazer? Sua mão roçou de leve o meu rosto e o
toque de sua pele na minha lançou chamas pelo corpo inteiro. Isso era tão
absurdo! Nunca tinha deixado ninguém me desarmar dessa forma. Nunca a minha
pele havia se comportado assim. Onde estavam as minhas defesas?
De repente a imagem da minha mãe
deitada em sua cama, chorando a tristeza de mais uma decepção invadiu a minha
mente. Então consegui me lembrar de por que deveria de fugir desses sentimentos
e sensações. Antes que ele dissesse qualquer coisa, me virei em direção à
porta.
— Está tudo pronto. Preciso ir
agora. Vou começar a organizar a agenda e analisar as propostas — quase corri.
Ouvi a sua risada baixa antes de
bater a porta atrás de mim. Fui direto para o meu quarto e me tranquei lá pelo
resto do dia. Não saí nem para comer, com medo do que poderia acontecer.
Repensei todas as formas de reerguer as minhas barreiras e, pela manhã, já
estava mais fortalecida para enfrentar aquela batalha. O pior era que teria de
lutar contra mim mesma. Contra o meu corpo.
Capítulo 2
Esclarecendo as Coisas
VISÃO DE THOMAS
A
|
quela
noite fui arrastado para a boate. Eu estava cansado, havia passado a noite
anterior praticamente acordado com... Como era mesmo o nome dela? Não
importava, agora era apenas mais uma a quem prometi que telefonaria no dia
seguinte. Coitada! Como elas se deixavam enganar com tanta facilidade? Tive que
rir do meu pensamento.
Na verdade, eu acredito que as
mulheres gostam de ser enganadas. Prendem-se na ilusão de que sua atitude será
valorizada. Pura ilusão. Quando um homem quiser realmente ficar com uma mulher para
sempre, suas atitudes serão outra. Não que eu já tenha sentido isso, mas
acredito que, quando o amor aparecer, será impossível fugir dele. Vejo em cada
mulher com quem vou para cama um pedido explicito para que eu minta, então,
satisfaço as suas necessidades.
Kendel e Dyo insistiram tanto para
sair que acabei aceitando, afinal o que poderia acontecer de errado ao sair com
alguns amigos. Quem sabe não conheceria alguém interessante? Pelo menos para o
que eu achava interessante nelas.
Nunca tinha ido àquela boate, então
não sabia o que esperar. Como eles me garantiram que era muito discreta e que
daria para ficar lá sem precisar tirar fotos e dar autógrafos para fãs o tempo
todo, fui mais relaxado. Kendel às vezes era impulsivo. Ele aproveitava todas
as vantagens da minha fama e parecia sentir muito prazer em arranjar mulheres
para nós dois. Eu também me divertia com a situação, é claro. Ele fazia o
primeiro contato para não me expor muito e depois eu assumia o comando. Bastava
um olhar mais penetrante e já via as garotas prenderem a respiração. Era tão
fácil!
Fácil demais! Muitas vezes
frustrante. Gostaria que fosse diferente ao menos uma única vez, gostaria de
ter que lutar por algo. Talvez fosse um pouco mais divertido encontrar uma mulher
que não me quisesse tão rápido. Não que eu quisesse me apaixonar, o que eu
quero está bem longe disso. Na verdade sempre acreditei que um dia deveria encontrar
alguém para amar, porém esse dia não chegaria tão cedo. Pelo menos não enquanto
tivesse tantas mulheres disponíveis e, principalmente, não enquanto estivesse cercado
de pessoas que só queriam se aproveitar um pouco da minha fama, que era o caso
de todas com quem eu me relacionei até hoje.
Passamos com facilidade pelos
seguranças e, assim que entrei, percebi a presença dela. Linda! Muito linda!
Uma beleza singular. Dificilmente passaria despercebida por mim. Fiquei
olhando-a por um bom tempo até Kendel me levar para o andar de cima, mais
reservado. Uma pena, ela estava no andar de baixo com um grupo de amigas.
Parecia se divertir, porém alguma coisa em suas feições dava a entender que
estava fora do seu ambiente. Parecia estar ali apenas para agradar as demais.
Falava pouco e mantinha os olhos baixos. Tímida, com certeza.
Não sei por qual motivo a garota não
saía da minha cabeça. Havia algo diferente nela, que me confundia. Apesar de
ser realmente muito linda não havia nada que a diferenciasse das outras com
quem eu sempre me relacionava. De certa forma fiquei incomodado por perder
tanto tempo apenas pensando e não tomando providências para consegui-la. Tentei
me concentrar no que Kendel falava, mas apenas sorria às vezes, como se estivesse
prestando atenção.
Quando o cantor da banda que estava
servindo de karaokê anunciou
o que seria a grande atração da noite, principalmente para os homens, dei
risada e me virei de costas para o palco. Sinceramente, acho que nada do que
aparecesse ali poderia ser interessante, nem mesmo um monte de mulheres
cantando e dançando.
— É a garota para quem você estava
olhando e as amigas dela — Dyo me informou discretamente.
Corrigindo o que disse: isso seria
realmente interessante. Eu me virei para olhar o palco com mais atenção.
Apoiei-me na balaustrada para observar melhor. Ela estava visivelmente sob o efeito
de álcool, não bêbada, apenas alegre. Era ainda mais bonita do que eu pensava.
Um rosto ainda infantil, com feições finas e um sorriso largo. Os cabelos
desciam em ondas até a cintura, a cor, não conseguia definir exatamente, devido
às luzes que eram jogadas nela e em suas amigas. Aparentava ser alguma cor
clara, loiro talvez. Mas o corpo, esse eu conseguia ver com perfeição.
Ela era magnífica. Pernas grossas no
ponto certo e quadris que tinham o volume ideal para a cintura fina que exibia.
Estava usando uma calça justa desenhando todo o corpo, que observei com prazer.
Uma camisa fina sobreposta a outra, com um decote profundo permitindo que seus
seios firmes pudessem ser apreciados. Senti a excitação tomar conta do meu
corpo na hora. Queria aquela mulher! Teria aquela mulher naquela noite. Todo meu
cansaço desapareceu.
Elas iriam cantar? Isso eu fazia
questão de ver. O que levaria uma garota tímida a subir num palco para cantar
com as amigas?
Quando a música começou, não sei o
que me deixou mais surpreso. A voz linda e perfeitamente afinada delas, a letra
extremamente sensual da música escolhida, ou a dança tão insinuante que a
garota que roubava a minha atenção, fazia, principalmente depois dela ter
demonstrado ser tímida. Fiquei fascinado. Ela devia ser uma fera na cama, com
aquele jeitinho meigo e doce misturado com tanta sensualidade.
Fiquei observando, fascinado pela
sua desenvoltura, quando então percebi uma amiga dela indicando onde eu estava.
A garota me olhou depois baixou a cabeça, envergonhada. Que ótimo! Antes da música
acabar, já estava decidido a possuí-la. Esse seria o meu objetivo da noite.
Mandei Kendel providenciar, como eu sempre fazia. Seria fácil!
Ela havia ficado admirada com a
minha presença, devia ser uma fã. Não era bem o que eu costumava fazer, dormir com
fãs era quase um tabu para mim. Preferia pessoas que pertenciam de alguma forma
ao meu meio, como modelos, atrizes ou alguém de trás das câmeras. Aquela garota
seria uma exceção às minhas regras.
Observei Kendel descer para cumprir
mais uma missão e, quando subiu sozinho, fiquei surpreso. Ele ria da situação.
— Ela fez jogo duro. Disse que eu
não poderia saber o nome dela e que se você for depender dela para alguma coisa
vai ter que morar aqui na boate — explodiu em risadas. — Acho que a menina não
sabe quem você é. Vá lá pessoalmente, que eu quero ver se ela não cede — ele
adorava isso. Quando as garotas sabiam quem eu era tudo se tornava mais fácil,
e ficavam tão deslumbradas que qualquer coisa relacionada a mim era lucro. Até
se envolver com Kendel.
— Vamos aguardar. Deixe que espere um
pouco mais — estava certo de que sairia de lá com ela em meus braços, então,
para que acelerar as coisas?
Enquanto pensava em como a
abordaria, observei-a na pista dançando mais uma vez com as amigas. Era
impressão minha ou ela se transformava quando era levada pela música? Parecia
outra pessoa, mais leve, solta, totalmente entregue. Que mulher era aquela? Em
apenas algumas horas já havia testemunhado várias de suas personalidades. Era realmente
incrível como agia de forma diferente em cada situação. Fiquei satisfeito com a
grande admiração que estava sentindo. Seria algo diferente, como vinha
desejando.
Observei quando saiu da pista e,
depois de um tempo, resolvi descer para acabar de uma vez com isso. Ela estava
no bar com uma amiga comprando mais bebidas. Como ainda conseguia beber? Seu
estado já estava bem alterado e ainda queria mais? Decidi que deveria chegar
antes do álcool ou então não valeria a pena. Não que eu nunca tivesse estado
com mulheres completamente embriagadas, muitas vezes era até engraçado todas as
loucuras que topavam por conta do estado alcoólico. Porém, aquela garota era
diferente, alguma coisa me dizia que beber mais não iria contribuir em nada
para a nossa noite.
Fui em sua direção com tanto ímpeto
que acabamos nos chocando quando ela se virou. Não pude deixar de sorrir quando
vi seu rosto ficar lindamente vermelho e fiquei ainda mais excitado quando
percebi que seus seios ficaram rijos em contato com a bebida. Claro que eu não
perderia esse detalhe do seu corpo.
Mal conseguimos trocar algumas
palavras e suas amigas apareceram para tirá-la de mim. Fiz um sinal com a cabeça
para Kendel ir atrás delas, enquanto fiquei sentado um pouco no bar, observando
o que estavam aprontando. A impressão que tive era que ela estava em pânico.
Foi tudo tão rápido que não pude fazer nada e a garota sumiu de minhas vistas.
Kendel voltou logo depois dizendo que tinham pegado um táxi e ido embora.
Eu nem sabia seu nome.
Quando acordei pela manhã, estava
cansado e com dor de cabeça. Helen já estava entrando em meu quarto para me chamar.
Teríamos uma reunião logo cedo. Fui para o banho e fiquei por lá um tempo, até
me sentir melhor. A garota da noite anterior não saía da minha cabeça. Com
certeza era a frustração por não ter conseguido levá-la para a cama. Agora não
havia mais o que fazer. Ela tinha ido embora e eu não sabia nada a seu respeito.
A única coisa que consegui descobrir, através de um segurança da boate, é que
ela era linha dura com os homens que tentavam se aproximar. Sorri para este
detalhe. Teria sido um prazer ficar com ela. Exatamente o que eu desejava,
alguém que lutasse contra o que eu queria, mas que acabasse cedendo, é óbvio.
A reunião foi como sempre: longa e
cansativa. Não entendia por que precisava participar, era só alguém depois me informar
o que ficara decidido. Falamos da agenda, das propostas e todo o resto. Helen agradecia
a nova assistente que chegaria a qualquer momento, pois assim ela conseguiria ter
um pouco de paz. Essa nova integrante do nosso grupo tinha sido escolhida a
dedo pela minha manager. Com certeza era alguma nerd gordinha, baixinha, com
aparelho nos dentes e óculos. Esta era a única imagem que eu conseguia formar.
Também, com um currículo como o dela, não poderia imaginar o contrário. Uma pessoa
que dava prioridade aos estudos mesmo sendo tão jovem, com certeza, não teria uma
vida sexual ativa. Dei uma risada alta com este pensamento.
— Do que você está rindo? — Helen quis
saber.
— De nada. Estava apenas me
perguntando em como deve ser esta garota — ri novamente, desta vez Dyo e Kendel
me acompanharam.
— Bom... Isso vocês verão com seus
próprios olhos. Ela é uma figura rara. É séria e parece muito competente.
Entende de informática, é bastante organizada, porém acredito que, num
determinado aspecto, terei alguns problemas em relação ao comportamento de
vocês. Por favor, se comportem quando a garota chegar, aliás, se comportem
sempre com ela, pelo amor de Deus. Deu o maior trabalho escolher alguém e esta me
parece perfeita para o cargo.
A conversa fluiu um pouco, eu
desejava apenas subir para o meu quarto e voltar a dormir. Precisava me
recuperar das duas noites anteriores ou então iria parecer um zumbi. Foi quando
ouvi Helen cumprimentar alguém. Levantei as vistas para verificar. Fiquei paralisado.
Era a mesma garota da noite passada. Vestida mais seriamente e sem os efeitos
do álcool, mas era ela! Ainda mais bonita do que quando a vi pela primeira vez.
Helen a apresentou para a equipe, mas eu não consegui falar nada. Só captei o
nome dela que era Catherine.
Kendel tinha tomado a frente, como
sempre fazia. Decidi ficar quieto no meu canto, observando. Helen não gostava
quando nos interessávamos por uma garota e atrapalhávamos os seus planos, como
muitas vezes já havia acontecido, então eu iria aguardar a hora certa para
falar com a nova assistente. Além do mais, Kendel estava representando seu
papel habitual: o de babaca sem noção com as mulheres, enquanto Cathy, como
todos a estavam chamando, ficava incomodada com sua proximidade e intimidade.
Eu gostava do Kendel. Ele era meu
amigo de verdade, mas, sinceramente, era totalmente descuidado nas suas atitudes
com as mulheres. Às vezes me perguntava se ele acreditava que as coisas que
fazia eram mesmo necessárias para conquistá-las.
Fiquei visivelmente surpreso com a
coincidência. Até minutos atrás, já tinha dado tudo como perdido e agora ela
estava ali, na minha frente, seria minha secretária, assistente, sei lá o que!
Tão perto que eu podia simplesmente esticar o braço e pegá-la. Olhei para Dyo e
não pude deixar de sorrir, ele retribuiu.
Quando Helen nos dispensou, fui
direto para o meu quarto e me joguei na cama, onde fiquei um tempo pensando na
feliz coincidência. Como seria agora que morávamos na mesma casa? Senti-me
confortável com essa realidade. Ela era linda, e séria, pelo menos na frente da
Helen tinha se comportado assim. Mais uma personalidade para aquela figura
interessante. Adormeci pensando nela.
Acordei com Helen no pé da minha
cama. Ela não ficava constrangida por entrar no quarto ou invadir a minha
privacidade, apesar de sempre me dar espaço. Lembrava a minha mãe, apesar de
ser mais jovem. Sentia falta da figura materna. Ela não podia ficar comigo o
tempo todo, na verdade, não podia quase nunca, eu que ia sempre à sua procura.
Não a culpava, tinha dois filhos pequenos, frutos do seu segundo casamento e,
além do mais, eu morava em outro país, o que dificultava ainda mais as coisas.
Helen estava grávida de quase três
meses e toda orgulhosa. Todos nós estávamos, mesmo isso significando o seu
afastamento do grupo, o que era lamentável, mas ela nasceu para ser mãe, era a
sua maior qualidade e olha que tinha muitas. Eu gostava da minha manager.
— Que foi que eu fiz agora? — Estiquei
o corpo para espantar a preguiça.
— Não sei. Diga-me você? Qual foi o
motivo do risinho entre vocês quando Cathy chegou? — Ela tinha percebido, é claro! Helen nunca
perdia nada. Por isso ocupava essa posição na minha equipe. Era muito astuta.
— Nada, apenas achamos uma coincidência
feliz. A garota estava ontem na mesma boate em que nós estávamos — não
conseguia esconder nada dela e, mesmo que tentasse, Helen acabaria descobrindo,
então poupei esforços.
— E? — Onde ela queria chegar? Eu já
tinha dito o mais importante.
— E nada, Helen. A garota nem olhou
para a gente. Ela é tão séria quanto foi aqui em casa. Apenas isso — não estava
mentindo apenas omitindo meu interesse pela minha nova assistente.
— E? — Insistia.
— Tá legal! Achei Cathy linda, e é
mesmo, como posso negar? — Pronto. Agora ela iria pegar no meu pé.
— Thomas, Catherine agora é sua
funcionária — atirou uma almofada em mim, como reprovação. — Eu gostei dela.
Nada de paquera-la, por favor! Respeite-a pelo amor de Deus! Isso pode gerar um
problema sério. Eu sabia que iria acontecer — Helen ia começar um discurso.
— Tudo bem! Sei e você tem toda a
razão, não vou fazer nada. Sente-se melhor assim? — tinha que prometer ou então
ela iria dar um jeito de afastar a garota dali. Seria um desastre para mim.
— Outra coisa — suspirei fingindo
irritação e Helen riu de minha atitude.
— É sério! Cathy agora mora aqui
também — “feliz realidade”. Pensei. — Você é o dono da casa, seja um bom
anfitrião e vá dar as boas-vindas, deixe-a mais à vontade — olhei para ela, surpreso.
— Mas você acabou de dizer para eu
não incomodá-la.
— Dar boas-vindas não é incomodar.
— Mas eu só conheço uma maneira de
fazê-la ficar mais à vontade comigo — lancei meu sorriso inocente, ela puxou
meu lençol me colocando para fora da cama.
— Troque de roupa e vá agora. Cathy
está no quarto — “que ótimo!”.
Fui ao quarto que Catherine ocupava
e fiquei ainda mais empolgado quando a vi. Estava tão à vontade, que quase a envolvi
nos meus braços ali mesmo. De short e regata, o corpo todo à mostra para mim.
Confirmei as minhas expectativas. Ela era mesmo espetacular. Porém Helen estava
lá fora e eu não queria problemas, então resolvi ser cortês.
Dei o recado e me surpreendi com a
sua oferta de arrumar minha mala para a viagem. Agora eu tinha certeza: minha
nova assistente também me queria. Mesmo com toda a conversa sobre trabalho e eficiência,
estava bem claro em minha cabeça. Fomos até o meu quarto, onde aproveitei para
tomar um banho enquanto ela trabalhava.
Quando saí do banho, Cathy ainda
estava lá. Como eu havia imaginado, ela não poderia ir embora. Percebi seus
olhos se prolongarem em meu corpo e senti muito prazer com isso, pois a garota
gostava do que estava vendo e eu gostava ainda mais do que ela exibia. Ótimo!
Seria mais fácil do que imaginava. Quando abaixou a cabeça envergonhada me senti
ainda mais atraído. A mistura de sensualidade e timidez me deixou louco.
Era adorável! Meu sangue fervia nas
veias. Meu corpo desejava o dela mais do que qualquer outra coisa. Quando me
aproximei um pouco mais, Cathy simplesmente fugiu. Achei graça da sua atitude.
Jogo duro, então foi isso que o segurança da boate quis dizer. Eu iria fazer o
jogo dela. Não disfarcei a risada baixa e abafada que saiu pela minha garganta.
Agora era só esperar. Deixá-la lutar contra o que sentia por mim enquanto eu me
divertia com mais uma conquista.
VISÃO DE CATHY
Acordei bem cedo e aproveitei o tempo
para correr na praia. Tal atividade era natural para mim, fazia parte da minha
rotina. Eu adorava! Sentia-me livre, forte. Conseguia me desligar de todos os
problemas e dos pensamentos que não poderia nem deveria ter. Exercitei-me por
cerca de 40 minutos, o meu normal em média era uma hora e meia, mas não queria
me atrasar e ainda teria que acordar Thomas para que estivesse pronto para a
reunião. Com o tempo eu organizaria o meu horário e poderia voltar à minha
rotina.
Quando cheguei, encontrei Kendel
estacionando o carro. Ele buzinou e fez sinal para que eu o aguardasse. Fiz isso
já com a porta de casa aberta.
— Bom dia, boneca!
— Catherine. Meu nome é Catherine — corrigi
friamente.
— Boneca é um elogio que só faço
para garotas bonitas como você. Não precisa ficar aborrecida. Muitas garotas em
seu lugar iriam adorar — ele estava tentando parecer idiota ou era mesmo?
— Então guarde seus elogios para
essas garotas. Mulheres como eu, gostam de ser respeitadas — acertaria um soco
na cara dele se fosse necessário. Uma parte de mim estava rezando para ser.
Reconheço que tenho um gênio difícil
e sei o quanto é complicado me segurar numa situação como esta.
— Hei! Calma! Não estou
desrespeitando você. Foi apenas um elogio. Isso não é pecado.
— Ok! Vamos deixar as coisas claras
de uma vez por todas, certo? Não sou o tipo de garota que você está pensando.
Sou sua colega de trabalho, por isso precisamos nos respeitar. Talvez fosse
melhor que você tentasse a me ver como um homem. Facilitaria muito as coisas para
nós dois — olhava para ele diretamente nos olhos, apesar da nossa enorme
diferença de tamanho.
— Acho bem difícil isso acontecer — me
olhou de cima a baixo com satisfação. — Homem? — riu. — Impossível.
Irritada, virei e entrei na casa; era
isso ou eu me agarraria à opção de acertar um soco bem no meio do seu sorriso
de imbecil. Fui direto ao quarto do Thomas para acordá-lo. Bati três vezes na
porta, espaçadamente, conforme Helen havia me orientado. Esta era a forma de
avisá-lo que estaria entrando. Caso estivesse acompanhado, daria tempo para se
recompor ou me receber na antessala. Quando entrei, o encontrei deitado de costas,
com o travesseiro no rosto.
— Por que tão cedo, Helen? — Será
que ele não sabia que seria eu quem exerceria essa função de agora em diante?
Pensei no que responder. Mais uma
vez admirei seu corpo perfeito todo exposto e, novamente expulsei esses
pensamentos de minha cabeça.
— Porque você tem uma reunião em
menos de duas horas — fingi indiferença.
Ele tirou o travesseiro do rosto
assustado, ficou me olhando por um tempo. Suas expressões foram da confusão ao
prazer. Depois deitou e voltou a fechar os olhos com um sorriso largo nos lábios.
— Eu não preciso ir a esta reunião.
— Não? Pensei que...
— Agora tenho você para ir no meu
lugar e depois me informar sobre tudo — seu sorriso aumentou.
— Bom... Pensei que tivesse mais
interesse pela sua carreira, principalmente porque iremos discutir alguns
projetos novos.
Ele voltou a levantar a cabeça e a
me olhar, agora com o prazer refletido em seus olhos.
— Você estava na academia? — Olhava
meu corpo com admiração.
— Não. Fui correr um pouco na praia
— fiquei sem graça. Talvez tivesse sido má ideia vir direto ao quarto dele,
deveria ter me trocado primeiro. Mais uma vez tinha pecado no quesito “roupas
para conviver com o Thomas”. Isso era um martírio.
— Correr, é? Legal! Faz bem ao corpo
— seu sorriso se tornou malicioso, o que me fez ficar mais irritada.
— E pra mente, principalmente —
acrescentei.
Tentava manter o nível tranquilo da
conversa.
— Caramba! Você é mesmo muito
bonita, Cathy! — Eu sabia que isso iria acontecer.
Com certeza o episódio da boate o
fez acreditar que poderia agir dessa forma, ou então ele realmente se acha
irresistível. Fechei a cara e desviei o olhar.
— Isso a incomoda? Ser admirada
pelos homens? Ser desejada?
— Não. Não... De jeito nenhum — pensei
um pouco no que poderia dizer para que as coisas ficassem bem esclarecidas
entre nós dois. — Algumas vezes é inevitável. Mas neste caso... No seu caso,
especificamente... Poderia ser caracterizado como assédio sexual, já que agora
é meu chefe. Isso não seria bom para você. Então... — Voltei a olhá-lo
desafiadoramente. Thomas mordeu o lábio inferior, evitando um sorriso.
— Nada de elogios — era para ser uma
pergunta, porém ele tinha entendido meu recado e falou como uma afirmação.
— Exatamente — confirmei.
— Então, acho melhor você sair do
meu quarto.
Fiquei abismada. Eu estava sendo
expulsa do quarto só porque não aceitava elogios? Isso era um absurdo. Ele
sorriu para a minha expressão e continuou.
— Dormi sem roupas esta noite e, se
não posso elogiá-la sob pena de sofrer um processo, ficar nu na sua frente pode
resultar em prisão, eu suponho. — Com um lindo sorriso Thomas conseguiu me
desconcentrar totalmente.
Ele estava perfeito, sentado naquela
cama, com o lençol cobrindo parcialmente seu corpo, os cabelos despenteados e o
rosto ainda demonstrando uma longa noite de sono. O melhor mesmo a fazer era ir
embora. Baixei a cabeça indo em direção à porta. Antes de abri-la, me virei novamente,
encarando-o. Não poderia deixar que a nossa conversa terminasse assim, com ele
mais uma vez vencendo a batalha. Aquele homem já me deixara envergonhada vezes
demais para o meu gosto. Precisava virar o jogo a meu favor.
— Acho bom que esteja pronto em meia
hora para o café, ou serei obrigada a te arrancar desta cama do jeito como
está. Não vou pensar duas vezes, porém o aconselho a pensar, pois será uma cena
ridícula, você nu, sentado na varanda tomando café. Pode acreditar, eu farei
isso. — sorri da mesma forma ingênua que ele sorria para mim e bati a porta.
Saí rindo da minha reação a sua
tentativa de me deixar sem graça. Fui para o meu quarto e me atirei no chuveiro
tentando ser o mais rápida possível, pois havia demorado mais do que o previsto
no quarto com Thomas. No close perdi mais um tempo escolhendo o usar, meus vestidos
leves e soltos sorriram para mim convidando-me a usá-los. Era realmente
tentador. O dia lá fora estava lindo, com o sol mostrando todo o seu esplendor.
Quente o suficiente para um mergulho no mar convidativo. Suspirei consternada.
Isso seria praticamente impossível,
pelo menos enquanto Thomas e Kendel estivessem com aquela obsessão por mim, o
que pelo visto não diminuiria tão cedo, então os mergulhos aconteceriam apenas
nos meus sonhos. Eu sentiria falta dos biquínis. Dei risada da situação. Então
me voltei para os jeans e as camisas mais sérias e, claro, os saltos.
Quando desci, ele já estava lá.
Antes de qualquer coisa minha mente registrou os cabelos molhados dando um ar refrescante
à sua aparência. Thomas estava usando uma camisa branca, bem básica. Como
sempre, divinamente bonito. Olhou-me casualmente e depois se voltou para Helen.
— Você encontrou a pessoa certa para
substituí-la, agora pode ficar tranquila.
— Do que você está falando?
— Cathy. Ela me ameaçou hoje mais
cedo para que eu estivesse aqui na hora certa. Confesso que tive medo. Juro! — levantou
as mãos como se estivesse se rendendo.
Helen me observou, avaliando o que
ele dizia. Sorri em resposta, dando a entender que era uma pequena brincadeira.
Acho que “minha chefa” ficou satisfeita, pois assumiu uma postura mais
relaxada.
— Ela realmente tem uma
personalidade forte, Helen, e parece ser muito decidida — Kendel me surpreendeu.
Realmente não esperava nada de bom vindo dele. Principalmente depois do que
aconteceu mais cedo.
Peguei meu café e fui me juntar a
eles. Eu parecia “um peixe fora d’água”, pois era a única no grupo arrumada
para trabalhar. Todos estavam bem à vontade de bermuda, camiseta e chinelos.
Helen notou o meu olhar e me tranquilizou.
— Quando estivermos trabalhando em
casa, Cathy, não se preocupe com o que vestir, pode ficar à vontade. Vamos trabalhar
o dia todo, ficar de calça e salto será um pouco desconfortável. — Helen
sorriu, afetuosamente. Eu realmente gostava dela.
— Tá! Assim que terminarmos, vou
subir e me trocar — “mas nada de vestidos curtos ou roupas decotadas” fiz essa
nota mental para me certificar de que não facilitaria o lado deles.
Trabalhamos o dia todo. Organizamo-nos
para que ocorresse tudo conforme planejado, durante a viagem. Determinamos o
papel de cada um e sincronizamos as nossas atividades. Iríamos acompanhar Thomas
em algumas entrevistas pelos Estados Unidos antecipando a divulgação do seu
último filme, que ainda não havia sido lançado. Enquanto isso os rapazes iriam
captar novos contratos e receber algumas propostas. Teríamos reunião todos os dias
para manter todos atualizados e deveríamos nos comunicar a todo o momento.
Eu estava muito ansiosa. Quando fui
para o quarto dormir, o sono não vinha. Meu ritmo ainda estava acelerado, então
fiquei revisando a agenda e minhas atividades. Respondi alguns e-mails e conversei com Mia pelo
celular. Quando já estava me preparando para deitar, ouvi uma batida leve na
porta. Fui ver quem era, para minha surpresa, era Thomas.
— Oi! — Ele estava com a mão apoiada
na porta.
— Oi. Algum problema? — Não o queria
em meu quarto o tempo todo. Seria mais fácil assim.
— Na verdade, não — ele deu seu
sorriso perfeito. Típico das grandes cenas de filmes de amor, quando o galã
chegava para seduzir a mocinha.
— Eu e os rapazes queríamos convidá-la
para sair, além de comemorar a sua chegada ao grupo, é claro! — Seu olhar era
tão persuasivo!
— Ah! Obrigada, mas não vai dar!
Tenho um monte de coisas para fazer ainda e quero me deitar logo, pois viajaremos
amanhã bem cedo e preciso estar inteira.
— Sua mala já está pronta desde
ontem. Você já está aqui há um bom tempo organizando as coisas. Não pretendemos
demorar, apenas relaxar um pouco e nos conhecermos melhor.
— Fica para a próxima, prometo!
Teremos tempo de sobra para isso — segurei a porta, convidando-o para sair.
— Está bem, então! Boa noite!
— Pra vocês todos também.
Suspirei. Como ele ficava lindo de
azul! Fui para a cama me obrigando a dormir.
Capítulo 3
Um Passo
Errado
VISÃO DE CATHY
E
|
stava
dando tudo certo na viagem. Todos os compromissos foram cumpridos e os rapazes
conseguiram fazer ótimos contatos. Executamos um bom trabalho. Eu começava a me
sentir mais à vontade com a equipe, mesmo sendo ela composta por homens. No
geral eles estavam me respeitando, tirando as brincadeiras sem propósito do
Kendel, além das investidas sutis de Thomas todas as manhãs, na hora em que eu
ia acordá-lo, o que sempre era uma tentação para mim; o balanço era bastante
favorável.
Havia me aproximado bastante de Dyo.
Por isso ele passou a me acompanhar nas corridas matinais, um grande avanço,
afinal, normalmente eu defendia o direito de ter esse tempo só para mim.
— Não precisa ficar preocupada por
se aproximar de mim, Cathy — Dyo puxou a conversa no nosso primeiro dia de viagem.
— Como assim?
— Você não precisa ficar tão tensa perto
de mim. Eu não vou fazer o mesmo que os rapazes estão fazendo com você. Não
tenho o menor interesse nisso — seu sorriso era revelador e fiquei me
questionando do que ele poderia estar falando, sem conseguir me situar.
— Desculpe-me Dyo, continuo sem
entender do que você está falando. Não fico tensa com nenhum de vocês, só não
gosto que confundam as coisas. Estamos trabalhando e não em uma festa.
— É exatamente disso que estou
falando. Mesmo em uma festa eu não daria em cima de você — dei risada. — Cathy,
eu sou gay.
Parei de organizar os documentos que
tinha em mãos e voltei, chocada, meus olhos para ele. Nunca tive problemas com
homossexuais, muito pelo contrário. Eu tinha alguns amigos gays e isso nunca fez
a menor diferença para mim. Mas sua revelação me pegou de surpresa. Nunca passou
pela minha cabeça que Dyo estive incluso neste grupo. Ele não tinha nenhum
trejeito, nunca deu a menor pista.
— Você tem algo contra? — Ele recuou
diante da minha reação.
— Não. Sou contra políticos corruptos,
estupradores e pedófilos. Para mim homossexuais e heterossexuais são a mesma
coisa, só que com opções sexuais opostas — voltei a minha atenção para os
documentos.
Depois desta conversa nunca mais nos
afastamos. Dyo me fazia relaxar, eu não sabia bem o porquê, talvez fosse pelo
fato dele ser gay, o que eliminava qualquer possibilidade de ser mais um a me
paquerar. Nós nos dávamos muito bem e não tive dificuldades em abrir a minha
vida para ele, que às vezes me compreendia melhor que eu mesma. Era muito fácil
ficar ao seu lado. No final das contas, até me sentia mais protegida dos outros
dois.
Dyo era o tipo de amigo bem amigo,
ou seja, quando gostava de alguém, era totalmente leal. Assim, passei a me
comportar como ele. Sempre que a agenda nos permitia, eu corria para o seu
lado, procurando coisas divertidas e interessantes para fazermos juntos.
Também estava mais próxima do
Thomas, principalmente pela necessidade de estarmos sempre juntos devido ao
trabalho, que era mais forte do que pela afinidade em si. De certa forma ele me
irritava muito. Não sei se porque fazia questão de ser um idiota conquistador e
adorar o fato das mulheres se derreterem por seus encantos, o que era verdade, ou
se era porque exercia um efeito forte sobre mim.
Frequentemente me desconcentrava
quando ele ficava me encarando com seus olhos tão verdes e imensos, ou fazia-me
esquecer do que estava falando quando sorria daquele jeito cinematográfico, ou deixava
minha pele arrepiada quando se aproximava muito. O contato, então, nem se fala,
cada toque era uma onda de calor que me deixava maluca.
Dyo falava que existia uma tensão
sexual tão grande entre nós dois que era quase palpável. Eu fingia não perceber,
mas admito que minhas tentativas eram todas um fracasso. Isso me deixava cada
vez mais irritada. Thomas sabia o quanto mexia comigo e se divertia com essa
realidade. Tentava ser o mais forte possível, no entanto isso exigia o máximo da
minha concentração. Era desgastante.
Declinei a todos os convites deles
para sair durante a viagem. Mesmo quando era Dyo quem me convidava. Eu sabia
era um pedido do Thomas, então rejeitava. Fora do trabalho ele teria todas as
oportunidades e eu não poderia deixar nada acontecer. Precisava me manter
concentrada e focada, pois esse trabalho era importante demais. Estava gostando
muito.
Até então, a fama de mulherengo do
meu chefe era apenas histórias, fatos que tinham ocorrido antes de mim. Até
que, numa manhã, quando fui acordá-lo, como de hábito, deparei com ele já na
sala, o que não era normal. Thomas sempre ficava dormindo até a minha chegada.
Às vezes, eu achava que era apenas para tentar me seduzir.
Vestia apenas uma bermuda e fumava
um cigarro encostado à janela. Olhei-o questionando o porquê da mudança, quando
ele coçou a cabeça um pouco sem graça, sem sustentar o meu olhar. Antes que eu
conseguisse dizer qualquer coisa, ouvi a porta se abrir. Então vi uma mulher
escultural sair do seu quarto, vestindo apenas sua camisa azul. A mesma que eu
tanto havia gostado em outro momento. Meu sangue sumiu do corpo. Fiquei parada
onde estava, em choque, enquanto ela se dirigia a ele sem se preocupar com a
minha presença. Notei que meu chefe me olhava esperando alguma reação, porém
não consegui esboçar nenhuma. Permaneci imóvel, enquanto a mulher beijava os
lábios dele e se enroscava em seu corpo. Ele correspondeu apaixonadamente.
Parecia um casal de verdade, tamanha era a intimidade dos dois.
— Agora eu preciso trabalhar, linda
— Thomas falava de forma melosa.
Eu tinha certeza de que eles mal se
conheciam. Ele apontou para mim e ela finalmente percebeu que havia mais alguém
no quarto.
— Vejo você ainda? — A mulher buscava
nele algo a que pudesse se apegar e ter esperanças.
— Claro! Eu ligo mais tarde — ele
estava sorrindo para ela do mesmo jeito que me dava todas as manhãs.
Era tão ridículo! Como Thomas podia
iludir a garota daquela forma? O pior de tudo, como ela podia aceitar ser enganada?
Em que mundo aquela mulher vivia, que não lia o que a imprensa publicava a
respeito dele? Ela voltou ao quarto e em poucos minutos saiu pronta para ir
embora. Não trocamos uma só palavra enquanto a “vítima” permaneceu lá. Tentei
afugentar a minha irritação.
Não sei por que isso me incomodava tanto.
Não esperava que ele estivesse apaixonado por mim. Nunca havia acontecido nada
entre nós. Tirando suas investidas, não havíamos nos relacionado de outra forma
que não fosse profissional. Mesmo assim, estava visivelmente abalada. Toda
aquela situação serviu para me apegar ainda mais ao que tanto defendia para a
minha vida: realmente não valia a pena confiar no amor, ele só trazia desgosto
e sofrimento. Esta garota com certeza seria mais uma pobre coitada que iria
amargar uma eterna espera por um telefonema.
— Desculpe pelo constrangimento,
Cathy, pensei que ela iria embora antes de você chegar — iniciou as
justificativas assim que a garota foi embora.
Sua voz era tão casual que parecia
que estava se desculpando por um atraso, ou um esbarrão. Ele não se incomodava
com o fato de estar mostrando quem realmente era.
— Não precisa se desculpar — fui
fria. — Também não precisa tentar varrer a sua sujeira para debaixo do tapete.
Eu sei perfeitamente que tipo de pessoa você é. Conheço seu histórico com as
mulheres, Thomas. E estou pouco me preocupando com quem você leva para sua
cama. Apenas quero que esteja pronto para trabalhar quando eu chegar. Isso é o
mínimo que poderia fazer para facilitar meu trabalho — não devia responder
daquela forma, nem tinha motivos para agir desta maneira, mas não consegui
fazer diferente.
— Cathy, vá com calma. Qual é o seu
problema?
Virei a cara fingindo não me
importar com o que ele estava dizendo. Ele adorou a minha reação. Encarou como
um incentivo às suas investidas.
— Não acredito que está com ciúmes. Seria
bem melhor se fosse você no lugar dela, mas você continua insistindo no tal “assédio
sexual” — o que ele estava pensando?
— Eu? Isso, na menor das hipóteses,
é ridículo, Thomas. Mesmo se você não fosse o meu chefe, não me prestaria a um
papel desses. Só mesmo uma imbecil com silicone no cérebro para cair na sua conversa
— estava a ponto de explodir.
Ele gargalhou com a minha resposta,
o que me deixou ainda mais irritada.
— Eu sei, não se irrite, só estou
brincando. É lógico que você é bem melhor do que ela e nunca se submeteria a
esse papel e eu juro que te ligaria no dia seguinte — ele me envolveu pela
cintura com seus braços e ficou bem próximo do meu rosto, ainda rindo.
— Eu posso sentir o perfume dela em
você, Thomas. Garanto que é bem barato e enjoativo — fiz cara de nojo. — Tire
as suas mãos de mim.
— Relaxe, Cathy, só estou me
divertindo com sua irritação.
— É. Você é bem irritante mesmo. E
inconveniente também — ele se afastou rindo e foi em direção ao quarto para
tomar banho.
Voltou vinte minutos depois, como se
nada tivesse acontecido. Resolvi deixar a minha raiva de lado e me dedicar exclusivamente
ao trabalho. Foi o que fiz o restante da semana, tentando manter distância do
episódio.
Em uma semana, já tinha feito tantos
contatos que poderia modificar definitivamente a minha vida. Era tudo o que eu
queria. Então precisava me concentrar no trabalho. O incidente com Thomas já
não me incomodava mais, ou quem sabe eu tentava não me preocupar com ele. Principalmente
porque depois disso, não o vi com mais ninguém, o que facilitava o nosso entendimento.
Ele estava sendo bastante atencioso,
claro que de maneira profissional, mas era atenção e eu estava gostando. Pelo
menos não teria que me deparar com uma garota diferente a cada dia quando fosse
acordá-lo.
Para minha surpresa, Thomas era
muito profissional e levava a sério o seu trabalho. Não precisava falar duas
vezes, pois ele entendia rapidamente o que era necessário se adaptando a
qualquer realidade. Era também bastante tranquilo, bem diferente do homem farrista
que aparecia nas revistas. Muitas vezes se contentava em ficar jogando
videogame no seu quarto, ou em conversar com amigos por telefone. Entendia que
nem sempre era possível ter uma vida normal. Frequentemente era obrigado a
ficar no hotel enquanto todos saíam para se divertir e isso não parecia ser um
problema. Comecei a simpatizar mais com o meu chefe.
Foi assim certa tarde, quando não
tínhamos nenhum compromisso e todos resolveram sair para se divertir, cada um do
seu jeito. Dyo estava todo eufórico, pois iria se encontrar com um amigo com
quem já tivera um relacionamento. Ajudei um amigo a escolher a roupa mais
adequada para a ocasião e o acompanhei até o elevador, desejando-lhe sorte. Fui
em direção ao meu quarto, pensando no livro que havia comprado e que planejava
passar a tarde toda lendo.
Quando passei pela porta do quarto
do Thomas, que estava aberta, o vi sentado em frente à TV muito concentrado em
seu jogo. Fiquei observando-o por um breve instante, enquanto ele não percebia
a minha presença. Tive a sensação de que estava se sentindo sozinho, por isso
se escondia atrás dos jogos de videogame. Resolvi esquecer o livro e lhe fazer
companhia, envolvida por uma culpa que sabia não ser minha.
Bati na porta de leve e ele olhou
rapidamente em minha direção. Voltou para pausar o jogo e, logo, estava olhando
para mim outra vez.
— Cathy. Pensei que você estivesse
aproveitando sua folga.
— Pois é. Eu não tinha nada para
fazer, então resolvi ficar no hotel.
— Dyo foi ver o namorado dele e te
deixou sozinha — jogou a verdade em minha cara.
Thomas não tinha muito cuidado em
falar a verdade às pessoas. No geral era ruim, mas para mim era até muito bom.
Eu sempre preferia a verdade à mentira, mesmo que doesse. Mesmo tendo aprendido
com a minha mãe que ser verdadeiro demais era falta de educação. Então tentava encontrar
um equilíbrio entre ser verdadeira e cortês ao mesmo tempo com as pessoas.
— Isso. Agora estou me sentindo
rejeitada — acrescentei, fingindo-me ressentida com o fato.
— Ah! Tudo bem. Pode ficar comigo —
ele tinha percebido a minha brincadeira e entrou rapidamente no clima.
— Não sei. Tem alguma modelo
esquelética escondida no seu quarto? — Thomas deu uma gargalhada.
— Não. Hoje não. Também estou me
sentindo rejeitado por isso — foi a minha vez de gargalhar.
Fui em direção ao sofá em que ele
estava e me sentei ao seu lado.
— Talvez, se você realmente ligasse para
uma delas, teria com quem dividir sua tarde.
— Bem. Talvez seja verdade. Mas eu
tenho você. Então está tudo bem — tive que rir. Peguei o outro controle
insinuando que também iria jogar.
— Sabe jogar?
— Eu aprendo rápido — pisquei para
ele.
— Tudo bem então... Boa sorte!
Jogamos a tarde toda e quando o
pessoal chegou, nos encontrou no quarto em meio a uma disputa repleta de
brincadeiras e empurrões, um tentando desconcentrar o outro. Rimos muito.
Olhando de fora, parecíamos dois amigos de infância. Talvez fosse possível. Se
eu me aproximasse dele dessa forma, poderíamos ser somente amigos e todo nosso
problema de relacionamento acabaria. Desejei isso fervorosamente. Seria o melhor
para todos.
Na viagem de volta, sentamos lado a
lado e tivemos uma conversa animada sobre música; ambos adorávamos. Não quis contar
que tocava violão e guitarra, essa era uma parte da minha vida que reservava
para poucos. O fato de Thomas também gostar de música animou as coisas entre
nós. Já havia percebido que ele sempre estava com fones nos ouvidos, mas eu
ligava isso à sua necessidade de se distanciar um pouco do mundo ao seu redor.
Conversamos muito sobre nossos
gostos. Ele era mais voltado para ritmos mais antigos, o que me surpreendeu
bastante. Pensei que gostasse de coisas mais modernas, como o que tocava nos
bares e nas boates que ele frequentava. Mas Thomas curtia soul. Eu era eclética,
a música sempre seguia o meu estado de espírito. Ele disse que isso era muito
interessante e ficou surpreso quando soube que eu conhecia alguns dos seus músicos
prediletos e que gostava muito.
Passamos a viagem toda dividindo seus
fones para podermos ouvir as mesmas músicas e comentar sobre elas. A facilidade
de estar ao seu lado, naquele momento, tinha me pegado de surpresa. Fiquei
envergonhada por ter tido pensamentos tão ruins a respeito da sua
personalidade. Na verdade, após conseguir ultrapassar o véu sob o qual se escondia
para dar espaço ao artista de cinema, pude ver uma pessoa muito interessante e
inteligente. Mas isso era tudo o que eu me permitiria enxergar.
Eu tinha medo de avião e comentei
com ele em meio à nossa conversa animada.
— É o meio de transporte mais seguro
– revirou os olhos para a minha revelação.
— Se você pensa assim...
— As estatísticas apontam isso. É
uma realidade, Cathy. Você deveria relaxar.
— Desculpe, mas não consigo. Não é
uma coisa que consiga controlar. Eu tenho medo, e pronto.
— Me dê pelo menos um motivo — Thomas
ria do meu medo.
— Só em janeiro deste ano, tivemos
dois acidentes de avião. Um em d’Ivoire
Cotê no Oceano Atlântico, com 169 vítimas e outro na costa da Califórnia,
com 88 mortos.
Ele ficou me encarando, apavorado. Achei
graça da sua reação.
— Estamos no ar agora, sabia?
— Você perguntou.
— Mas não era para você me apavorar
— dei risada e me senti mais relaxada, agora que podia dividir o meu medo com
alguém.
Sempre que o avião começava a
aterrissar, eu ficava apreensiva. Percebendo o meu estado, Thomas segurou minha
mão com força transmitindo confiança e segurança. “Como se ele fosse capaz de
impedir o pior, caso o avião caísse”, pensei, com ironia. Porém, o contato
entre nossas mãos realmente teve efeito calmante, fazendo com que meu coração
se tranquilizasse. Ele continuou a nossa conversa, prendendo a minha atenção,
quando percebi, o avião já estava pousando. Agradeci mentalmente por esse
momento. Com certeza a partir de agora eu sempre tentaria viajar ao seu lado.
Estávamos de volta a Los Angeles. Eu
estava extasiada. Apesar de não ser a minha terra natal, era o lugar que havia
adotado como casa. Amava estar de volta a minha realidade. Por isso, assim que
cheguei liguei para as minhas amigas. Queria sair, revê-las, matar a saudade e
conversar sobre as minhas novidades, ou seja, me sentir um pouco fora do
trabalho. A rotina exigida pela nossa agenda não deixava espaço para que pudesse
ter a minha própria vida, exceto quando conseguia ficar trancada no meu quarto,
o que era raro.
Elas também queriam me ver, então
marcamos num restaurante japonês e, depois de jantarmos, iríamos a uma boate
nova, inaugurada no último fim de semana que era a sensação do momento, como
minhas amigas me informaram.
Coloquei um vestido justo, um pouco
curto que abria na região dos quadris sem revelar muito, só insinuando.
Completei o visual com saltos finos, bem altos. Senti uma imensa satisfação em poder
me vestir assim. Era mais uma forma de resgatar a minha vida. As roupas tinham
se tornado um problema desde que passei a trabalhar com Thomas, então
aproveitei a sua ausência e abusei do termo “sexy”.
Antes de sair, fui ao seu quarto verificar
se precisava de alguma coisa. Ele estava no banho, graças a Deus, assim meu
chefe não precisaria ver como eu estava vestida. Cheguei próximo à porta para
avisar que estava de saída, como ele não precisava de nada, fui embora.
As meninas estavam eufóricas com meu
novo trabalho. Queriam saber tudo, cada pequeno detalhe. Principalmente os que
envolviam Thomas e eu. Contei que estávamos nos tornando bons amigos e que, com
exceção de alguns acontecimentos, tudo tinha dado certo. Não podia revelar
detalhes, principalmente as informações que só diziam respeito à equipe e que
não podiam vazar.
Anna era a mais curiosa de todas,
tentava a todo custo arrancar algumas confissões. Respondi com sutileza a cada
pergunta, para que não ficasse decepcionada comigo. Quando minha amiga já
estava forçando muito a barra, Mia me salvou com a ideia de irmos logo para a
boate, onde o som seria alto e eu não teria mais que aguentar a inquirição.
Fiz questão de dançar o tempo todo.
Estava saudosa, mas as meninas, mais uma vez, quiseram se divertir às minhas
custas tentando me embebedar.
— Não, Daphne. Não vou mais beber
com vocês, da última vez pensei que tinha transado com Mia, você pode imaginar
a minha cara quando acordei? — Eu ria de mim mesma junto com as minhas amigas.
— Ah, vamos lá, Cathy! É só para
você ficar mais divertida — ela colocou uma bebida rosa em minha mão. — Essa é
bem fraquinha, você nem vai sentir. Beba. É simplesmente a bebida perfeita para
você.
Peguei o copo, hesitando um pouco.
Beber era sempre um problema para mim. Precisava me sentir em segurança para
aceitar passar por aquilo, principalmente porque teria que voltar para casa. Seria
horrível estar bêbada na presença do Thomas outra vez.
— Mia, faça a sua promessa.
Mia levantou a mão solenemente, como
se estivesse jurando diante de uma bíblia.
— Eu juro protegê-la contra tudo e
contra todos e, desta vez, não me aproveitar para transar com você — caímos
todas na gargalhada e fomos dançar.
Estava adorando estar com elas, e
felicidade refletia em minhas atitudes. Eu dançava de maneira livre, curtindo
apenas o som que parecia entrar em meu corpo, me conduzindo. Estar com meus
novos colegas de trabalho tinha se transformado em um prazer, e o trabalho não
era tão maçante como imaginava que seria, principalmente em relação ao nível de
relacionamento com o pessoal. Dyo era um excelente companheiro, mas em nenhum
momento foi como estar com as minhas amigas. Por este motivo fiquei
completamente extasiada naquela noite.
Quando estava no meio da pista de
dança, senti alguém me abraçar por trás e falar em meu ouvido:
— Você está lindíssima hoje!
Reconheci a voz de Dyo e relaxei em
seus braços. Virei abraçando-o, sem deixar de dançar, feliz por ele estar ali.
Nós sempre conversávamos sobre este tipo de programa e combinávamos sair juntos
algum dia, sem os demais colegas, é claro! Meu amigo estar comigo, completava a
noite. Eu queria que as meninas o conhecessem e que ele conhecesse as minhas
amigas. Agora estava tudo perfeito.
— Meninas, este é Dyo, de quem falei durante
quase todo o jantar. Ele tem sido meu companheiro nesses últimos dias. É o meu
anjinho da guarda — sorri carinhosamente, retribuindo todos os momentos bons
que tínhamos passado durante a nossa viagem.
As meninas se apresentaram, entusiasmadas.
Notei que Mia se identificou com ele na mesma hora. Ficamos dançando e tentando
conversar ao mesmo tempo. Dyo era que nem eu, adorava dançar, curtia uma balada
como a que estávamos. Eu sentia que nos divertiríamos a noite inteira. Ledo
engano. Antes de Mia e Dyo engatarem uma conversa sobre moda, assunto do interesse
de ambos, ele virou em minha direção apontando para o andar de cima, reservado
para vips, chamando a minha atenção
para quem estava lá.
Thomas!
Meu coração quase parou. Fixei os
olhos naquela figura admirável, exatamente na hora em que o álcool começou a se
apossar de meu corpo, confundindo a minha mente. Kendel sorria como se eu
estivesse aprontando alguma coisa. Senti-me subitamente incomodada. Quem ele
pensava que era? Meu pai? Virei para sair da pista e fui sentar em um banco
próximo ao bar, sentindo a cabeça girar um pouco.
As batidas fortes, descompassados,
do meu coração me impediam de raciocinar. Ele estava ali. Isso me deixava feliz,
constatei. Como era possível? Eu havia passado a noite inteira agradecendo por poder
me livrar dele e agora estava fascinada com a sua presença. Só podia mesmo
estar bêbada, era impossível que me alegrasse com esse fato se o álcool não
estivesse fazendo efeito.
Fui tirada de meus pensamentos por
Dyo, que se aproximou para avisar que Thomas tinha nos convidado a subir. Eu
negaria na hora se tivesse condições de continuar fugindo, mas as meninas
praticamente me imploraram, não permitindo recusa. Obedeci, muito sem graça, e
subi para falar com ele.
— Oi, chefe! — cumprimentei-o,
brincando. — Vou fazer hora extra?
Thomas me olhou dos pés à cabeça
soltando um suspiro um tanto quanto exagerado. Depois sorriu.
— Então é por isso que você nunca
quis sair comigo? — Estávamos bem próximos, mas ele falava praticamente em meu
ouvido por causa da música alta.
— Isso o que?
Do que ele estava falando? Das
minhas amigas? Será que teria a cara de pau de sair com alguma delas?
— Para poder estar tão linda e me
impedir de ficar na sua cola?
Não consegui deixar de sorrir. Tenho
de admitir que um grande alívio tomou conta do meu coração.
— Não estamos trabalhando agora,
então você não pode caracterizar minhas palavras como assedio sexual.
— É... Acho que não posso — como eu
poderia? Minhas defesas estavam todas baixas.
A música estava rolando. Permiti que
o ritmo me levasse. Era uma forma de protelar o que sabia que iria acontecer. Enquanto
estivéssemos dançando eu conseguiria mantê-lo distante. Por um breve momento me
esqueci de que estava com meus colegas de trabalho. Com o meu chefe. Queria
apenas dançar, deixar a música entrar em mim e ditar as suas regras. Fui me
entregando sem me preocupar em abrir os olhos. Tinha consciência quem estava me
olhando, além de saber que outros estavam dançando junto comigo, mas nem isso
me incomodava. Não me importava com mais nada, só queria seguir o ritmo, me
deixar levar. E assim fiquei sem perceber o tempo passar. Quando voltei a
realidade, vi um lindo par de olhos verdes me encarando. Mergulhei de cabeça
naquele olhar. Era completamente envolvente. Prendia-me.
O desejo estava presente nas duas
direções. Como Dyo dizia: era praticamente palpável. Tinha algo de animal em Thomas,
em sua postura pronta para me atacar, algo que me fazia sentir uma presa, a sua
presa. No entanto, eu não sentia medo, muito pelo contrário. Nunca em nenhuma
história vira uma presa desejar tanto o seu predador. Continuei dançando sem
desviar o olhar. Eu dançava somente para ele. Não existia mais ninguém, apenas
nós dois. Meu corpo era um convite, não podia mais evitar, era forte demais e
não tinha mais barreiras para nos impedir.
Thomas estava sentado em um banco
alto, segurando sua bebida, próximo a pista e muito perto de mim. Antes que eu
pudesse reagir, ele levantou dando um passo rápido em minha direção. Em um
segundo, seu corpo estava tão colado ao meu que me fazia sentir o seu calor.
Meu chefe acompanhava os meus passos lentos e sensuais sem desviar o olhar.
Suas mãos correram por minhas costas nuas. Com agilidade, ele me virou, ficando
às minhas costas.
Eu sentia a sua respiração em meu
pescoço, a mão livre e firme, segurou em minha cintura me puxando para mais
perto. Nossos movimentos eram únicos, um só corpo, uma só vontade. Ele mostrava
o quanto me desejava fazendo com que um suspiro de satisfação escapasse de meus
lábios. Pude senti-lo rindo baixinho em minha orelha. Thomas sabia que eu havia
gostado.
Quando a música estava quase
acabando, sussurrou em meu ouvido:
— Aqui está quente demais. Vamos
para algum lugar mais fresco — era uma ordem, reconheci pelo seu tom de voz.
O desejo não me deixou recusar. Ele
estava vencendo cada luta contra o medo, contra as regras que eu tinha imposto
em minha vida. Eu estava sendo impulsionada a continuar. Onde estavam as minhas
barreiras?
Segurou minha mão, guiando-me por um
corredor escuro. Subimos a escada que dava para uma porta fechada. Com uma das
mãos ainda em minha cintura e, sem se afastar nem um centímetro do meu corpo, Thomas
empurrou a porta. Senti o vento no rosto. Era revigorante. Estávamos no
heliporto do prédio. Tão alto que não éramos vistos por mais ninguém. O céu
estava lindo e a lua cheia chamou a minha atenção. Dei alguns passos para
frente, absorta em sua beleza.
— Linda! — Fiquei encantada com
imagem a minha frente.
— Quem?
— A lua. Perfeita! — Não me atrevi a
olhar para onde ele estava.
— Desculpe — seu corpo se aproximou
mais ainda do meu. — Não consegui perceber a presença dela. Não conseguiria
nunca, com você por perto — segurou outra vez em minha cintura, sussurrando em
meu ouvido: — Linda!
Estando um pouco mais lúcida, tentei
mudar a situação. Era necessário, apesar da recusa do meu corpo. Virei de
frente para ele, tentando explicar, mas fui surpreendida. Thomas colocou uma
das mãos em minha nuca, levantando o meu cabelo, puxando meu corpo completamente
para ele e me beijou. Não tenho palavras para descrever o que eu senti nem a
minha reação.
O beijo, a princípio foi delicado,
como se estivesse querendo experimentar o que eu tinha para oferecer. Foi
absurdamente gostoso! E breve. Porque depois a urgência caiu sobre nós dois. Ele
me puxou ainda mais para si, exigindo, não apenas os meus lábios, mas também o
meu corpo como um todo. Este reagia intensamente.
Quando seus lábios deixaram os meus,
involuntariamente gemi. Thomas adorou! Continuou beijando o meu rosto, descendo
até o pescoço. Cada parte do meu corpo se arrepiou com o contato da sua língua
explorando a minha pele. Ele sorriu com prazer quando percebeu e eu busquei os
seus lábios mais uma vez, me agarrando em seus cabelos perfeitamente arrumados.
Senti seus braços me levantarem com
cuidado, girando-me, trocando de lugar comigo. Fiquei sentada sobre alguma
coisa, eliminando a diferença de tamanho entre nós; não conseguia identificar
exatamente onde eu estava, mas também não tentei descobrir. Logo ele se
posicionou entre minhas pernas me puxando em sua direção. Senti todo o seu
desejo entre as roupas que nos separavam.
Ele estava grudado em mim. Gemi mais
uma vez, jogando a cabeça para trás e liberando os seus lábios. Thomas também gemia
baixinho. Era delicioso ouvi-lo! Suas mãos tocavam meus ombros, procurando uma
forma de aumentar o contato entre nossas peles. Quando tocou o meu seio, mesmo
sobre o vestido, meu corpo reagiu de imediato, fazendo com que eu sentisse como
se estivesse pegando fogo. Ardia, queimava, mas não machucava de forma alguma.
Agarrei-me ainda mais a ele, que
aproveitou para me deitar em algo frio, juntando-se a mim. Minha respiração
estava irregular. Eu ofegava e ele também. Thomas desceu a mão e acariciou
minha coxa. Primeiro por fora, no entanto, logo depois buscou pela parte
interna. Meus olhos se fecharam de tanto prazer quando ele subiu por dentro de
meu vestido. Eu estava em puro êxtase. Senti quando agarrou a lateral da minha
calcinha e, muito sutilmente, tentou puxá-la para baixo.
Foi neste momento que o medo venceu
a batalha contra o desejo. Eu voltei à realidade imediatamente.
— Não. Pare! — Pedi, apreensiva.
— Relaxe! Ninguém está nos vendo — sua
voz estava carregada de desejo.
Thomas voltou a me beijar
calorosamente, mas eu já estava tensa demais. Afastei-o e levantei,
endireitando meu vestido.
— O que há com você? — Ele tentou
segurar meu braço, porém nem olhei para trás, levantando instantaneamente. Precisava
fugir dali. Tinha que fugir dele.
— Você nunca vai entender. Isso é um
erro!
Fui embora sem me preocupar com
Thomas ou com qualquer outra pessoa. Estava tão envergonhada que as lágrimas
escorriam pelo meu rosto sem nenhum esforço. Consegui sair pelos fundos, chamei
um taxi e dei o endereço. Chorei durante todo o percurso. Quando cheguei em
casa mandei uma mensagem para o celular de Mia, avisando que estava tudo bem e
que ligaria depois explicando tudo. Corri para o quarto procurando asilo e
conforto. Eu sabia que não iria encontrar. A ameaça estava dentro de mim.
O que eu tinha feito? Como pude
permitir o que aconteceu?
Chorava copiosamente. O desejo que
sentia por ele doía em meu corpo que exigia desesperadamente por mais. Ao mesmo
tempo, a consciência gritava um alerta de que eu estava jogando tudo fora. Ela
me fazia lembrar que ele era um conquistador, que seria apenas mais uma das
mulheres de sua coleção e era a mais pura verdade. O pior de tudo era o fato
dele ser o meu chefe. Uma pessoa com quem deveria lidar todos os dias, independentemente
do que acontecesse.
No que eu estava pensando? Nós
trabalhávamos juntos. Como poderia evitá-lo? Eu teria de ir embora. Mas não
queria. Gostava do trabalho, gostava do salário e gostava dolorosamente dele. O
que fazer? O que estava acontecendo comigo? Nunca me permitira esse tipo de
descontrole. Também nunca havia sentido o que senti com ele. Aos 23 anos, estava
perdendo o controle da minha mente e o que era muito pior, do meu corpo.
VISÃO DE THOMAS
Cheguei em casa procurando por ela.
O que tinha dado naquela doida? Em um momento me quer, me exige e logo depois
dá a louca e vai embora. Simplesmente desaparece. Eu queria uma explicação plausível
para tal atitude. A garota fugiu sem ao menos falar com as amigas. Tentei
alcançá-la, no entanto Cathy foi mais rápida e sumiu. Ninguém conseguiu encontrá-la.
Estava com muita raiva, contudo, apesar
disso, ainda a queria. Muito! Nunca havia sentido o que senti com ela. O desejo
foi tão forte que me dominou completamente. Eu, que sempre procurei ser discreto,
iria transar ali mesmo se ela permitisse. Queria aquela mulher desesperadamente
e tinha consciência disso. Meu corpo exigia o dela.
Fui até o seu quarto tentando abrir
a porta. Estava trancada. Meus olhos captaram a luz fraca que saía por baixo da
porta. “O abajur”, pensei. Por diversas noites percebi essa mesma luz sair por
baixo da sua porta. Constatei que era assim que ela dormia. Bati de leve, na
esperança de Cathy aparecer, porém não obtive resposta. Sabia que ela estava
lá, então chamei, tentando manter minha voz baixa. Meu corpo pegava fogo. Eu
precisava dela, de mais ninguém. E precisava naquele momento.
VISÃO DE CATHY
Ouvi os passos no corredor e fiquei
atenta. Alguém tentou abrir a minha porta. Ainda bem que estava trancada. Eu
sabia que era ele e me obriguei a não abrir. Não teria forças para detê-lo. Não
assim, com meu corpo tão descontrolado. Ouvi quando ele bateu e me sentei no
chão apoiada na parede ao lado. Tentei não fazer barulho. Se ele percebesse que
eu estava acordada iria exigir que abrisse e tinha certeza que obedeceria. Fiquei
calada. As lágrimas ainda rolavam. Quando Thomas chamou o meu nome baixinho,
minha pele se arrepiou e meu corpo começou a exigir o dele.
Há pouco tempo, aquela mesma voz falava
ao meu ouvido, aqueles lábios estavam nos meus, em meu corpo. A dor que as
lembranças me causavam era insuportável. Coloquei a cabeça entre os joelhos e
chorei mais ainda. O que estava acontecendo comigo?
VISÃO DE THOMAS
Fui para o quarto dormir derrotado.
Ela havia me rejeitado. Como tinha conseguido frear o desejo que sentia por
mim? Como conseguiu controlar os sentimentos e o corpo? Tinha sido forte para
nós dois, disso eu estava certo. Precisava saber o que tinha acontecido. Por
que Cathy fugiu se também queria? Nós teríamos que conversar sobre isso. Era
inevitável. Era importante saber o que fazer com relação a tudo.
Mesmo sabendo que meu desejo era
mais forte do que qualquer drama de consciência eu sabia que, dependendo do que
ela quisesse para nós dois, poderia gerar um grande conflito em nosso trabalho.
Já tinha vivido isso e conhecia todos os riscos. Mesmo assim a queria mais do
que qualquer outra coisa.
Peguei no sono vencido pelo cansaço,
meu corpo ardia de desejo e precisei apelar para um banho gelado.
Abri os olhos pela manhã e não
acreditei no que estava vendo. Cathy estava sentada no pé da minha cama. Suas
mãos seguravam alguma coisa que eu não conseguia ver. De cabeça baixa ela
parecia travar uma batalha interior.
— Cathy?!
Chamei, ainda surpreso com a sua presença.
Meu coração batia mais forte. Será que ela havia mudado de ideia? Toda a emoção
da noite anterior veio à tona e meu corpo imediatamente exigiu que
continuássemos de onde tínhamos parado abruptamente. Atendendo ao meu chamado,
ela virou para me olhar. Fiquei estático por um tempo. Seus olhos estavam
inchados e vermelhos, sinalizando que ela tinha chorado a noite inteira.
— Oi, Thomas!
Sua voz estava fraca, o que me
comoveu. Tive ímpeto de tomá-la nos braços e confortá-la. Mas todas as minhas
barreiras me impediam de dar a Cathy mais do que a satisfação física de nossos desejos.
Não podíamos nos envolver emocionalmente então fiquei imóvel, aguardando o que
ela iria dizer.
— Eu não pretendia acordá-lo.
Desculpe-me!
— Acho que precisamos conversar — sentei-me
na cama. Graças a Deus havia dormido de short.
— É, também acho — Cathy desviou o
olhar para o que estava em sua mão.
— O que aconteceu ontem? Você fugiu
sem dizer nada.
— Foi um erro, Thomas.
— Como assim foi um erro, Cathy? — Explodi.
— Qual é o seu problema, hein? — Ela se chocou com a minha reação. Eu me
arrependi imediatamente de ter explodido. Minha reação pareceu dar a ela mais
força para defender a sua posição.
— O problema é que não acho certo
isso acontecer entre nós dois. Você é meu chefe. Nós trabalhamos juntos...
— E daí? Por que trabalhamos juntos
não podemos ter desejo um pelo outro? Eu quero você, não tenho como negar e, a
julgar pelo seu comportamento ontem, você também me quer. Por que não podemos
simplificar as coisas? Você é uma mulher, Cathy, não é mais uma adolescente
boba cheia de pudores e eu sou um homem. O que aconteceu entre nós, ou quase
aconteceu, é natural, faz parte do mundo adulto, sabia? É perfeitamente normal
em nosso meio.
Tentei fazê-la me olhar mas ela se
levantou sem permitir.
— Eu sabia que não iríamos conseguir
entrar num acordo — Cathy olhou determinada em meus olhos. — Estou me demitindo
— e estendeu um papel em minha direção.
Prendi a respiração. Por que ela
estava fazendo aquilo? Fiquei olhando fixamente para suas mãos, pensando no que
iria fazer. Minha mente estava a mil por hora. Não poderia deixá-la partir.
Estendi o braço para pegar a carta, então subitamente segurei a sua mão e a
puxei para meus braços.
— Eu não posso deixar que se demita,
Cathy — segurei-a em meus braços enquanto ela se debatia tentando se soltar.
— Não faça isso, Thomas, me largue,
por favor!
Sua voz estava tomada pela emoção.
Eu a segurei em meu colo até que parasse de tentar fugir. Quando estava mais
calma, passei a mão pelos seus cabelos e acariciei o seu rosto com cuidado, procurando
o seu olhar. A garota chorava. Meu coração doeu com a imagem. Era difícil para
Cathy o que estava acontecendo. Vê-la daquela forma só me deu a certeza de que
ela também me queria, mas lutava bravamente contra seus sentimentos. Por quê?
A ideia de que não podermos nos
relacionar porque trabalhamos juntos não é forte o suficiente para impedir o
que estávamos sentindo, não por muito tempo. Então, se fosse apenas isso, eu
poderia aguardar o tempo necessário para que ela se sentisse mais à vontade.
Principalmente porque sabia o quanto trabalhar comigo era importante para Cathy
e também o quanto o trabalho dela estava sendo importante para mim.
— Eu posso entender que não queira
deixar acontecer nada entre nós dois, porém não posso deixá-la abrir mão de
seus sonhos e objetivos. Não seria justo com você, Cathy. Me sentiria um
monstro se aceitasse sua demissão.
Estava sendo verdadeiro naquele
momento. Não poderia permitir que ela abandonasse o que tanto almejou. Por mais
que a desejasse, não era justo impor isso a ela. Fiquei confuso com minha
atitude. Era anormal eu abrir mão de algo ou de alguém que desejasse tanto,
mas, estranhamente com ela era diferente. Eu me importava. Gostava de estar ao
seu lado. Era uma excelente profissional e uma grande companheira de viagens. Depois
que entrou para o grupo, parecia que o grupo tinha se fechado. Estávamos completos,
perfeitos. Era tão melhor trabalharmos desta forma. Se Cathy saísse, como
seria? Senti um vazio se abrir em meu peito.
— Fique, Cathy!
Eu estava pedindo? Não acreditei no
que estava fazendo. Quem era aquela garota que conseguia quebrar todas as barreiras
levantadas há tanto tempo por mim, e que eu julgava sólidas e intransponíveis?
Que desejo único era aquele? Nunca tinha me sentido daquela forma. Mesmo ali,
em meio a tantas recusas, eu ainda a queria e muito. O desejo lutava em meu
corpo.
Ficamos abraçados por um tempo,
enquanto minha assistente chorava em meu peito. Depois ela sinalizou que sim
com a cabeça.
— Thomas, se eu ficar, não podemos
permitir que aconteça outra vez. Para mim é muito importante que seja assim. Eu
não posso conviver com isso — Cathy não estava exigindo, estava constatando um
fato.
— O que faremos? Eu a desejo muito, Cathy,
como nunca desejei ninguém — acariciei seu rosto lindo com tanta emoção que não
me reconhecia.
— Não sei. A única coisa que posso
dizer agora é que não podemos ficar juntos.
— Por quê?
— Não se pode ter tudo na vida,
Thomas. Você deve aceitar e se acostumar com isso. Ou vamos trabalhar juntos ou
vamos nos relacionar fisicamente. Nunca poderemos fazer as duas coisas ao mesmo
tempo. Não daria certo. Eu decido por trabalharmos juntos e esquecermos o que
aconteceu entre nós dois.
Como ela podia ser tão racional? Agradeceria
muito se tivesse restado um pouco da imprudência adolescente em sua
personalidade. O que senti foi muito forte. Continuava sendo muito forte. Será
que com ela não acontecia o mesmo?
— Mas você sentiu tanto quanto eu —
fiquei desconfortável com a possibilidade dela não ter gostado de ficar comigo.
— Não tenho o direito nem a coragem
de negar — alívio. — Mas não posso aceitar que esse desejo seja mais forte do
que eu. A única coisa que quero é trabalhar em paz. Por favor, me ajude a fazer
isso! Por favor! Esse trabalho é importante demais para mim.
Sua súplica me fez concordar. Eu não
iria desistir dela, iria apenas dar um tempo. Havia perdido uma batalha, mas continuava
na guerra.
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