Capítulo 1
Comemorando
a Vida
VISÃO DE CATHY
Acordei sozinha deitada sobre pétalas de rosas
vermelhas. Imediatamente sorri para as lembranças da noite anterior. Thomas me
fizera uma linda surpresa para comemorarmos nosso primeiro ano juntos. No dia 18
de Junho do ano 2000 quando ele finalmente descobriu que eu era virgem e decidíramos
ficar juntos. Dei risada sozinha relembrando todos os acontecimentos que
fizeram com que eu rompesse minhas barreiras e me entregasse a ele. Foram
circunstâncias difíceis mas, como diz o ditado popular: “Há males que vêm para
o bem.”
Levantei me sentindo leve. Feliz. As lembranças da noite anterior eram
as melhores possíveis, Thomas não estava na cama e, pelo visto, nem no quarto.
Estávamos no apartamento do pai dele onde um dia, me levou para demonstrar o
quanto eu era especial para ele. Eu me lembrava muito bem da vontade que sentia
de voltar aqui e compartilhar os seus momentos. Thomas organizara uma noite
maravilhosa para o nosso aniversário, com direito a jantar romântico, músicos,
rosas, joias e algumas brincadeirinhas. Claro que o que mais me interessou foi
o prazer que ele me proporcionou quando finalmente nos amamos e ele derramou
sobre o meu corpo uma chuva de pétalas de rosas vermelhas, isso depois de me
fazer enlouquecer passando gelo em meu corpo quente. Foi fantástico!
Estávamos nos despedindo de nossa rotina agitada de divulgação e
promoção do seu novo filme. Alguns dias antes estivemos em Cannes exibindo o
seu filme. Não concorríamos a nada, foi penas
uma exibição, o que já era uma grande honra. Depois a correria normal que a
carreira de ator exigia. Principalmente um ator como Thomas que estava no auge da
carreira, aclamado pelos melhores diretores e amado por milhares de fãs.
Meu trabalho ao lado dele só aumentara com a ausência da Helen, que
preferiu se afastar de vez do grupo para poder passar mais tempo com sua filha
Sophia, eu estava acumulando minhas tarefas e as dela. Dyo também estava com
mais responsabilidades tendo em vista que, o que antes deveria ficar com Lauren,
fora atribuído a ele. Agora ele se desdobrava por um número maior de
localidades que deveria cobrir como agente de Thomas. Por estes motivos
estávamos todos implorando por alguns dias de paz e descanso. Eu e Thomas já planejáramos
tudo: Férias merecidas. Só nós dois.
Levantei da cama e, puxando o lençol cinza de seda pura que Thomas
providenciara para a nossa grande noite cobri o meu corpo. Depois dei risada comigo
mesma. Eu estava sozinha, para que me cobrir? Larguei o lençol e levantei de
vez me deparando com minha imagem no imenso espelho localizado em local
estratégico que dava um longo ângulo da cama. Perguntei-me se isso teria sido
uma ideia do pai de Thomas e, se tivesse sido, já me sentia envergonhada só de
pensar nos seus motivos, ou se foi mais uma grande ideia de Thomas para
apimentar nossa noite. Fiquei envergonhada ao imaginar a forma que ele nos
assistiu durante a nossa longa sessão de amor. Fui até o banheiro e lavei o
rosto.
Agora a minha missão era descobrir o que ele estava aprontando já que havia
sumido do quarto sem ao menos me avisar. Coloquei um roupão e desci as escadas
em direção à sala. Eu não precisava me preocupar em encontrar algum
desconhecido. O apartamento estava vazio. Passei pelos sofás imensos e
convidativos, reconhecendo largada em um dos seus cantos a camisa que Thomas usava
na noite anterior, quando começamos a nos animar.
Encontrei-o na varanda observando o sol nascer e fui ao seu encontro. Vestindo
apenas uma bermuda verde, descalço e sem camisa, ele era a encarnação da
beleza. Havia um cigarro em uma de suas mãos, o que me desagradou um pouco. Ele
sentiu minha presença antes que eu conseguisse alcançá-lo e se virou para me
receber em seus braços. Suspirei ao ver o sorriso maravilhoso que exibia nos
lábios.
- O que você faz aqui sozinho?
- Desculpe-me. Não queria que sentisse a minha falta – se desculpou beijando
os meus lábios com carinho e me envolvendo em seus braços.
- Posso desculpá-lo, porém isso vai depender do tempo que vai demorar a
voltar para a cama – levantei meu rosto exigindo mais dos seus lábios nos meus.
- Posso voltar agora mesmo já estou aqui há algum tempo.
- Alguma decisão difícil? – Perguntei ao me lembrar da primeira vez em
que estive no apartamento quando ele me disse que era lá que ia para pensar em
coisas que precisava decidir.
- Na verdade não. Estava aqui pensando... Ontem fez um ano que estamos
juntos...
- E?
- Estamos noivos há mais ou menos o mesmo tempo...
- Aonde quer chegar Thomas? Seja direto.
– Estava frio e eu pretendia voltar
logo para a cama para continuarmos com a nossa comemoração.
- Nós ainda não marcamos a data do casamento.
- Isso é muito importante para você? – Fiquei intrigada
com a colocação de Thomas. Realmente não
havíamos marcado a data e nem parado para realmente conversar sobre esta prioridade
em nossas vidas. Também, não tivermos muito tempo nos últimos meses para pensar
na organização de uma festa.
- E para você não?
- Claro que é – respondi imediatamente para certificá-lo de que não
tinha dúvidas da minha escolha. – Apenas ficamos sem tempo livre, mas podemos
fazer isso já. É só você me dizer a sua preferência. – Seria mais fácil saber por
onde começar se Thomas simplificasse as coisas me ajudando em alguns detalhes. Comemorações
nunca foram o meu forte. Eu nunca tive uma festa de aniversário, nunca havia
organizado uma festa para ninguém e não fazia a menor ideia de como seria
organizar um casamento. Graças a Deus eu tinha Melissa, Mia e Sam para cuidarem
disso por mim.
- Não é tão simples assim. Precisamos primeiro saber que tipo de festa
vamos querer para que possamos decidir qual será a melhor época do ano. – “Nossa!”
Pensei aflita. Eu começava a sentir que os papéis estavam invertidos, eu era o
homem sendo prática e Thomas a noiva ansiosa, preocupada com os mínimos
detalhes. Tive que rir dos meus pensamentos mas fiquei triste ao mesmo tempo. Seria
ótimo se tivesse uma mãe para me ajudar e apoiar para que este momento fosse
realmente especial. Minha mãe não teve tempo de viver estas coisas comigo e o
que veio depois dela estava muito longe de ser uma mãe até Sam entrar em minha
vida. Contudo havia situações que não poderiam ser revertidas.
- Não pensei nisso. Acho que devemos escolher uma data que nos agrade e
depois decidimos qual o tipo de festa será mais adequado. Na verdade eu nem
consigo pensar em uma grande festa. Acho que deveríamos fazer algo pequeno e
simples, sem chamar a atenção da mídia. O que você sugere?
- Pensei em novembro. – Thomas realmente estava interessado em discutir
os detalhes.
- Vou pensar numa data.
- Não demore – agora sim ele era a noiva ansiosa. Precisei segurar uma
gargalhada.
- Para que a pressa? Não existe nada num casamento que já não tenhamos
vivido. Moramos juntos, trabalhamos juntos, dormimos juntos... – enlacei sua
cintura com meus braços sugerindo qual o meu maior interesse no momento.
- Existe sim. Mas o que importa verdadeiramente não é isso. Eu quero
oficializar a nossa relação. Contar para o mundo que esta mulher maravilhosa
tem um dono.
- Outra vez com esta história de dono?
Ele riu alto e começou a me beijar de maneira mais ousada. Como sempre,
meu corpo se entregou sem nenhuma resistência. Voltamos para o quarto que
estávamos ocupando e fizemos amor. Depois dormimos.
Voltamos para casa no final do dia. Thomas queria ficar no apartamento
por mais alguns dias, porém eu queria voltar para nossa casa e organizar as
coisas para os nossos últimos compromissos, além do mais eu teria que abandoná-lo
por algumas horas. Iria me encontrar com minhas amigas, Mia, Anna, Daphne e
Stella. Como havíamos voltado de uma longa viagem de divulgação do seu último
filme, queríamos passar algum tempo longe de tudo até começarmos um novo
trabalho. Algumas propostas surgiram, mas nada que precisássemos decidir com
urgência. Assim poderíamos dedicar alguns meses ao nosso amor e aos
preparativos do casamento. Por este motivo eu estava ansiosa para rever as minhas
amigas. Eu não tinha visto muito as garotas nos últimos meses, com exceção de
Mia e, com as minhas férias ao lado do Thomas eu ficaria um bom tempo sem
vê-las.
Decidimo-nos por um restaurante francês bastante aconchegante numa rua
próxima da casa onde eu vivia com Thomas. Desde que eu sofrera o atentado da
Lauren ele não se sentia confortável com o fato de eu estar distante e sem
seguranças e, como eu detestava sair acompanhada de sombras, optei por um lugar
seguro e perto de casa. Como se isso fosse fazer alguma diferença caso a Lauren
resolvesse fugir do manicômio onde estava confinada. Só pelo fato de me lembrar
dela minha pele se arrepiava de medo.
Encontramo-nos no restaurante e a alegria nos dominou imediatamente. Eu
sentia falta delas e a recíproca era verdadeira constatei satisfeita. Ficamos
conversando animadamente por bastante tempo. Contei sobre a viagem e os lugares
por onde tínhamos passado. Falei sobre a vontade do Thomas de marcar logo a
data e a minha felicidade com o casamento. Mia nos contou sobre alguém que conhecera,
um rapaz bastante interessante dono de uma pequena empresa de software que
estava ganhando bastante notoriedade no mercado. Parece que eles poderiam
engatar um romance a qualquer momento e ela estava bastante empolgada. Fiquei
mais do que feliz pela minha melhor amiga. Ela era uma pessoa incrível e
merecia conhecer alguém à sua altura.
Stella estava pensando sobre uma proposta para fazer mestrado em Londres
e estava às voltas com esta decisão importante para a sua vida. Empenhei-me em
incentivá-la. Eu sabia o quanto era importante para ela dar seguimento aos seus
estudos e, para ser bem sincera, eu também gostaria de voltar a me dedicar aos
meus, entretanto a minha vida com Thomas não me permitiria fazer isso agora.
Daphne havia recebido uma promoção na empresa de marketing em que
trabalha e por isso estava viajando bastante o que fazia com que também se
distanciasse do nosso grupo. Ela estava muito feliz com o seu desenvolvimento
profissional e isso contava bastante para que todas compreendêssemos a sua
constante ausência em nossas vidas, principalmente eu que nos últimos tempos,
estava mais ausente do que qualquer uma delas.
Anna estava
passando por um momento profissional bastante difícil e todas nós tentávamos
ajudar na medida do possível. Ela foi demitida da empresa de publicidade em que
trabalhava e, desde então, não conseguira encontrar outro emprego. Ninguém
sabia ao certo o que havia provocado sua demissão e respeitávamos o fato dela
não querer falar sobre o assunto. Quando fosse a hora com certeza nos contaria.
O fato era que, por causa das dificuldades que estava passando, Anna estava
cada vez mais nervosa, arredia e agressiva, especialmente comigo.
- Nem todo mundo consegue ganhar na loteria como você Cathy, ainda mais
tantas vezes. – Anna buscava formas de rebater nossas tentativas de ajudá-la,
ou mais propriamente, as minhas tentativas.
- Não sei do que você está falando Anna – tentei ser o mais natural
possível evitando uma discussão maior entre nós. Anna era minha amiga e eu não
via motivos para brigar com ela, principalmente agora quando passava por um
momento tão difícil.
- Tá bom, Cathy! Você consegue o emprego perfeito, o namorado perfeito,
a herança perfeita e acha que engana quem com esta conversa de que as coisas
não são bem assim?
- Desculpe Anna, eu não sabia que minha felicidade a incomodava tanto
assim. Só quero que você se lembre de que eu precisei vencer muitas batalhas
para conseguir o emprego perfeito, quase perdi a minha vida para ficar com o
namorado perfeito e, para que eu recebesse a herança perfeita, precisei perder
o meu pai. – Minha paciência estava quase esgotando.
- Cuja existência nunca fez muita diferença para você.
Senti as lágrimas se formarem com as recordações difíceis. Anna estava
sendo especialmente dura e o que é pior, sem a menor necessidade. Resolvi que
aquela era a minha deixa para ir embora.
- Bom... Acho que chegou a minha hora. – Falei olhando para as minhas
outras amigas que pareciam constrangidas com nossa pequena discussão.
- Ah não Cathy! Ainda é cedo. –
Stella estava realmente chateada com a minha ida.
- Meia noite Stella. Se não voltar para casa agora a mágica vai se
desfazer e vou voltar a ser a gata borralheira. Meu carro vai virar abóbora e o
Arnold vai virar um ratinho – brinquei com minhas amigas tentando amenizar o
clima.
– Teremos tempo só vamos viajar em vinte dias.
Thomas tem ainda alguns trabalhos para fazer na cidade.
Assim que terminei de falar meu celular vibrou e eu peguei para atender certa
de que era Thomas na linha. Sorri para as meninas com a constatação.
- Acho que agora é mesmo hora de ir – Mia afirmou devido à ligação dele.
- Já estou voltando amor – atendi prevendo o que ele diria.
- Está bem tarde Cathy, você sabe como eu fico...
- Eu sei Thomas. Já estou me despedindo das meninas.
- Estou esperando. Amo você!
- Eu também.
Desliguei o celular me desculpando com as minhas amigas. Thomas havia
ficado super-protetor depois do incidente e eu às vezes me sentia um pouco
sufocada com sua preocupação exagerada, apesar de saber que havia motivos para
isso. Abracei minhas amigas, inclusive Anna e fui embora. Prometemos nos
encontrar em alguns dias, com exceção da Daphne que estaria viajando a
trabalho.
Quando cheguei Thomas estava me esperando na entrada da casa. Suspirei
pesadamente ainda dentro do carro.
Não queria que ele percebesse o
quanto me sentia incomodada com seus cuidados excessivos. Saí do carro e fui ao
seu encontro.
- Voltei inteirinha, sem faltar nenhum pedaço.
- Fico muito feliz por isso. – Ele sorriu para mim daquela forma
esplêndida e me lembrei do porquê de não conseguir me sentir incomodada pela
sua atenção exagerada quando estávamos juntos. Joguei-me, teatralmente em seus
braços, levantei uma perna e meu rosto, como faziam as divas do cinema e fechei
os olhos aguardando por um beijo. Ele riu e me beijou.
- Eu sentiria a falta de qualquer pedacinho que faltasse em você. Amo
você todinha, sem tirar nada – ele beijou meu pescoço causando arrepios em
minha pele.
- Como foi o seu encontro?
- Muito bom, apesar da Anna. Eu estava com muita saudade das meninas.
- Eu sei – ele pegou em minha mão e começou a andar em direção à sala. –
Por que apesar da Anna? – Thomas perguntou curioso.
- Ela está com todos os problemas do mundo e resolveu me usar como
válvula de escape. – Sentei no sofá e comecei a soltar as fivelas que prendiam
minhas sandálias ao calcanhar.
- Como assim? – Thomas estava muito interessado na minha noite. Achei
muito fofo.
- Ela me disse algumas coisas sobre eu ter toda a sorte do mundo e ela
não ter nenhuma. Resolvi não entrar no clima dela e vim embora.
- Fez bem. Já está bem tarde. Não é hora de uma mulher comprometida
estar na rua. Principalmente com amigas solteiras. – Thomas falava em tom
sério, porém eu sabia que estava brincando tentando não me deixar mais
intrigada com as atitudes da Anna comigo.
- Mia não é mais solteira. – Respondi na tentativa de despertar um pouco
da sua curiosidade.
- Ah não? Quem é o sortudo?
- Não conheço ainda, mas estive pensando em convidá-los para jantar, o
que você acha?
- Acho ótimo!
- Vou fazer isso – levantei e fui em direção à escada que dava acesso ao
nosso quarto. Thomas me acompanhou.
- Sam ligou para seu celular? – Ele perguntou casualmente.
- Não. Por que?
- Ela ligou aqui para casa. Queria falar com você e eu disse que tinha ido
se encontrar com as garotas. Ela falou que ligaria para você no celular. Fiquei
um pouco preocupado. Era bastante tarde e ela parecia nervosa.
Olhei para o relógio, era quase uma hora da madrugada.
- Amanhã bem cedo ligo de volta para ela.
Pela manhã, assim que Thomas resolveu me deixar sair da cama, fui
procura do telefone para tentar falar com Samantha. Ela não estava em casa e
também não atendia o celular. Liguei para o escritório para conseguir alguma
informação a seu respeito e foi lá mesmo que a encontrei.
- Sam, o que aconteceu? Thomas disse que você está querendo falar
comigo?
- Eu sempre quero falar com você minha querida, isso não é nenhuma
novidade.
Respirei mais aliviada. Ela parecia bastante tranquila, o que me permitia
tirar a hipótese de qualquer problema dos meus pensamentos.
- Você me deixou preocupada. Achei que havia acontecido alguma coisa.
- Na verdade aconteceu mas temos tudo sob controle.
- Temos? É alguma coisa relacionada às empresas?
- Sim. Peter sofreu um infarto ontem à noite, está tudo bem com ele,
apesar de permanecer internado e de ainda necessitar de cuidados. Os médicos
disseram que ele terá que se afastar dos negócios por um tempo e ficamos um
pouco desorientados. Não existe ninguém da família, além de você, para
substituí-lo.
- Ai meu Deus Sam, você sabe que não entendo nada disso, como poderei ajudar
em alguma coisa? Também tenho meus compromissos com Thomas, ainda não estamos
liberados. Sinto muito, mas não posso ajudá-la – a angústia estava querendo me
dominar. Eu não gostaria de deixá-la na mão, mas não existia nenhuma
possibilidade de eu me tornar uma executiva a esta altura do campeonato.
- Eu imaginei que iria dizer isso – sua voz estava bastante leve. Fiquei
mais relaxada de imediato. – Acabei de sair de uma reunião com o conselho
administrativo. Foi sobre isso que tentei avisá-la ontem à noite, como você não
estava, resolvi que faríamos esta reunião mesmo sem sua presença.
- Tudo bem. O que vocês decidiram?
- Tivemos que decidir um monte de coisas, inclusive qual seria sua
participação nesta história. Peter tinha agendado diversas reuniões de negócios
que seriam extremamente vantajosas para as empresas, então não podemos adiar ou
deixar passar estas oportunidades. Decidimos que dividiremos a presidência em
dois cargos de igual poder pelo tempo em que o Peter estiver ausente. Contudo
elegemos uma única pessoa para supervisionar os dois cargos. Será quem
comandará tudo, porém o trabalho será facilitado devido à divisão de
responsabilidades. É para isso que precisaremos de você.
- Não posso assumir esse cargo Sam...
- Eu não pediria isso a você Cathy. Nós estamos dividindo da seguinte
forma: uma sede será a de Nova York. Sei que não poderá acompanhar o trabalho o
tempo todo, mas precisaremos de você em alguns momentos, principalmente porque
a outra sede será em Los Angeles. Já temos a pessoa que irá coordenar os cargos
da presidência, só precisamos que você o acompanhe em algumas situações, seja
um pouco mais presente. Não é nada que vá atrapalhar sua vida.
- Em vinte dias eu estarei viajando para a Suíça com Thomas para nossas
tão esperadas férias. Não estarei aqui.
- Cathy, estamos precisando de você. Sinto muito, mas terá que adiar sua
viagem. Desculpe-me. – Pensei duas vezes sobre o que deveria responder, mas
optei por aceitar o que Sam estava me pedindo, afinal eu era a dona e deveria apoiá-los
quando necessário.
- Isso vai me trazer um problemão com Thomas. Terei que dar um jeito.
Mas me conte, quem irá ocupar o cargo?
- É um jovem que está a algum tempo dirigindo uma de nossas empresas. Ele
é muito competente e, como estava em constante contato com Peter, tem uma
grande experiência com o que vai encontrar pela frente. Ele se chama Roger
Turner.
Parei um tempo tentando assimilar o que ela estava me dizendo. Roger
Turner. Só podia ser uma brincadeira do destino. Este era o nome de meu
ex-namorado. Será que era a mesma pessoa? Só com a menção do seu nome eu, involuntariamente,
revivi muitos anos da minha adolescência quando só podia contar com o Roger.
Depois que nos separamos nunca mais
tínhamos nos encontrado. Ele havia entendido, mas não foi possível evitar a
mágoa que ficou com o nosso rompimento. Por este motivo ele nunca mais havia me
procurado.
- Cathy! Você continua aí? – Sam chamava a minha atenção devido ao meu
silêncio.
- Claro Sam. Apenas fui pega de surpresa. Eu conheci um Roger Turner há
algum tempo.
- Se for a mesma pessoa será de muito bom. Pelo menos vocês poderão
pular a fase de adaptação.
- Espero que sim.
Desliguei o telefone já pensando no tamanho do problema que teria com
Thomas por causa das ultimas novidades. Primeiro, a necessidade de adiarmos a
nossa tão esperada viagem, mesmo que fosse por pouco tempo e, segundo pelo
reaparecimento de mais este assunto do meu passado. Roger não era um fardo para
mim, muito pelo contrário. Ele havia sido um grande companheiro, meu melhor
amigo, além de meu namorado. Este era o grande problema eu não havia contado ao
Thomas sobre sua existência e, sinceramente, não tenho a menor ideia de qual
será a sua reação. Eu teria que pensar na melhor forma de contar a ele.
Três dias depois eu resolvi convidar Mia e seu novo namorado para jantar
em nossa casa. Thomas convidou Dyo, tendo em vista que ele e Mia eram grandes
amigos também, e este perguntou se poderia levar um amigo. Por causa disso, éramos
um grupo bastante animado de seis pessoas. Henry Dahmer, o namorado de Mia, era
um homem de 30 anos muito elegante dava gosto de se olhar. Alto, moreno, olhos
azuis, pele bronzeada, um verdadeiro Deus grego, e era da minha amiga. Mia
estava fascinada com a atenção que ele dava a ela e com a facilidade com que
tinha se adaptado ao grupo. O amigo do Dyo, Maurício Lecter, era uma figura
engraçada de se ver, era baixinho, porém possuía um corpo bastante definido,
cabelos castanhos curtos num corte moderno e olhos que acompanhavam a cor do
cabelo. Suas sobrancelhas eram tão grossas que quase se tocavam o que dava ao
seu rosto, levemente arredondado, a ideia de masculinidade. Aparentava ser mais
velho do que Dyo e também mais maduro, centrado. E era inconfundivelmente gay.
Eu e Thomas achamos que existia algo entre eles, apesar de toda a discrição de
ambos. Fiquei feliz pelos meus amigos. Era como se mais um ciclo estivesse se
fechando, com todos felizes no amor.
Depois do jantar ficamos na área da piscina conversando sobre nossas
vidas. Dyo e Thomas se ocuparam em contar para Henry e Maurício a minha
história de amor, com Thomas é claro. Eu e Mia ríamos dos comentários e
fazíamos alguns acréscimos às histórias contadas. Mia dedicava o seu tempo em
dizer a Thomas que ele teve muita sorte em me encontrar, ressaltando que
existia uma longa fila aguardando por uma oportunidade. Thomas disfarçava, mas
estava visivelmente incomodado com as declarações de Mia. Ele nunca escondeu o
seu lado ciumento.
Não sei de como a conversa começou mas, de repente, eu estava ouvindo
Thomas se gabar dizendo que tinha sido o meu primeiro namorado, destacando a
palavra namorado, para que não houvesse dúvidas, e falar também do quanto lutei
contra o que sentia por medo do desconhecido.
A resposta saiu, tanto de mim quanto de Mia,
simultaneamente e sem pensar.
- Não foi não – me arrependi de imediato e, a julgar pelo olhar que
Thomas me deu, sabia que não teria como voltar atrás.
- Isso é novidade para mim – ninguém conseguira perceber, porém eu
conhecia meu noivo muito bem e sabia que estava furioso com a minha revelação.
– Por que você nunca me falou sobre isso? Eu imaginava que já tivesse ficado
com outros caras, mas namorado mesmo... – ele riu sem graça e pude ver o fogo
por trás dos seus olhos. Eu estava em sérios apuros, isso era um fato.
- Por que nunca me perguntou. Em nenhum momento eu disse a você que nunca
tive outro namorado.
Thomas ficou calado por um tempo depois continuou conversando com o
grupo como se nada tivesse acontecido. Estremeci com o que viria depois que
todos fossem embora, quando ele finalmente poderia demonstrar o que sentia.
A reunião continuou até a madrugada e, após muito vinho e risadas, todos
resolveram que já estava na hora de ir embora. Depois das despedidas eu dei a
desculpa de que precisava recolher as coisas e levar para a cozinha. Thomas não
contestou e ficou na varanda fumando um cigarro. Eu demorei o máximo que pude
tentando evitar nossa conversa. Eu não queria que ele ficasse chateado comigo e
por causa disso preferia conversar apenas quando já estivesse com todas as
justificativas prontas.
Quando saí da cozinha todo o andar de baixo já estava com as luzes
apagadas. Fui direto para a escada na esperança de encontrar Thomas já dormindo
em nosso quarto.
- Cathy – estremeci com sua voz vinda da varanda. – Está fugindo de mim?
– Virei em sua direção sem muita vontade e tentei recompor as minhas feições
para não demonstrar o meu desespero. Tenho certeza que não consegui.
- Não tenho motivos para isso - sorri para ele tentando amenizar a
situação.
- Você me deve uma explicação.
- Sério? Sobre o que? – Era ridículo fingir que não sabia, mas eu não
conseguia pensar em nada melhor para dizer. A minha única vontade era correr e
me trancar no quarto. Ridícula e infantil era pouco para mim. Qual era o absurdo
no fato de ter um ex-namorado? Mesmo que nunca tendo mencionado o assunto ou
dado a entender que ele existiu algum dia em minha vida. Isso era apenas um
detalhe, não era? Eu esperava conseguir convencer Thomas disso.
- Sobre o seu ex-namorado. O que eu nunca soube da existência. – Thomas
estava calmo, contudo eu já podia antever que isso não terminaria bem.
- E isso é um problema para você? – Eu sabia qual seria sua resposta,
porém por algum motivo desconhecido, eu estava tentando bancar a idiota.
- Claro. – Ele me encarou com severidade. Pronto. Agora eu tinha a
certeza que esse seria um problemão.
- Não deveria ser. Você teve um monte de ex-namoradas, algumas com instinto
assassino e eu nunca fiz disso um problema para nós – permaneci com o sorriso
débil no rosto.
- Não?
Tudo bem. Eu tinha feito sim. Eu havia inclusive me proibido de ficar
com o Thomas por causa das suas aventuras amorosas. E, literalmente, infernizei
a sua vida por causa do seu romance com a Lauren. O que quase nos separou.
Desisti de fugir do assunto e decidi encarar logo a situação de frente.
- Amor, eu nunca achei necessário contar. Aliás, eu nem me lembrava
desta história. Não tem importância alguma, o mais importante eu vivi com você.
– Thomas avaliou a minha mudança súbita, mas não se deu por satisfeito. Era tão
ridículo eu dizer que nem me lembrava de ter tido um ex-namorado.
- Quando aconteceu? Quando terminou? Quanto tempo ficaram juntos? –
Agora sim eu estava numa enrascada.
Respirei fundo tentando responder sem deixá-lo ainda mais irritado. Claro que ele percebeu a minha relutância.
- Cathy, acredito que já deixamos a fase dos segredos para trás – era
melhor responder de uma vez.
- Seis anos – senti minhas mãos começarem a suar.
- Seis anos? – Thomas perguntou
um pouco alto demais.
– E você tem a coragem de dizer que não foi
importante?
– Seus olhos estavam arregalados
pela revelação.
- Thomas, pare com isso – sentei na poltrona e coloquei o rosto entre as
mãos. Eu sabia que seria uma conversa difícil.
- Você é inacreditável Cathy. Se fosse eu quem tivesse escondido uma
história dessas estaria furiosa comigo.
– Ele andava de um lado para o outro passando
as mãos pelos cabelos.
- Você está furioso comigo. E você me escondeu a sua história por
bastante tempo.
- Eu nem sei o que dizer. Quem é esse cara? De onde vocês se conhecem? O
que aconteceu? Existe mais alguém que eu precise saber ou vou ser surpreendido
com mais revelações.
- Calma Thomas! – Puxei o ar e levantei
indo me sentar na poltrona próxima a ele. – O que quer saber exatamente?
- Tudo.
- Eu conheci o Roger quando fui morar com minha tia, depois da morte da
minha mãe. Ele era mais velho, eu tinha doze anos e ele dezessete. Nós nos
tornamos amigos de imediato. Ele era a única pessoa que eu conhecia, por isso
ficamos tão próximos. Estudávamos na mesma escola e íamos juntos todos os dias
até que ele foi para a faculdade. Quando fiz quinze anos ele se declarou para
mim e eu achei que era o mais lógico a fazer.
- Lógico?
- Thomas, eu não preciso explicar mais uma vez que antes de você eu
nunca amei outra pessoa. Eu gostava do Roger. Ele era um grande companheiro e,
para o momento que eu estava passando, era muito reconfortante ter por perto
alguém que me queria. Eu me sentia segura ao lado dele, apenas isso.
- E você realmente quer que eu acredite que ficou seis anos com uma
pessoa que não amava?
- Quero sim. Você só tem duas opções: acreditar em mim ou não acreditar.
Eu estou dizendo que a única coisa que sentia pelo Roger era amizade e gratidão.
Eu achava que poderia se transformar em amor, afinal as pessoas diziam que a
convivência traz o amor para um relacionamento, porém, com o passar do tempo percebi
que isso nunca aconteceria.
- Depois de seis anos? – Ele não se renderia tão fácil assim.
- Não. Na verdade muito antes disso eu só não tinha coragem para
terminar. Acredito que não queria terminar. Como já disse, ele era um grande
companheiro, eu estava feliz por tê-lo comigo. – Essa conversa iria me trazer
mais problemas do que fui capaz de prever.
- E por que se separaram? Foi ele quem a deixou?
– Thomas aguardava ansioso pela resposta e, a
julgar pelo seu comportamento também estava com medo do que eu poderia responder.
- Você sabe que eu era virgem. Não é fácil manter um relacionamento com
uma pessoa com tantos bloqueios. Roger era carinhoso, atencioso, romântico, no
entanto nada disso me fazia querer romper as barreiras que me impediam de ser
uma mulher para ele. No inicio ele aceitou e foi extremamente compreensivo. Com
o tempo passou a pressionar mais e eu constatei que não seria possível me
entregar a ele. Então eu terminei nosso relacionamento – fiz uma pausa para
observar a sua reação. Thomas pareceu ficar mais tranquilo com o que eu falei.
- Thomas eu amo você! Nunca amei outra pessoa, só você. – Levantei e me
ajoelhei na sua frente buscando seus olhos. - Não existe motivo para você ficar
cismado com esta história do meu passado. Nada do que eu contei... Nada do que
eu vivi com ele, foi mais importante do que tudo o que eu já vivi com você. –
Thomas sorriu para mim ainda um pouco resistente, porém o fato de eu estar reafirmando
o meu amor por ele pareceu deixá-lo menos intrigado com a minha história.
- E
vocês nunca mais tiveram contato? Ele simplesmente sumiu de sua vida? – Por que
não podíamos parar por ali? Por que Thomas tinha que tentar descobrir até a
última parte? Será que o restante não poderia ficar para amanhã? Senti minha
cabeça doer com os problemas que eu sabia que viriam.
- Sim. Até agora...
- Como assim até agora Cathy? – A tensão voltou a nossa conversa.
- Era sobre isso que eu precisava conversar com você, só queria que
fosse em circunstâncias diferentes.
- Manda logo a bomba – Thomas passou os dedos com força por entre os
fios de cabelo.
- Então... Quando a Sam me ligou avisando dos problemas da empresa...
Ela falou sobre a pessoa que assumiria a coordenação das empresas.
- E? Não vai me dizer que é o mesmo cara! – Bingo! Eu podia sentir meu
coração querendo sair do peito.
- Thomas eu não sei ainda se é ele, apenas achei que era muita
coincidência. É o mesmo nome e sobrenome e...
- Cathy, eu já entendi. Você vai passar o tempo que nós teríamos para curtir
juntos trabalhando ao lado do seu ex- namorado. – Ele estava totalmente incomodado com a
situação. Sua voz estava alterada e seus gestos eram impacientes.
- Nós nem sabemos se é o mesmo. – Eu realmente não queria continuar com
aquela discussão. Estava tarde e minha cabeça doía.
- E se for? – Ele cruzou os braços no peito e me encarou
desafiadoramente.
- Não vai ser nenhum problema.
- Como não? Você vai ter o seu ex-namorado na sua cola o tempo inteiro
e...
- Thomas, você teve uma ex-namorada em nossa cola durante um bom tempo. Eu
convivo com suas ex-namoradas praticamente o tempo todo. Como pode me cobrar
isso agora?
- Eu não tenho ex-namoradas.
- Que seja!
- Você sabe no que deu eu permitir que uma pessoa do meu passado
convivesse com a gente. Eu não quero que a história se repita. – Um frio percorreu
minha espinha. Thomas parecia profetizar algo.
- Pelo amor de Deus. Quem disse que vai se repetir? O Roger aceitou o
fim do nosso relacionamento de forma bastante digna. Durante esses anos todos
nunca me procurou. Com certeza ele sabe como me encontrar, sabe que eu sou a
dona da empresa em que trabalha e nem por isso resolveu aparecer. Muito
diferente do que aconteceu com a Lauren.
- Tudo bem Cathy. Faça como quiser.
Dizendo isso Thomas me deu as costas e foi para o nosso quarto. Eu ainda
fiquei na varanda por um tempo tentando esfriar a minha cabeça para que não
recomeçássemos a briga. Quando fui para o nosso quarto, ele já estava dormindo.
A única coisa que eu podia fazer era dormir também. Sem o calor do nosso amor.
Capítulo 2
Reencontros
VISÃO DE CATHY
Dois
dias depois fui me encontrar com Samantha
e Roger Turner no escritório da empresa no World Trade Center. Thomas não
estava nada satisfeito com a existência de um ex, menos ainda com seu
reaparecimento. Por este motivo eu
quis adiantar as coisas e verificar de uma vez se o profissional com quem eu
iria trabalhar era realmente a mesma pessoa com quem me relacionara há alguns
anos.
Mesmo com a insistência do Thomas em ir junto comigo eu não cedi.
Primeiro porque era uma reunião de um trabalho que não estava relacionado a
ele. Segundo porque eu não queria tê-lo por perto caso confirmasse que o
profissional com quem eu iria trabalhar era mesmo o meu ex- namorado. Entretanto
aceitei que ele me acompanhasse a Nova York, afinal de contas, eu não gostava
de dormir sem ele, nem que fosse por uma noite.
Entrar no World Trade Center me fez sentir algo que há muito não sentia,
a sensação de ser uma pessoa normal. Sem necessidade de seguranças, ou sem a
possibilidade de ter fãs correndo e gritando, como era a minha rotina ao lado
do Thomas. Toda a amplitude do seu interior e a movimentação de pessoas
apressadas rumo a algum objetivo, sem se importar com a minha presença trouxe
novos ares para minha vida. Era ótimo ser eu mesma novamente. Constatei sem
entender ao certo o porquê daquela sensação me confortar, afinal eu era feliz
ao lado de Thomas. Entrei no elevador ainda tentando organizar os meus
pensamentos.
Assim
que cheguei ao escritório, onde eu nunca tinha estado, fui encaminhada por uma
secretária que sorria amavelmente para mim, a uma sala onde já me aguardavam.
Ela era um pouco baixinha, mas percebi que compensava sua estatura com saltos
altíssimos. Seu corpo magro ficava muito bem em suas roupas profissionais, uma
saia azul, justa ao corpo, que se estendia até quase os joelhos e uma camisa
branca de mangas compridas com um laçarote que enfeitava o seu pescoço. Era
morena e com cabelos negros muito bem escovados, em um liso quase natural. Seu
rosto estava impecavelmente maquiado. Ela indicou com a mão a porta da sala
onde me aguardavam. Parei indecisa. Se fosse realmente o Roger como seria?
Respirei profundamente e me armei de coragem para abrir a porta.
A sala era imensa e muito bem arrumada. Com móveis de alta qualidade e
muito modernos. As paredes eram brancas com exceção de uma, que era verde
musgo, bem clara, dando um aspecto clean à sala, equilibrando o ambiente agradável.
Havia no seu interior alguns jarros de cerâmica com plantas bonitas, muito bem
escolhidas, que não agrediam em nenhum aspecto o restante da decoração. Três
quadros com molduras brancas estavam expostos na parede verde musgo, nada de
muito valor ou muito chamativo. Em uma mesa branca com um computador preto e
alguns papéis devidamente arrumados, estavam alguns livros. Na outra parede havia
algumas prateleiras em formato de cubo, na cor tabaco, e nestas havia mais
livros. A sala me agradou muito.
Reconheci Samantha sentada numa poltrona preta, próxima
ao sofá de três lugares, na cor branca, que dava a sala um ar mais aconchegante
Ela segurava uma xícara com as mãos e olhou para mim sorrindo.
- Cathy. Que felicidade em revê-la. – Sam colocou a xícara de lado e se
levantou para me abraçar carinhosamente. – Linda como sempre – ela se afastou
me olhando como uma mãe faria. – Como está o Thomas?
– Era muito fácil retribuir o
carinho que Sam tinha por mim. Tornamo-nos muito próximas, como mãe e filha,
desde a morte do meu pai. Eu a amava de verdade e era muito grata pelo seu
amor.
- Ótimo como sempre. – Respondi sorrindo para ela enquanto meus olhos
buscavam pela figura que responderia aos meus conflitos, porém a sala estava
vazia. Exceto por mim e Sam, é claro.
- Boa tarde. Desculpem o atraso. A reunião durou um pouco mais do que
deveria. Com a ausência do Peter os investidores estão inquietos. – Virei em
direção à voz que me certificava de que aquele era o mesmo Roger da minha
adolescência. Eu não precisava olhar para reconhecê-lo. De uma maneira
inexplicável meu coração acelerou. Não da forma como acontecia quando o Thomas
se aproximava, mas de uma maneira confortável. Segura. Da mesma forma que eu me
sentia quando éramos ainda adolescentes e ele era a única pessoa com quem eu
podia contar em meio a inúmeros problemas. Antes mesmo que eu me virasse para
olhá-lo já estava sorrindo.
-
Roger – afirmei o meu reconhecimento com uma alegria avassaladora e me
questionei se minha reação não estava sendo exagerada demais.
- Cathy – ele me encarava com brilho nos olhos.
Não ficamos nem dois segundos nos olhando, mas foi como se o tempo
tivesse parado. Roger fora meu melhor e único e amigo durante todos os anos em
que me vi cercada de problemas e tristezas. Ele, por muito tempo, foi a única
alegria em minha vida. A única segurança. Existia uma relação sólida entre nós.
Éramos mais do que amigos, éramos confidentes, cúmplices. A separação não foi
tão fácil. Eu havia sentido falta dele, da sua amizade e do seu companheirismo.
Mas precisei deixar passar, porque tinha a certeza de que não o amava e de que
nunca o amaria. Então eu precisei dar a ele a chance de seguir em frente. Agora
estávamos ali, refeitos e juntos outra vez. Não pelos laços afetivos, porém,
mesmo sendo por laços profissionais, eu me sentia feliz por encontrá-lo outra
vez.
-
Então vocês se conhecem realmente? – Samantha interrompeu meus pensamentos. –
Isso é ótimo! Isso tornará a convivência mais fácil. – Roger sorria com os olhos.
- Sim. Nós nos conhecemos há bastante tempo. Na verdade desde a
infância. – Eu ri para ele com a lembrança da nossa amizade e ele retribuiu
vindo em minha direção e me tomando em seus braços num abraço carinhoso. Foi
como se eu estivesse em casa. Confortável e segura. Eu não conseguia parar de
pensar.
- Não nos vemos há alguns anos, você está muito bem Cathy! Mais bonita
do que nunca.
Fiquei sem graça com sua afirmação, porém Roger fez questão de desfazer
a situação rapidamente.
- Então está noiva? Que maravilha! Eu vi nos jornais quando acompanhei o
problema que teve com a garota. Fiquei muito preocupado com você, mas, enfim...
– ele se prendeu um pouco em seus pensamentos. - Você está aqui. Bem e refeita.
Fico feliz.
- É. Foram tempos difíceis, mas já passaram.
- Imagino que vocês terão muito tempo para conversar sobre o tempo
perdido depois. Agora podemos iniciar a nossa conversa sobre a empresa? Eu
pretendo voltar para a Pensilvânia ainda hoje. – Samantha não gostava de se ocupar
muito com os problemas da empresa, apesar de estar constantemente envolvida
neles depois da morte do meu pai.
Ficamos em reunião por bastante tempo. Confesso que fiquei surpresa com
a capacidade do Roger em administrar a empresa com tanta facilidade. Não que
ele não tivesse esta capacidade antes, mas eu nunca pensei nele ocupando o
cargo que agora ocupa. Fiquei orgulhosa. Após cinco longas horas conversando
sobre investimentos, contratos, negócios, eu estava acabada de cansaço. Antes
de encerrarmos Samantha precisou ir embora aliviada por deixar os problemas em
nossas mãos. Eu e Roger ainda ficamos mais algum tempo juntos enquanto ele me
apresentava alguns balancetes e me explicava sobre a situação atual da empresa.
Só quando meu celular tocou me dei conta da hora. Era Thomas.
- Você ainda está em reunião? – Ele perguntou calmamente.
- Sim, mas já estamos terminando. Logo estarei em casa.
- Posso esperar para jantarmos juntos?
- Sim claro. Eu vou adorar.
- Ficarei aguardando então. Amo você!
- Eu também.
Desliguei o telefone sob o olhar atento do Roger.
- Desculpe-me. Ele tem sido muito protetor depois do incidente – sorri
sem graça.
- Eu entendo. Deve ter sido muito difícil para ele o fato de quase tê-la
perdido – ele acompanhava todos os meus gestos com olhar investigativo.
- Foi sim – desviei meus olhos dos dele.
- Não precisa ficar sem graça Cathy – ele colocou suas mãos sobre a
minha. - Eu fico muito feliz por saber que você finalmente se rendeu a um amor
e, fico ainda mais feliz por saber que é retribuída. Você é uma pessoa
incrível, merece ser feliz. – Meu coração se aqueceu com suas palavras. Eu me
sentia culpada pela nossa separação e, saber que ele se sentia feliz por mim,
me fazia feliz também.
- Obrigada Roger – tirei minha mão da sua.
– E você, casou?
- Não. Na verdade eu fiquei noivo, mas o trabalho acabou atrapalhando
tudo e resolvemos nos separar a algumas semanas. Ainda não tive tempo para avaliar se devo ou
não sofrer por isso – ele sorriu calorosamente demonstrando a mesma alegria de
quando éramos crianças.
- É uma pena. Espero que fique tudo bem, se é que devo desejar isso
mesmo, já que nem você sabe o que está sentindo. – Dei risada e ele me
acompanhou. – Acho que devo ir agora – levantei enquanto ele organizava alguns
papéis em sua mesa.
- Talvez devêssemos sair para jantar qualquer dia desses. Você leva seu
noivo, assim poderei conhecê-lo e nós poderemos colocar as novidades em dia.
- Claro. Será ótimo. Vamos nos ver em três dias não é?
- Sim. Para a reunião com o pessoal da indústria de aço.
- Ótimo. Podemos marcar alguma coisa depois disso.
- Por mim tudo bem.
Despedimo-nos e eu voltei para Thomas, que me aguardava em nosso
apartamento. Ele havia comprado um apartamento em Nova York para evitar as
longas estadas em hotéis. Cheguei em casa sem saber ao certo o que encontraria
por lá. Thomas havia sido difícil nos últimos dois dias, após a descoberta da
existência do Roger. Eu estava cansada e não queria entrar numa longa discussão
com ele. Porém, assim que entrei, fui recepcionada com um abraço caloroso
acompanhado de um beijo apaixonado.
- Seja bem vinda de volta ao lar, meu amor – ele disse me entregando uma
taça de vinho tinto.
- Obrigada! – Aceitei a taça agradecida pela boa acolhida, mesmo
surpresa.
- Como foi a reunião? – Estremeci. Eu sabia exatamente o que ele estava
querendo saber e tive medo de contar.
- Cansativa. E você? Fez o que o dia todo? – Tentei ganhar algum tempo.
- Visitei alguns amigos. Você sabia que o Dyo está na cidade?
- Sério? Não sabia. O que ele está fazendo aqui?
- Não sei, mas encontrei com ele e o Maurício quando estava indo para a
casa do Adam.
- Vou ligar para ele depois. Talvez eu queira fazer compras amanhã antes
de voltarmos para casa.
- Vamos voltar amanhã mesmo? Achei que você teria mais algumas coisas
para resolver.
- Não. Sam já voltou para casa e eu terei outra reunião em Los Angeles
mesmo, daqui a três dias.
- Com quem? – Ele perguntou demonstrando pouco interesse enquanto
completava nossas taças com mais vinho.
- Com um pessoal de uma indústria de aço e com o Roger – respondi
tentando demonstrar a mesma falta de interesse que ele.
Thomas colocou uma mão no bolso e encostou-se à mesa onde os pratos
estavam postos para o nosso jantar. Ele esperava pela minha resposta, pois não
sabia como me perguntar sem causar mais problemas entre nós.
- É a mesma pessoa Thomas – respondi sem aguardar pela sua pergunta. Ele
ficou em silêncio, apenas me olhando. Suas feições estavam duras. Seu maxilar
rígido. – Amor, não existe problema algum nisso. Ele foi tão natural! Nós dois
fomos.
- Como você se sentiu? – Ele perguntou ainda sem quebrar o nosso contato
visual.
- O que? – Respondi surpresa.
- Como você se sentiu em relação a ele? – Respirei profundamente antes
de responder.
- Como se estivesse reencontrando um velho amigo. Por que? – Fiquei
involuntariamente nervosa. Eu não podia dizer ao meu noivo que eu estava me
sentindo especialmente feliz por ter encontrado meu ex- namorado.
- Meu Deus, Cathy! Estou tão confuso – ele falou após uma breve
avaliação da minha resposta. Passou as mãos em seus cabelos fechando os olhos
com força.
- Thomas, não fique. Por favor! – Eu estava cansada e sem a menor
vontade de entrar em mais uma longa discussão sobre a necessidade de estar ao
lado do Roger neste momento.
-
Como posso não ficar Cathy? – Sua voz ainda era calma, o que me fez pensar que
não estava com raiva e sim com medo. – Esse cara apareceu do nada e eu nunca
soube da sua existência. Como você quer que eu me sinta? Ele foi seu namorado e
agora é também seu funcionário. Vocês vão conviver por mais tempo do que eu
estou preparado para suportar e não sei como reagir a isso. – Seus olhos eram
suplicantes.
- Thomas, me desculpe. Também fui
pega de surpresa com essa história toda. Você precisa entender. Eu não planejei
isso. Muito pelo contrário, nunca imaginei que o reencontraria. Nós nunca mais
fizemos contato depois que terminamos.
- Eu sei. Acredito em você, porém isso não me faz sentir mais seguro –
ele respirou fundo. – Você acha que ele ainda sente alguma coisa por você?
- Não, – respondi rapidamente. - Ele foi bastante convincente em relação
a este fato. Disse que estava feliz por mim e que queria conhecer você. - Thomas
balançou a cabeça como se estivesse negando esta possibilidade.
- Eu
preciso que me prometa que, se ele tentar qualquer coisa ou se demonstrar
qualquer sentimento em relação ao que viveram, você vai me contar. – Ele pegou
meu rosto em suas mãos e me olhou nos olhos se certificando de que eu estava
entendendo o que ele estava me pedindo.
- Eu prometo, mas...
- Apenas prometa Cathy.
- Eu prometo.
Ele
me beijou com tensão. O abracei com força, na tentativa de transmitir a ele
toda a minha certeza de que nada nos atrapalharia. Eu o amava e, nada nem
ninguém, mudaria esta realidade. Tudo o que vivemos para chegar até aqui era a
maior prova de que o nosso amor era forte e sólido. Resistimos a tantos
problemas, superamos as diferenças, as incertezas e, principalmente, todos os
segredos que nos impediam de firmar este amor. Como uma pessoa do meu passado,
principalmente uma pessoa que nunca foi mais do que um amigo para mim, pelo
menos sentimentalmente, poderia modificar o que sentíamos e queríamos?
Thomas retribuiu o meu abraço afagando minhas costas e beijando meu
rosto com carinho.
- Eu amo tanto você Cathy! – Eu sabia que ele queria dizer mais do que
isso. Afirmar o seu amor naquele momento era uma forma dele me dizer que estava
com medo. De dizer que não queria me perder. Por este motivo eu tomei uma
decisão que poderia amenizar o que ele estava sentindo.
- Estive pensando sobre o nosso casamento e consegui encontrar um mês que
me agrada – deu certo. Os olhos de Thomas brilharam e ele logo se mostrou
interessado pelo assunto.
- Ah é? E quando seria? – Ele perguntou abrindo seu lindo sorriso. Meu
coração ficou satisfeito.
- Setembro.
-
Setembro? Eu pensei que você queria mais tempo para organizar. Só teremos dois
meses.
- Não acredito que isso será problema para a minha “liga do casamento”.
– Ri para mim mesma pensando no apelido que encontrei para a pressão da Sam,
Mia e Melissa para a organização da cerimônia. Thomas entendeu a minha
brincadeira e sorriu satisfeito.
- Por que setembro? Existe um motivo especial para a escolha deste mês?
- Não um motivo especial, mas pensei que não precisamos esperar tanto. –
Passei carinhosamente a mão em seu peitoral e sorri largamente para ele. – Nós
dois nos amamos e temos certeza disso – pisquei travessa. – E setembro é um mês
bom, quente e agradável.
- Eu gostei. Aprovo a sua decisão. – Thomas deu um beijo rápido em meus
lábios.
- Também já pensei em mais alguns detalhes a respeito da festa, mas
antes gostaria de jantar. Estou faminta.
No dia seguinte eu consegui entrar em contato com Dyo e nós combinamos a
nossa tarde de compras. Dyo era perfeito para esta atividade. Ele tinha um
excelente senso de moda, sem deixar que esta ditasse suas escolhas então sempre
conseguia unir peças básicas com peças perfeitamente cabíveis na moda, tudo terminava
em excepcional harmonia.
Conversamos muito sobre nossas carreiras e a do Thomas, claro, afinal de
contas, Dyo era seu agente, cuidar da sua carreira era como cuidar da própria
vida. Dyo estava numa ótima fase e irradiava alegria. Eu tinha certeza de que
este efeito era causado pela presença do Maurício em sua vida.
- Então, está ficando sério? – Ri da sua expressão. Dyo não era muito
aberto quando falava de relacionamentos, pelo menos dos que levava a sério.
- Acho que sim. Ele me convidou para vir com ele. Acho que posso dizer
que estamos seguindo este rumo – ele avaliava uma vitrine enquanto falava.
- E o que vocês dois estão fazendo em Nova York? É um passeio romântico?
- Na verdade era para ser um passeio a trabalho, mas não posso negar que
tem sido muito romântico - demos risada juntos.
- Engraçada a vida e o rumo que ela segue – pensei em meus próprios
exemplos.
- Como assim?
- Eu e Thomas, você e Maurício. Você não para pra pensar que eles não
eram o que nós buscávamos? Digo... Thomas era um mulherengo que queria apenas
arrumar um jeito de me levar para a cama. O típico homem de quem eu fugi a vida
toda e agora estamos noivos. Maurício não é nada do que você descrevia como
preferência e, mesmo assim, você está aí, com os olhos brilhando ao falar sobre
seus momentos românticos com ele.
- Você tem razão, eu acho que esta é a parte mais importante do amor.
Você não sabe o que esperar dele. Acontece justamente da forma que você não
está procurando, contudo, quando acontece é avassalador – ele olhou para mim
com um sorriso sem graça. – Maurício é muito gentil, cuidadoso, carinhoso,
maduro, tão preocupado comigo que às vezes fico sem jeito, pois não sei como
retribuir tanta atenção.
- E você está apaixonado – eu constatei.
- Como poderia não estar?
Apenas concordei. Era assim que me sentia com Thomas, ou era como eu me
sentia antes dele implicar tanto com a história do Roger. Tá certo, eu não deveria
ter escondido isso dele, mas nunca tive motivos para contar e, na verdade, eu
nem chegava a me lembrar disso para que pudesse ser um ponto tão importante.
Também tive a oportunidade de desabafar com meu amigo sobre os problemas
que eu estava passando com Thomas por causa do aparecimento repentino do meu ex-
namorado.
- Em parte ele tem razão de ficar chateado com essa história toda. Você
nunca disse a ele que o tal Roger existia e agora, além dele existir, também
trabalha para você e, para piorar a situação, vocês precisarão estar juntos
para enfrentar os problemas da empresa. Eu entendo como ele deve estar se
sentindo.
- E o meu lado? Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer. Também fui
pega de surpresa e, quer saber? O Thomas me deixou no escuro sobre a vida dele
por muito tempo também. Ele acabou me dando este direito. Sem contar que, o
fato dele guardar segredo sobre a loucura da Lauren permitindo que estivesse o
tempo todo conosco, quase me tirou a vida.
- Eu sei. Foi por isso que disse “em parte”. Você também tem razão.
Agora Cathy, tenha um pouco de paciência com o Thomas, ele não está acostumado
com competição. Desde o inicio ele sabia que seria único em sua vida e agora precisa
conviver com mais alguém, mesmo que seja do passado.
- Não existe competição. Roger está tranquilo com relação ao nosso
passado. Ele até gostou de saber que eu estava noiva. Eu acredito que tudo
ficou muito bem resolvido entre nós e não há dúvidas a respeito do meu amor
pelo Thomas. Cada coisa está em seu devido lugar.
- Bom... Só o tempo poderá dizer se está realmente.
Caminhamos a tarde toda e no final estávamos entupidos de sacolas e
exaustos. Meus pés doíam tanto que a minha única vontade era sentar e arrancar
os sapatos.
- Vamos comer alguma coisa? – Dyo me propôs.
– Tem um restaurante logo ali na frente que eu
adoro. Ele fica um pouco cheio neste horário, porém acredito que conseguiremos uma
mesa.
- Não sei não Dyo. Eu combinei com Thomas que voltaria antes do jantar,
você sabe como ele ficou paranóico depois do que a Lauren aprontou.
- Vamos fazer o seguinte: Você liga para o Thomas e o convida para nos
encontrar e eu ligo para o Maurício fazendo o mesmo convite. Assim todos ficarão
satisfeitos.
Eu adorei a ideia. Nova York era tão encantadora e surpreendente, tão
cheia de coisas interessantes para fazer. E suas maravilhas não acabavam com o
pôr do sol, o que me fazia ter mais vontade ainda de aceitar a sugestão do Dyo
e estender um pouco mais o meu passeio. Peguei o telefone e combinei com Thomas
para ele nos encontrar. Ele chegaria mais tarde, esse era um dos grandes
problemas da fama. Ele não podia ir a qualquer lugar em qualquer horário. Enquanto
isso eu e Dyo iríamos aguardar pelo Maurício e beliscar algumas coisas até que
Thomas pudesse nos acompanhar.
Caminhamos até o restaurante, que por sinal, era discreto e de muito bom
gosto. As luzes do ambiente davam a impressão de privacidade, apesar das mesas
serem dispostas, sem nenhum tipo de barreiras. Porém, o âmbar das luzes não impedia
que as pessoas que dividiam a mesma mesa vissem umas as outras, devido a
existência de lâmpadas embutidas e velas espalhadas em lugares estratégicos. O
clima era muito apropriado para um encontro romântico. Fiquei feliz por estar
lá com Thomas e nossos amigos.
Como o Dyo havia dito, conseguimos uma das poucas mesas que ainda
estavam disponíveis. Acomodamo-nos e começamos a estudar o cardápio.
- Cathy? – Mal consegui sentar e ouvi a voz do Roger chamar por mim
ainda distante. Levantei o olhar surpresa com a coincidência. Apesar da pouca
luz entre o espaço que nos separava, dava para saber que era ele. Não tive como
evitar o sorriso que se formou em meus lábios.
- Roger! – Ele se aproximou e beijou meu rosto demonstrando a existência
de intimidade entre nós. Confesso que não fiquei incomodada com a proximidade,
pelo contrário, estava feliz por podermos nos comportar assim sem que houvesse
algum inconveniente. – O que você faz por aqui?
- Vim encontrar alguns amigos. Tive um dia agitado e aceitei o convite
deles para relaxar um pouco. – Ele apontou para uma mesa logo à frente onde
estavam quatro pessoas reunidas. - E você? Pensei que já havia voltado para Los
Angeles.
- Eu desisti de voltar hoje. Vamos embora amanhã pela manhã. – Ele olhou
para Dyo e eu me toquei que não tinha feito as devidas apresentações. – Este é
Dyo, meu amigo e colega de trabalho. Ele é um dos agentes do Thomas – eles se
cumprimentaram educadamente. – Quer se sentar um pouco? Estamos escolhendo algo
para comer enquanto os outros não chegam.
Para minha surpresa ele aceitou e se sentou ao meu lado. Na mesma hora
fiquei tensa. Thomas chegaria a qualquer momento e eu não sabia como reagiria à
presença de Roger.
- E então? Vamos nos encontrar outra vez em alguns dias?
– Roger tentou puxar conversa.
- Claro! Sam quer muito que eu esteja mais por dentro dos negócios. Vou
tentar ao máximo enquanto Peter não puder voltar à suas atividades e, espero ansiosamente,
que isso não demore muito a acontecer.
- Mal me reencontrou e já quer se livrar de mim?
– Roger falou rindo e eu fiquei constrangida.
- Não. Não é isso. É que já tenho uma carreira profissional que adoro e
não gostaria de modificar nada. Minha vida com Thomas toma todo o meu tempo não
há como eu conseguir administrar mais um emprego. E você não precisa sumir.
Nossa relação não precisa ficar apenas no profissional. Somos amigos.
- Eu entendo você Cathy. E, não se preocupe eu não vou sumir. – Roger
pegou carinhosamente em minha mão que estava sobre a mesa. Ficamos nos olhando
por um espaço curto de tempo.
- Cathy!
Thomas surgiu do nada. Olhei para ele ainda sem reação à sua chegada
repentina. Vagarosamente ele deixou meu olhar e encarou a minha mão envolvida
pela do Roger. Senti meu sangue gelar. Retirei minha mão ainda olhando em seu
rosto que agora estava voltado para Roger. O semblante de Thomas era de pura
raiva.
- Thomas. Amor, eu não o vi chegar – eu lutava contra a minha própria
voz para não gaguejar ou falhar.
- Eu percebi – ele continuava sério encarando Roger ao meu lado.
- Thomas este é Roger Turner. Nós nos encontramos aqui por um acaso, o
que é ótimo, assim vocês dois se conhecem logo de uma vez – eu disse
atropelando minhas palavras diante do meu nervosismo.
- Thomas. É realmente um prazer conhecer o homem que conseguiu desbravar
o coração desta garota. – Roger falou cheio de charme para Thomas, sendo o mais
agradável possível e lhe estendeu a mão. Thomas ainda ficou alguns segundos
encarando-o, então levantou sua mão e apertou cordialmente a mão estendida.
Respirei aliviada.
- Bem, eu já vou indo. Cathy foi um imenso prazer encontrá-la aqui. Dyo
e Thomas, prazer em conhecer vocês.
– Roger se afastou rapidamente da
mesa dando espaço para que Thomas sentasse ao meu lado.
Thomas
sentou e permaneceu calado. Suas mãos cobriam parcialmente seu rosto e seus
olhos estavam fechados. Eu e Dyo trocamos um olhar de entendimento e ficamos
aguardando até que ele se recuperasse da surpresa. Thomas estava visivelmente
transtornado e eu, apesar de não ter culpa do ocorrido e também de não ver
problema em encontrar um amigo por acaso, mesmo este sendo um ex-namorado,
estava me sentindo péssima. O silêncio que se prolongava alimentava ainda mais
a minha necessidade de me explicar e justificar.
- Boa noite! Desculpem a demora. Precisei resolver algumas coisas antes
de conseguir sair. – Maurício chegou e,
sem perceber o clima pesado na mesa, foi falando e sentando. Eu tentei sorrir,
mas acredito que meu sorriso foi quase uma careta. – Vocês já pediram? Estou realmente
com muita fome.
- Não. Na verdade ainda estamos estudando o cardápio.
– Dyo se adiantou a responder. – Você tem
alguma sugestão? Alguma preferência?
- Apenas faço questão de carne. A daqui é maravilhosa!
– Maurício respondeu ainda sem
perceber a situação.
- E você Cathy? – Dyo me perguntou tentando quebrar o silêncio
constrangedor que se prolongava. Olhei para Thomas na esperança de encontrar
algum sinal de que tudo já havia passado, porém ele permanecia imóvel e calado.
- Posso experimentar a carne. O que o Maurício pedir para mim está bom.
– Eu comeria qualquer coisa desde que Thomas superasse o problema que estávamos
vivendo.
- Thomas? – Dyo seguiu tentando amenizar o clima entre nós. Thomas
levantou a cabeça e seu olhar era completamente perdido. Consumido pela
incerteza e insegurança e também pelo ciúme que o devorava. Como se de repente
ele tivesse voltado à realidade, respondeu:
-
Eu perdi o apetite. Desculpem-me! – Thomas levantou-se e foi embora do
restaurante tão rápido quanto entrou. Em momento algum ele olhou para trás ou
fez menção de que queria que eu o seguisse. Era como se eu não existisse.
Eu fiquei sentada em minha cadeira incapaz de reagir.
Era tudo estranho demais para ser assimilado.
- Meu Deus! Foi alguma coisa que eu falei? – Maurício perguntou
preocupado.
- Não Maurício. Desculpe por isso. Dyo vai explicar. Desculpem-me, eu
vou atrás dele.
Recolhi minhas sacolas e corri em direção à rua, porém não havia nenhum
vestígio do Thomas. Chamei um taxi e voltei para casa. Agora, tanto a incerteza
quanto a insegurança que estiveram com Thomas estavam ao meu lado me acompanhando
em todos os meus passos.
Cheguei em casa procurando por ele. Eu não tinha ideia do que deveria
esperar. Estava nervosa e insegura. Ele tinha motivos para estar chateado, mas
não era para tanto. Roger não estava tentando nada comigo, estava apenas sendo
gentil, assim como foi com o próprio Thomas. Parei na sala e respirei
profundamente buscando calma para termos esta conversa. Eu precisava reunir
todos os argumentos possíveis para tentar convencê-lo de que não havia motivo
para tanta insegurança, já que não precisava de garantias do meu amor. Desse eu
já dera todas as provas necessárias.
A sala estava escura e as portas que davam acesso à varanda estavam
abertas fazendo com que as cortinas esvoaçassem para dentro da sala compondo um
cenário fantasmagórico. Senti o cheiro de cigarro e deduzi que Thomas estava na
varanda. Caminhei em sua direção. Eu sabia que ele já percebera a minha
presença, porém não se virou para me receber. Parei ao seu lado e aguardei um
pouco para que ele falasse. Como não falou nada eu resolvi iniciar a conversa.
- O que aconteceu Thomas? – Minha voz estava fraca e dava para perceber
a insegurança em todas as palavras.
- Preciso mesmo responder? – Ele perguntou com voz firme. – Por que me
chamou para aquele jantar Cathy? Por que não me contou que seu amiguinho
estaria lá também?
- Por que não era para ele estar lá. Foi uma coincidência.
– Thomas riu sarcasticamente.
– O que você está pensando? O que você acha
que eu fiz?
- Não sei Cathy. Não sei mais o que pensar. – Ele apagou o cigarro no
cinzeiro próximo a sua mão, depois colocou as mãos no bolso, voltando o seu
olhar para o horizonte à nossa frente. Para mim foi como uma bofetada. Ouvir
dele que era impossível ter uma ideia definida a meu respeito era, no mínimo,
constrangedor. Thomas não precisava disso. Nós não precisávamos. Infelizmente
parecia que ele estava disposto a ir bem fundo com sua mágoa injustificada. Só
que eu não iria.
- Você é inacreditável – senti lágrimas se formarem e fiquei furiosa comigo por chorar. Era tão
injusto! Decidi que não conversaria mais. Eu iria tomar um banho e dormir. Era
só o que me restava fazer. Pensando assim me virei em direção à sala, porém
Thomas me segurou pelo braço fazendo-me olhar diretamente em seus olhos que
faiscavam de raiva e, ao mesmo tempo, buscavam algum indício não sei de que.
- Ele ainda ama você Cathy – Thomas apertou meu braço com mais força.
- Não seja ridículo. Ele está apenas...
- Eu sei quando um homem olha uma mulher com desejo, com amor ou com
amizade. Eu vi a forma como ele estava olhando-a. Ele ama você. – Olhei nos
olhos de Thomas e só conseguia ver ali medo. A raiva de outrora tinha cedido
para o que ele tentou o tempo todo esconder de mim. Medo. Senti-me culpada por
criar esta situação entre nós. Rapidamente seus olhos conseguiram, mais uma vez,
ocultar seus reais sentimentos e a raiva voltou a faiscar. Ele falou comigo
praticamente cuspindo as palavras acusatórias.
- E você está permitindo que ele se sinta assim. – Fiquei perplexa e sua
mão abandonou o meu braço.
- O que? – O que ele estava pensando? Onde queria chegar com todo este
absurdo?
Thomas fechou os olhos com força e passou uma das mãos pelos cabelos com raiva. Sua respiração
estava irregular e pesada, assim como todo o ar disponível no momento para nós.
Pesado e difícil de ser absorvido
- Você está permitindo que isso aconteça. Eu só queria entender por que
Cathy? - Eu não conseguia acreditar que Thomas deixaria as coisas chegarem a este
ponto. E o pior, que ele fizesse tanta questão de dividir a sua dor comigo de
forma tão infantil e irresponsável. Ele estava querendo me ferir. Certamente
porque acreditava que eu o havia ferido. Era tudo inconcebível para mim.
- Você está me ofendendo – eu falei deixando as lágrimas caírem. – Fico
muito admirada em saber que é essa ideia que faz de mim. Você tem dúvidas
Thomas? Então vou dar-lhe mais algumas. Você tem certeza que é com essa mulher
que você quer casar? Uma mulher que sente prazer em ter um admirador? Que gosta
de permitir que outro homem nutra amor por ela? Pois eu vou dizer o que eu
acho. Eu não quero me casar com um homem que controla os meus passos. Não quero
me casar com um homem que não vê nunca o meu lado da situação, que não consegue
me ver como eu sou. Que me conhece tão pouco ao ponto de fazer uma ideia tão
errada de mim. Eu não sei se você se lembra, mas eu nunca me permiti amar
ninguém até conhecer você e, eu nunca fui de outro homem, mesmo tendo um
relacionamento de seis anos com outra pessoa. Foi você quem eu escolhi. Foi
você quem eu acreditei que merecia o meu amor. Mas pelo visto eu estava
enganada.
Cada palavra dita saiu com raiva, mágoa e tristeza. Thomas foi pego de
surpresa com minhas palavras e não conseguiu esboçar nenhuma reação. Eu
aproveitei para me distanciar e, assim que acabei de falar, saí em direção ao
meu quarto. Desta vez ele não tentou me impedir. Entrei no quarto e tranquei a
porta, como fazia quando ainda não éramos namorados. Era ridículo, porém naquela
noite eu não o queria ao meu lado, nem que para isso eu precisasse dormir num
hotel. Sem querer pensar em mais nada, me joguei na cama e chorei copiosamente.
Quando tudo começou a dar tão errado? Meus pensamentos passavam e repassavam a
nossa briga em minha mente e eu ainda assim procurava formas para justificar a
sua reação exagerada.
Ouvi
seus passos e depois suas mãos forçando a maçaneta. Ele parou hesitante diante
da porta trancada, depois se afastou em direção ao quarto ao lado do nosso. Eu
não queria ouvir as suas desculpas, queria apenas dormir e deixar o dia acabar.
Amanhã seria outro dia, e esse pesadelo deixaria de existir. Assim eu esperava.
Capítulo 3
O Inexplicável
VISÃO DE THOMAS
Dormi
muito tarde e acordei muito cedo. Era estranho dormir sem Cathy ao meu lado e,
pelo que parecia, esta não seria a última vez. Fiquei pensando em suas palavras
e confesso que tive muito medo que fosse verdade. Porém eu sabia que nos
amávamos, e todos os casais passam por momentos ruins.
- O problema é que nós sempre estamos passando por momentos ruins –
falei para mim mesmo lembrando-me de tudo que já vivêramos em apenas um ano de
namoro.
Definitivamente esta não era a minha ideia de amor, não que eu
acreditasse que não teríamos brigas, mas porque sempre nos deparávamos com
problemas e mais problemas nós parecíamos atraí-los. Tudo bem, eu reconheço que
boa parte destes problemas eram causados por mim e pela minha incapacidade de
enxergar o lado dela. Mas, sinceramente, aquela história estava destruindo a
minha capacidade de pensar. Qual homem admitiria uma situação destas?
Levantei da cama e fui tomar um banho. Eu precisava me verificar se
Cathy ainda estava lá, ou se tinha ido embora de uma vez. Esta dúvida me fez acelerar
o banho para poder ter a certeza de que tudo não passara de um pesadelo. Era
lógico que eu não queria que ela fosse embora, nem que terminássemos, apenas
queria que ela fosse menos cabeça dura e fizesse, pelo menos uma vez, as coisas
do meu jeito. Realmente tudo parecia um pesadelo.
-
Um inesperado pesadelo chamado Roger Turner. – Falei sozinho mais uma vez, como
se estivesse buscando apoio para os meus aborrecimentos. Eu estava certo por
estar incomodado com a situação e Cathy precisava compreender o meu lado. Mas
eu também estava errado ao ter essas reações absurdas que vinha tendo. Ela
estava certa neste ponto. Eu não podia ver apenas o meu lado e esquecer que ela
estava nessa por obrigação e não por escolha.
-
Deus, por que não consigo pensar de maneira racional quando estou com raiva? – Troquei
de roupa e fui em direção ao quarto dela. Ao nosso quarto. – Parece uma
eternidade – suspirei em frente à porta. Tentei abri-la, porém percebi que
ainda estava trancada. Fiquei aliviado, ao menos ela ainda estava lá. Levantei
a mão para bater na porta e chamar por ela, porém desisti. Se ela permanecia
trancada eu teria que respeitar o seu momento. Forcei-me a aceitar, contudo meu
lado egoísta se recusou a sair da frente da porta.
- Ok então. Vou ficar aqui aguardando. Como um cão de guarda. – Cruzei
os braços e me apoiei na parede. Algum tempo depois comecei a ouvir barulhos
vindos do quarto e, mais algum tempo depois, ela finalmente abriu a porta dando
de cara comigo. Nossos olhos se encontraram ela estava surpresa com a minha
presença.
- Bom dia Cathy! – Eu disse tentando ser o mais equilibrado e normal
possível.
- Bom dia Thomas! – Ela fechou a porta atrás de si e começou a andar
pelo corredor em direção ao primeiro andar. Eu fui atrás.
- Não vai falar comigo? – Senti o pânico ganhar espaço em meus
pensamentos. Deus, agora eu estava sendo o adolescente. Por que eu não
conseguia encontrar algo mais apropriado para falar?
- Acabei de falar com você – ela respondeu sem olhar para trás. Eu
precisava ser rápido ou então não haveria mais chance de reverter a situação.
- Amor, me perdoe por ontem – deu certo. Ela parou antes de descer as
escadas e se virou para mim. – Você está certa. Eu preciso confiar em você. Perdoe-me,
eu tenho sido difícil e você não merece isso. – Vi suas feições se suavizarem e
aproveitei para me aproximar mais.
– Eu amo você Cathy! Estou apenas
com medo de perdê-la.
-
Por que você acha que vai me perder? – Ela se aproximou ainda mais de mim.
- Não sei. Já estive tantas vezes a ponto de perdê-la que acho que
fiquei em estado de alerta com esta situação.
– Ela sorriu para mim e meu coração se
aqueceu.
- Thomas. Eu nunca em toda a minha vida tive tanta certeza do que quero
para mim. Mesmo que Roger me amasse, como você disse, mesmo que a minha
história com ele tivesse sido diferente, ainda assim, o que eu sinto por você
não mudaria. Ser sua é a única certeza que tenho nesta vida e nada nem ninguém
vai mudar isso.
Abracei seu corpo puxando-o para mim. Como ela não resistiu, eu
imediatamente a beijei. Nosso beijo foi longo e intenso e, no mesmo instante,
meu corpo reagiu à falta do seu. Parecia ter passado uma eternidade desde a
última vez em que estivemos juntos.
- Nunca mais tranque a porta do quarto – eu falei entre nossos beijos. –
Minha noite foi péssima. Você não faz ideia do quanto já estou dependente de
você ao meu lado.
– Passei as mãos em sua cintura e apertei seu corpo
junto ao meu, fazendo com que sentisse a minha excitação. Cathy deixou escapar
um gemido de prazer e eu o sorvi com desejo.
- Thomas... – ela falou carinhosamente. – Assim vamos perder o vôo.
- Não tem importância. Podemos ir à noite. – Continuei com as carícias
enquanto nos conduzia de volta ao quarto.
– Agora eu só quero passar um tempo com a
minha futura esposa.
Passamos
boa parte do dia fazendo amor e foi maravilhoso, como sempre era com Cathy. Era
incrível como eu reagia ao seu toque, seus gemidos, seus sussurros, e sempre
desejávamos mais e mais, um ao outro. Cathy era linda, esplêndida, única e eu a
endeusava sem o menor pudor. Era assim que eu gostava de ficar com ela, fazendo
com que ela soubesse o quanto a admirava e não me importava em ser apenas um
súdito aos seus pés, desde que ela fosse apenas a minha rainha.
No final da tarde estávamos em nossa imensa cama, transpassados e
envoltos em um lençol que cobria parcialmente a nossa nudez. Eu estava
brincando com sua pele, fazendo carícias com as pontas dos dedos e assoprando
levemente para me deslumbrar vendo-a ficar arrepiada.
- Caramba Thomas, me esqueci de ligar o celular. – Cathy levantou-se
para pegar o aparelho que estava na cabeceira da cama e eu admirei mais uma vez
seu corpo nu. Eu nunca cansaria de olhá-lo, era como olhar a perfeição. Uma vez
Cathy me disse que existiam muitas formas de se ver Deus. Pode até ser heresia
mas, quando eu olhava Cathy assim, eu tinha certeza de que Deus realmente
existia. Do contrário como ela poderia ser tão perfeita?
- Está com a cabeça nas nuvens, Cathy? – Perguntei levantando junto para
beijar suas costas. Na verdade eu precisava tocá-la constantemente para ter
certeza de que ela não era um sonho ou uma ilusão.
- Parece que passei o dia todo nas nuvens – ela respondeu carinhosamente
enquanto ligava o celular. – Dezoito ligações perdidas! – Ela respondeu
surpresa enquanto analisava as ligações então o aparelho vibrou em sua mão.
Cathy olhou para mim preocupada.
– É o Roger. – Tentei não demonstrar o meu aborrecimento, mas o fato é
que achei o sujeitinho muito abusado. Cathy, ao perceber que não haveria
problema, atendeu a ligação.
- Oi Roger. – Ela falou sem muita empolgação. Fiquei observando suas
atitudes enquanto escutava o que ele dizia. Seu rosto ficou sério e ela
respirou profundamente. – Ah é? É eu estive ocupada o dia todo, meu celular
ficou desligado, mas não vamos mais viajar hoje acho que não haverá problema em
encontrar com você e Sam. – Ela acrescentou olhando para mim para me tranquilizar
já que mais alguém estaria com eles. – Tá certo chegarei em meia hora – e ela
desligou.
- Vai sair? – Perguntei o obvio.
- É. Parece que teremos uma reunião do conselho administrativo. Eles
tentaram me comunicar durante o dia todo, mas não conseguiram. Alguns
investidores querem retirar o capital e o conselho está se reunindo para tomar algumas
medidas necessárias.
- Bem, então eu acho que terei que arranjar o que fazer. Você vai sair
agora e, pelo horário e gravidade do problema, não acredito que voltará tão
cedo.
- É verdade. Mas você deveria aproveitar a folga e ligar para o Dyo.
Assim vocês podem se encontrar e você aproveita para se desculpar com ele e o
Maurício. Foi horrível o que fez com eles ontem.
- Vou cuidar disso. Pode ficar tranquila – afirmei constrangido.
- Não tem mesmo problema eu precisar sair agora? – Por nada neste mundo
eu estragaria o nosso momento.
- Não amor. Vá. Ficarei aguardando a sua volta.
Observei Cathy levantar e se arrumar e depois sair ao encontro do ex-namorado.
Sinceramente? Detestei a ideia, mas nesse momento eu precisava apoiá-la e não
sufocá-la com a minha insegurança. Assim que Cathy saiu, peguei o telefone e
liguei para o Dyo. Eu teria mesmo que me desculpar com eles. Marcamos de nos
encontrar num bar próximo do meu apartamento. Eu costumava frequentá-lo com Kendel,
Raffaello e Dyo, quando ainda era solteiro e nós nos encontrávamos para falar
besteiras sobre as mulheres, ou até mesmo para encontrarmos algumas mulheres.
Quando
cheguei Dyo e Maurício já me aguardavam. Não precisei de muito para me
desculpar, eles foram bastante compreensivos e Dyo, como sempre, foi muito
sensato.
- Eu tenho certeza de que ele ainda gosta dela. Sabe quando você percebe
que algo está errado? Foi este o meu sentimento quando o vi segurando a sua
mão.
- Talvez você esteja exagerando no ciúme – Dyo me advertiu.
- Não é apenas ciúme Dyo. É que... Foi estranho. Não sei como explicar.
A forma como ele a olhava era diferente... Havia algo naquele olhar. Tenho
certeza disso.
-
Cathy ficou realmente chateada com sua atitude. Você precisa pegar mais leve –
Dyo me alertou.
- Eu sei. Estou tentando. Juro que estou. – Olhei atentamente para o
fundo do meu copo como se fosse encontrar ali alguma resposta.
- Você precisa ser mais compreensivo, Thomas – Maurício falou. – Cathy é uma ótima pessoa e não acredito que vá
permitir que alguém estrague o que vocês vivem.
- Eu sei. Vou esquecer essa história e deixar a Cathy resolver as coisas
à sua maneira. – Como eu sempre fazia no final das contas, pensei amargurado.
Passamos o final da tarde e uma boa parte da noite conversando sobre
diversos assuntos, porém mesmo me sentindo bem com meus amigos e gostando de passar
esse tempo fazendo coisas agradáveis para mim, eu ainda conferia de tempos em
tempos o meu celular para checar as horas e me certificar se Cathy ligara para
dizer que já havia chegado. Nada. As horas avançavam e nem uma mensagem dela.
Resolvi voltar para casa.
Entrei no apartamento vazio e fui direto para o nosso quarto. A cama
ainda estava desarrumada como tínhamos deixado. Tirei as roupas e tomei uma
ducha. Liguei a TV enquanto aguardava por ela, porém acabei pegando no sono.
Acordei, não sei quanto tempo depois, com o barulho do chuveiro ligado. Olhei
para o relógio e não acreditei nas horas. Eram duas e quinze da madrugada,
Cathy teria chegado àquela hora? Sentei na cama e aguardei. Assim que saiu ela
percebeu que eu estava acordado.
- Desculpe. Eu o acordei? – Ela perguntou enquanto subia na cama.
- O que aconteceu? – Tentei não demonstrar irritação, mas era quase
impossível. – Sabe que horas são?
- Sei. Fiquei presa numa reunião interminável. Para piorar as coisas
Roger sugeriu que fossemos todos jantar. Não tive como recusar. Só consegui
chegar agora. Estou exausta. Não sei por que Sam e Roger insistem em me manter nisso,
eu não entendo quase nada e, sinceramente, não gosto dessas reuniões, são
chatas e maçantes. – Ela riu baixinho enquanto conversava relaxadamente comigo
como se nada tivesse acontecido.
- Cathy, por que você não ligou? Por que não mandou uma
mensagem? – Eu tentava manter o mínimo de equilíbrio que ainda existia em mim.
- Por que eu estava em reunião. Acabou bem tarde e eu imaginei que você
estaria dormindo, não queria acordá-lo para dizer que ia demorar a chegar.
Olhei para ela sem acreditar. Isso estava se tornando um problemão eu
não sabia mais como controlar a situação. Pensei no que havia acontecido no dia
anterior e achei melhor não dizer mais nada, ou correria o risco de passar mais
uma noite no outro quarto. Virei para o lado e fechei os olhos tentando dormir.
Esta sim, era uma missão impossível, porém eu iria tentar. Cathy deitou ao meu lado
e me abraçou pelas costas.
- Não fique irritado comigo Thomas, eu não podia fazer diferente.
- Boa noite Cathy – eu falei para encerrar a conversa.
- Thomas, tem mais uma coisa que eu gostaria de conversar com você.
- São duas horas da madrugada – protestei.
- Eu marquei um jantar aqui amanhã. Queria acabar, de uma vez por todas,
com esse mal estar entre você e o Roger e, como você se mostrou arrependido, eu
o convidei. Também chamei a Sam e estou pensando em convidar o Dyo e o
Maurício. Posso contar com sua boa vontade para acabarmos logo com isso?
Apertei bem os olhos impedindo que minha raiva explodisse. No fundo eu
tinha consciência que ela estava certa. Mais uma vez. Era melhor acabarmos logo
de uma vez com todos os problemas. Porém, só de imaginar aquele cara na minha
casa, conversando e brincando com a minha Cathy, a raiva me inundava. Mas eu havia
concordado em tentar ser mais receptivo com esta história e não poderia negar a
ela o direito de convidar quem quisesse para a nossa casa.
- Tudo bem Cathy. Faça como quiser – respondi segurando a raiva.
- Sério? Nossa! Pensei que seria muito mais complicado resolver isso com
você. Então tá. Boa noite amor.
Achei que ela havia ficado animada demais, ou então, eu estava irritado
demais e imaginando coisas. Mas o fato é que eu não estava confortável.
Cathy
passou o dia todo organizando as coisas para o “tal” jantar e, durante o dia,
me fez jurar várias vezes que eu seria agradável com o Roger. Devo confessar
que, cada vez que ela me fazia jurar, menos vontade eu tinha de ser, mas
reconheço que parte da minha irritação era pura implicância. Eu nem o conhecia
direito e estava permitindo que meu ciúme me atrapalhasse de lhe dar uma chance
de me provar que era o contrário do que eu imaginava. Mesmo estando ciente disso,
ainda não conseguia me sentir bem com a situação. Eu sabia que havia algo de
errado, mesmo que o erro estivesse em mim e não nele.
Eu não saberia explicar, mas, para mim, Roger Turner sempre seria um
grande e incomodo calo em meu pé. Peguei o controle da TV e procurei algo que
me distraísse um pouco, achei um filme antigo com um ator que eu adorava.
Serviu muito bem para que eu parasse de prestar atenção em tudo o que Cathy
falava e fazia pela casa. Só voltei a pensar nela quando ouvi a sua voz me
chamando do segundo andar.
- Thomas, você vai se atrasar. Os convidados vão chegar e você ainda está
de short e camiseta – suspirei. Estava de volta ao pesadelo e, em breve, eu
estaria em meu calvário. Subi sem muita vontade e me deparei com um conjunto de
calça e camisa em cima da minha cama.
- Escolhi para você. Espero que não se incomode, você estava demorando
muito para subir então procurei adiantar o máximo o seu lado.
- Está ótimo – dei um beijo leve em seu rosto e fui tomar banho. Só
quando saí do banheiro eu prestei atenção ao que Cathy estava vestindo. Era um
vestido de alças, bastante justo ao corpo e também curto, revelando o quanto o
seu corpo era bem feito e suas pernas maravilhosas, mesmo ela tentando
disfarçar com meias pretas, o que, na minha opinião, era até mais provocante.
-
Você precisa realmente se vestir assim? – Perguntei sem esconder a minha
desaprovação.
- O que há de errado com minha roupa? – Ela perguntou se virando para
verificar no espelho se havia algo errado.
- Pra começar é curta demais, justa demais e provocante demais –
finalizei já frustrado.
-
O vestido não é justo Thomas, eu uso roupas bem mais justas quando o acompanho
nas premières. Está ligeiramente colado ao corpo, não vejo nenhum problema, eu
já me vesti assim várias vezes.
- Não quando o seu ex-namorado apaixonado vem jantar em nossa casa. – Ela
parou e ficou me encarando com desaprovação pelo que eu acabara de dizer. – Tá
bom! Vista o que quiser. – Esta era uma batalha perdida. Cathy nunca me
escutava quando falávamos de suas roupas. Peguei as minhas e me vesti
rapidamente enquanto ela calçava os sapatos de saltos finos que acentuavam
ainda mais seus tornozelos bem torneados. Ao mesmo tempo ela colocava uma mecha
do cabelo que descia insistentemente para seu rosto, atrás da orelha. Era uma
cena perfeita para parar e admirar. Como eu podia ser tão vulnerável a ela?
Pequenos gestos descontraídos eram o suficiente para me deixar louco de desejo.
Em segundos toda a minha raiva e frustração evaporaram.
- Quanto tempo ainda temos? – Perguntei sentindo o meu corpo reagir aos
meus próprios pensamentos luxuriosos com relação a minha noiva.
- Acho que uns vinte minutos, caso alguém resolva chegar no horário. – Cathy
respondeu sem muito interesse na minha pergunta. Fui até ela e abracei sua
cintura puxando seu corpo para mim. Cathy sentiu o motivo da minha pergunta. –
De jeito nenhum Thomas. Já estamos prontos e estou usando meias finas, não vou
deixá-lo estragar toda a minha produção.
Mas eu já estava com as mãos correndo o seu corpo e com os lábios em seu
pescoço à mostra devido ao seu penteado. Percebi que sua pele estava arrepiada
e investi mais um pouco, forçando minha mão em seu decote de encontro aos seus
seios. Cathy gemeu manhosamente.
- Você ficou o dia todo distante de mim. Estou sentindo sua falta –
mordi seu ombro com uma leve pressão.
- Isso lá é hora de sentir minha falta? – Ela perguntou com a voz fraca.
- E tem hora certa? – Ouvi a campainha tocar e percebi que teríamos que parar
por ali. - Pelo visto sim – respondi minha própria pergunta. Mais uma vez a
raiva se instalou em minha mente, agora de forma generalizada, eu agora odiava
todo o evento e as pessoas que chegariam para arrancar minha Cathy de meus
braços. Parece absurdo, mas era como eu me sentia.
- Os convidados começaram a chegar. – Cathy se adiantou para arrumar seu
vestido enquanto se afastava de mim. Eu segurei em seu pulso e a puxei de volta
beijando seus lábios.
- Espero que tudo termine logo, não vejo a hora de ter você em meus
braços. – Ela sorriu satisfeita e saiu do quarto para recepcionar quem quer que
tenha chegado para nos interromper.
Quando
eu desci Dyo e Maurício já estavam na sala com seus respectivos copos de uísque.
- Cheguei mais cedo para dar apoio moral – Dyo falou brincando com a
minha pouca vontade em participar do jantar.
- Obrigado. Tenho certeza de que vou precisar – respondi me servindo de
um pouco de uísque também.
- Não seja tão pessimista. – Mauricio acrescentou e eu apenas sorri.
Começamos uma conversa sobre a
imensa boa vontade da Cathy em promover aquele encontro. Dyo e Maurício
tentavam a todo custo me animar, mas o esforço era inútil. Eu sabia ser
implicante quando queria. Ao menos era o que ela sempre me dizia e agora eu
começava a acreditar.
Quando Samantha chegou acompanhada do Roger o clima ficou um pouco mais
tenso, porém todos trataram de tentar desfazer o clima ruim entre mim e o ex-namorado
da minha noiva. Cathy segurou animadamente no braço do Roger e o conduziu a
mim, muito sorridente para o meu gosto, eu podia jurar que seus olhos brilharam
quando ela o segurou pelo braço.
Apertei a mão dele forçando a minha elegância. Este era um papel difícil
de interpretar, porém eu faria isso por Cathy. Roger logo ganhou a atenção de
todos se apresentando de forma muito agradável e simpática, o que só fez
aumentar a minha antipatia por ele. Enquanto falava, explicando para meus
amigos o porquê da fuga de investimentos nas empresas da Cathy, eu observava a
forma como ela olhava para ele. Com admiração. Algumas vezes eu a vi sorrir
como uma namorada orgulhosa.
Senti meu estômago embrulhar com a cena, mas tentei me convencer de que
tudo acontecia apenas aos meus olhos, que estavam possuídos pelo ciúme e
distorciam toda a verdade. A Cathy... A minha Cathy, nunca faria isso. Ela
podia até se orgulhar de um amigo, isso era bem típico dela, mas nunca com
devoção, isso ela reservava apenas para mim. Agora eu estava sendo possessivo,
prepotente e orgulhoso, ou seja, estava sendo eu mesmo. Cathy podia
perfeitamente se interessar por alguém. Por qualquer outra pessoa menos
arrogante do que eu, ou que a sufocasse menos, como ela mesma havia dito alguns
dias atrás quando brigamos. Roger poderia ser este homem. Mais uma vez senti
meu estômago embrulhar.
Dei a desculpa do cigarro e fui para a varanda, me distanciando de
todos. Não fumei apenas um cigarro, aproveitei o máximo a desculpa para ficar o
mais distante possível daquela cena absurda e dos meus pensamentos
conflitantes. Será que isso poderia realmente acontecer? Cathy estava mais
madura, mais decidida. Era bem diferente da mulher que eu conheci a um ano,
insegura e inexperiente. E se percebesse que cuidar de seu patrimônio era mais correto
do que cuidar da minha carreira? E se percebesse que para isso precisaria mais
ainda do Roger e, talvez percebesse também, que ele era o mais adequado para
ela em vários outros pontos? Meu Deus, eu vou enlouquecer com tantos “e se”.
Acendi mais um cigarro, agora já consciente de que estava extrapolando com a minha
saúde. Quando todos fossem embora eu iria dar um jeito de convencer Cathy de
que precisávamos mesmo dos nossos dias de férias e iria me esconder com ela na
Suíça até que Roger esquecesse que ela existia, ou até que ele voltasse para o
lugar de onde nunca deveria ter saído, o passado.
- Posso acompanhá-lo? – Olhei para o lado não acreditando no que estava
vendo. O cara de pau do Roger estava na minha varanda, ocupando o meu espaço,
meu tempo e querendo que dividisse meu momento com ele. Respirei fundo tentando
colocar a máscara do bom anfitrião, mas, depois de tantos pensamentos e dúvidas,
eu não sei se conseguiria me segurar por muito mais tempo. Deus sabia o quanto
eu estava tentando.
- Claro! – Respondi engolindo as palavras que lutavam para sair da minha
boca e estiquei a carteira de cigarros para ele.
- Não obrigado, eu tenho meus próprios cigarros – ele enfiou a mão no
bolso do seu paletó e tirou uma cigarreira. Eu não conseguia acreditar que
Cathy um dia gostou de um “almofadinha” como ele. Sorri sarcasticamente
balançando a minha cabeça. Ele acendeu um cigarro e ficou ao meu lado em
silêncio. Talvez tenha sido isso o que mais me incomodou na presença dele.
- Coincidência não é? Você e a Cathy se reencontrarem assim? – Eu falei
tentando encontrar algum motivo para comprovar a ela que eu estava certo.
- Ah! Sim. Nem tanta coincidência assim. Eu trabalho na empresa que
pertencia ao pai dela e que agora pertence a ela. Uma hora ou outra iríamos no
encontrar.
- É. – Eu constatei pensativo. – Com certeza vocês iriam
– esta era a parte mais infeliz da
história. Cathy uma hora ou outra iria bater de frente com ele. – Ela me disse
que vocês não se viam há muito tempo.
- Verdade. Desde que terminamos. – Tive o cuidado de não destruir os
cigarros em minha mão devido à raiva que sentia pela sua ousadia em falar do
namoro deles comigo. – Confesso que fiquei surpreso quando a vi. Ela está muito
mudada. Mais madura mais bonita... Mais... – ele procurava pela palavra certa. –
Mulher. – Ele disse com um sorriso nos lábios e os olhos viajando em
pensamentos provavelmente impróprios para serem ditos em voz alta.
- Vai ver que é porque ela agora seja realmente uma mulher.
– Falei imaginando se ele entenderia
o meu recado.
- Pode ser – ele riu baixo. – Mas, quando estamos juntos, eu consigo ver
nela a mesma Cathy de antes. Principalmente quando ela sorri com os olhos
brilhando. Ela é inacreditável! – Ele mais uma vez olhou para o horizonte
pensativo.
- Essa Cathy não existe mais e, aquela Cathy... – eu apontei para a
direção em que ela estava conversando com nossos amigos alheia a nossa conversa
particular. - Será minha esposa muito em breve – usei isso como uma forma de
repreendê-lo, ou de alertá-lo.
- Sim, eu sei.
- Não me parece que você esteja muito feliz com isso.
– Busquei em suas atitudes algo que pudesse
utilizar como justificativa. Eu estava certo. Ele ainda a amava e, pelo que eu
estava conseguindo ler nas entrelinhas, não estava disposto a aceitar assim tão
fácil.
- Eu não posso mandar nas escolhas dela. Nunca pude.
E não acredito que alguém possa. A
Cathy apenas parece ser frágil, porém é forte e decidida, sem contar que é
muito teimosa também. Por isso sempre respeitei as suas escolhas, mesmo quando
estas não me deixavam feliz. Para a Cathy o respeito à suas decisões, ou aos
seus objetivos, sempre estará acima de qualquer sentimento. Não que ela não
valorize o amor, não é o que eu estou dizendo. Cathy é uma romântica sonhadora,
mas não tolera quando alguém não a compreende ou não respeita suas decisões,
mesmo quando são erradas, o que quase nunca acontece. Ela é muito sensata e
racional e isso a ajuda bastante a decidir sobre qualquer coisa.
Meu
equilíbrio estava por um fio. Aquele sujeito estava em minha casa, falando da
minha Cathy com tanta intimidade... tanta familiaridade, que estava me tirando
o pouco que restava de equilíbrio. O que era pior, ele estava dizendo a
verdade. A Cathy era exatamente assim como ele a descrevia e isso me irritava
ainda mais. Eu não queria que ele conseguisse enxergar nela tão claramente o
que eu demorei tanto tempo para perceber e entender.
- Se ela é feliz assim ou, se ela acha que é feliz... – ele deu de
ombros e se calou.
- O que você quer dizer com isso? – Minha paciência chegou ao fim e toda
a acidez dos meus pensamentos foi transportada para a minha voz que agora não
possuía mais nenhum resquício da polidez que eu havia tentado manter.
- Sinceramente Thomas? Não acho que você seja realmente a pessoa certa
para a Cathy – eu dei risada. Era demais para mim.
- E quem seria? Você? – Perguntei com desprezo a ele, porém meu coração
acelerou com a possibilidade desta ser a verdade. Ele a conhecia tão bem...
Não. Isso não podia ser possível.
- Não sei. Mas isso não anula o fato de eu achar que você não é a pessoa
certa para fazê-la feliz. Cathy precisa de alguém que esteja ao seu lado, e não
alguém que a mantenha atrás, cuidando da vida dele sem permitir que tenha a sua
própria vida.
- É muita cara de pau. – E eu iria deformá-la em alguns minutos se ele
não saísse da minha frente.
- Olhe para ela. – Ele apontou para Cathy que ainda conversava com nossos amigos, contudo estava séria, tensa,
como se algo a estivesse incomodando. - Veja como ela fica tensa ao seu lado.
Como tem receio de agir como quer. Você não percebe? Você está sufocando a Cathy com seu sentimento
excessivo de posse. Qualquer pessoa poderá dizer a mesma coisa. Cathy não é uma
mercadoria Thomas, muito menos um brinquedinho que você pode moldar da forma
como quiser. Ela é uma mulher esplêndida, linda, forte. Feita para ser seguida
e nunca para seguir. Você está minando a capacidade dela. Está...
- Saia da minha casa Roger e dê-se por satisfeito por eu mesmo não o
colocar para fora. – Eu levantei a voz sem me preocupar se as outras pessoas
estavam ouvindo. Naquele momento eu não me importava com mais nada, nem mesmo
com Cathy e com a minha promessa. Ele me dera todas as cartas e eu não
hesitaria em utilizá-las. Depois eu correria atrás do prejuízo e daria um jeito
de confortar Cathy pelo ocorrido. Ela me entenderia.
- Não acho que Cathy ficará mais satisfeita com você por isso. – Ele falou
em tom de confidência. – Nos braços de quem você acha que ela vai chorar? – Perguntou
baixinho enquanto formava um sorriso debochado nos lábios. Eu não me contive. Antes
do seu sorriso terminar de se expressar dei um soco nele descarregando toda
minha raiva acumulada. Roger foi lançado para trás e caiu no chão levando uma
cadeira consigo. O barulho foi grande, mas não o suficiente para me deter. Eu
queria mais. Eu queria arrancar seu sorrisinho do rosto com as minhas próprias
mãos. Quando eu estava indo em sua direção para cumprir a minha promessa
percebi que meus convidados estavam na porta da varanda olhando-nos
horrorizados. Meus olhos se encontraram com os de Cathy e ela estava furiosa.
Olhei
para Roger e ele ainda sorria, mesmo com o sangue escorrendo pelo canto de seus
lábios. No mesmo instante eu entendi. Era exatamente isso o que ele queria, me
fazer perder a cabeça e com isso dar a ela motivos para brigar comigo. Que
droga! Eu e essa porcaria de gênio. Como eu não percebi isso antes?
- Thomas! O que você fez? – Ela veio em minha direção com tamanha fúria
que pensei que, desta vez, eu seria atingido por um soco. – Você... Você é
absurdo – e se virou para ajudar o canalha do Roger a levantar do chão. Como
ele dissera. Era nos braços dele que ela choraria.
- Ai meu Deus Roger! Perdoe-me, eu não imaginava...
– Cathy tremia enquanto tentava achar a
maneira mais correta de corrigir o meu erro. Erro. Isso era de matar.
- Tudo bem Cathy! Tudo bem. Fique tranquila. – Ele passou a mão na boca
limpando o sangue que escorria.
- Por favor, alguém pegue gelo e um pano limpo. – Cathy pedia enquanto o
ajudava a limpar o ferimento. Ela olhou para mim e acrescentou: - Satisfeito?
Você conseguiu Thomas. – Só então eu me dei conta de que precisava me defender
ou Cathy ficaria do lado dele.
-
O que? Foi ele quem me provocou. Você não sabe as coisas absurdas que me disse.
– Eu tentava me justificar mas, pelo olhar dela, eu já sabia que de nada
adiantaria. Desviei os olhos da cena patética a minha frente.
- Ah Cathy, tudo bem! Acho melhor eu ir embora. Parece que seu noivo é
mesmo muito esquentado e ciumento. – Ele fez menção de levantar e eu desejei
que realmente fosse embora, ou eu o colocaria para fora com um chute.
Sam trouxe um pano limpo e gelo e entregou para Cathy sem olhar em minha
direção Cathy, imediatamente, tratou de cuidar do crápula. Passei as mãos nos
cabelos impaciente. Por quanto tempo ela cuidaria dele sem nem ao menos
conversar comigo? Até a ideia dela tocando nele com cuidado, se preocupando com
o seu estado estava me deixando nervoso.
- Cathy nós precisamos conversar. – Eu falei acreditando que, mesmo com
raiva de mim, ela se livraria daquele maldito e viria ao meu encontro, nem que
fosse para mais uma discussão ou para mais uma noite em quartos separados. Eu
não me importava. Apenas a queria longe dele e, o mais importante: queria ele
longe dela.
- Precisamos realmente conversar Thomas, mas em outro momento. – Ela se
virou para os convidados. – Acho que não temos mais nada a fazer aqui. Thomas
precisa de um tempo para pensar em suas atitudes e nós precisamos comer alguma
coisa. Sugiro irmos a um restaurante enquanto ele esfria a cabeça e reflete
sobre o que fez. – Ela me mandou um olhar inquisidor. – Espero que se arrependa
e consiga se desculpar a tempo.
- A tempo de que? - Não era possível o que eu estava ouvindo.
- Reflita Thomas. Agora eu tenho um jantar me aguardando. – Cathy se virou
em direção à porta, onde o próprio Roger a aguardava.
- Você só pode estar brincando. – Deixei a raiva me tomar mais uma vez.
– Ele me falou coisas absurdas eu só reagi. Não estou errado. Eu deveria ter
feito muito pior. Sabe o que ele teve a coragem de me dizer?
- Thomas, eu não vou conversar com você agora. Eu vou dar atenção ao
Roger e aos meus convidados, que não têm culpa do seu ciúme descabido.
- Cathy você vai sair com esse cara e me deixar aqui sozinho? – Eu
perguntei ainda sem acreditar no que ela estava planejando fazer, mas na
verdade já estava entrando em desespero.
- Vou. E não me espere para dormir. Vou passar a noite com Sam. Quem sabe
assim você entenda o que eu quero dizer, de uma vez por todas.
As pessoas que antes estavam presentes tinham ido para a
sala para nos dar mais privacidade. Mesmo assim era possível ouvir a nossa
discussão de qualquer lugar daquele apartamento. Cathy estava alterada e eu
enfurecido.
- Eu não vou admitir que faça isso Cathy. – Minhas palavras saíram entre
os dentes.
- Você não tem que admitir nada. Eu estou cansada, sufocada... –
lágrimas rolaram de seus olhos. Ele estava com a razão mais uma vez. Era assim
que ela se sentia ao meu lado.
- Ele me provocou. Quantas vezes eu terei que repetir isso? Você prefere
acreditar nele do que em mim?
- Você já me deu motivos suficientes para me fazer pensar assim. – Mais
uma vez ela começou a se retirar e meu coração disparou com a possibilidade de
deixá-la partir.
- E, você, todas as vezes que temos um problema, foge sem antes tentar
resolvê-lo comigo. Todas às vezes você fez isso. Quando descobriu o que tinha
acontecido entre mim e a Lauren preferiu se trancar e só me escutou depois que
outras pessoas contaram o que sabiam da história. Meu Deus Cathy, você nunca
vai confiar em mim? – Deixei que toda a minha mágoa extravasasse. Cathy também
precisava ouvir algumas verdades. Eu não era o único errado nesta história.
- Você não me deixa escolha Thomas. – Ela se virou para ir embora junto
com o grupo e, desta vez, foi definitivo.
- Foi você quem me escondeu toda esta história. – Eu ainda consegui
gritar para ela que bateu a porta sem se preocupar com o que eu dizia.
Fiquei paralisado. Cathy fora embora junto com o canalha do Roger
Turner. Eu estava furioso. Minha mente repetia o tempo inteiro as nossas
últimas palavras. Cathy não confiava em mim, na verdade nunca confiou. Se não
fosse assim ela teria acreditado em mim e não ficado contra, como ficou hoje e como
sempre ficou. Peguei a carteira de cigarros e acendi um.
Ela não voltaria para casa. Passaria a noite com Samantha, ou não. Fechei
os olhos tentando esquecer esta pequena semente que brotou em minha cabeça, mas
não conseguia evitar, a cada segundo que passava mais aumentava a minha angústia. E se fosse verdade quando o Roger
disse que era nos braços dele que ela iria chorar?
“Droga Cathy! Por que você tem que ser tão complicada?” Minha mente não
parava de trabalhar, mas ao mesmo tempo um estupor me dominava não permitindo
seguir uma linha de raciocínio coerente. Cathy tinha ido embora. Não... Ela saíra
com nossos amigos. Nada aconteceria. Contudo, por mais que eu quisesse acreditar
nisso, a única imagem que conseguia se formar em minha mente era Cathy nos
braços do Roger. Seus olhos brilhando de carinho e admiração, como eu vira esta
noite.
Andei pela sala e, sem pensar muito, peguei a carteira, a chave do carro
e saí de casa. Eu precisava sair andar, pensar ou esquecer. Dirigi até um bar
que eu costumava frequentar quando queria beber tranquilamente sem me encontrar
com fãs ou com paparazzi doidos por imagens inadequadas minhas. Lá eu podia
beber e pensar na vida sem me preocupar com quem estava por perto. Sentei em um
banco no balcão mais ao fundo do estabelecimento, que estava vazio.
- Vamos fechar em meia hora. – avisou o garçom do outro lado do balcão.
“Perfeito” eu pensei, “nem beber a vontade eu posso”. Balancei a cabeça
sinalizando que entendera e apontei para o litro do uísque que eu queria sem me
preocupar com a qualidade da bebida. Ele pegou um copo e me serviu uma dose.
- Dupla, por favor! – Avisei e ele imediatamente acrescentou a outra
dose no copo e me serviu.
Olhei para o copo em minha mão e me perguntei o que Cathy estaria
fazendo naquele momento. Senti minha raiva aumentando quando imaginei que ela
poderia estar realmente chorando nos braços daquele canalha. Virei o copo e
tomei de uma só vez seu conteúdo.
-
Por favor! – Sinalizei para o garçom para que servisse mais uma rodada. Ele
prontamente me atendeu, com mais duas doses. Peguei o copo e fiquei pensando em
toda a minha situação. Como foi que deixamos a nossa relação se chegar a esse
ponto? Eu amava Cathy, não tinha dúvidas disso, mas por que tudo isso estava
acontecendo? Por que Cathy estava permitindo que acontecesse? Ela não me amava
mais? Respirei profundamente. Antes ela faria qualquer coisa para ficarmos bem,
agora comprava qualquer briga para manter seu ponto de vista. As palavras do
Roger voltavam a todo instante em minha mente. E se eu estivesse mesmo
sufocando-a? Era possível? Sim, era. Ela havia escondido a existência dele de
mim. Ela nem ao menos fizera questão de marcar a data do casamento, mesmo
depois de quase um ano de noivado. Droga Cathy! Quando foi que eu comecei a
perder você?
- Dia difícil? – Fui retirado dos meus pensamentos pela voz familiar que
falava comigo. Olhei para Anna ao meu lado. Eu não percebera sua presença. Hoje
não era mesmo o meu dia.
- Muito difícil – respondi tomando um pequeno gole da minha bebida.
- Com a Cathy? – Respirei fundo para não ser grosseiro. Afinal ela não
era culpada pelo que havia acontecido. Mesmo assim, eu não queria conversar
sobre o assunto, muito menos com uma amiga da Cathy. Eu queria apenas ficar
quieto e calado, com a minha bebida.
- Também. – Respondi sem querer entrar em detalhes.
- É. A vida não é um conto de fadas – tive que rir desta realidade.
Cathy tinha me feito acreditar que era possível e agora estava me fazendo
enxergar a realidade, fria e dura. A vida não era mesmo um conto de fadas e eu
não era um príncipe encantado. Eu era um idiota tão mordido pelo ciúme que não
conseguiu entender o que aquele imbecil estava fazendo.
- E o que você faz aqui em Nova York? A Cathy sabe que está aqui? – Tentei
quebrar meus pensamentos como uma forma de evitar uma dor maior.
-
Não. Eu cheguei hoje. Tive uma proposta de trabalho, mas não era bem o que eu
queria, então estou voltando para Los Angeles amanhã. – Anna não estava vestida
para uma entrevista de emprego e também não aparentava estar decepcionada com mais
esta desilusão. Mas isso não era da minha conta. Voltei a minha atenção para minha
bebida.
- E o que faz aqui neste bar. Nova York tem
tantos lugares interessantes e você veio parar logo aqui. – Ela sorriu
largamente para mim. Anna era bonita. Perigosamente bonita. No entanto existia
algo nela que, ao invés de atrair, repelia. Não sei se era a impressão que eu tivera
dela em nosso primeiro contato em Los Angeles, no dia que ela tentou constranger
e debochar de Cathy por ainda ser virgem. Aquele dia realmente me fez vê-la com
maus olhos. Ela era invejosa. Minha impressão só piorou quando seus planos começaram
a não dar certo e ela, sem motivos aparentes, começou a culpar Cathy pela sua
infelicidade.
- Eu vi você entrando e resolvi segui-lo – olhei-a desconfiado. O que
ela queria? – Pensei que Cathy estivesse com você– ela completou mudando a
direção da conversa.
– “Sei” pensei. Duvido muito que ela estivesse
mesmo interessada em se encontrar com Cathy. E mesmo que quisesse este não era
o melhor dia para isso. Cathy provavelmente estava se divertindo com seu novo
amiguinho.
- Não. Ela não está. – Tomei mais um gole, desta vez foi quase o copo
todo. Anna acabara de me lembrar do motivo para eu estar ali, sozinho. Minha
impressão a seu respeito só piorou. Seria ótimo se ela fosse embora.
- Hum! Acho que vocês estão realmente com problemas.
– Ela sinalizou para o garçom que
serviu a ela também. Ótimo! Agora ela seria a minha psicóloga. Eu precisava
ficar sozinho então decidi ir embora. Voltaria ao apartamento e continuaria com
as bebidas que estavam lá. Ou então iria até o apartamento da Sam e imploraria
a Cathy para que me escutasse. Era o mais provável.
- É. Como você disse: A vida não é um conto de fadas.
– Tomei o que restava da minha
bebida e mostrei ao garçom o copo vazio e ele rapidamente colocou outra dose
dupla.
– Vou ao banheiro Anna. Com licença. – Levantei
e fui em direção ao banheiro molhar o rosto na esperança de que ela me deixasse
em paz.
Eu estava precisando me recompor, coordenar meus pensamentos e começar a
pensar no que fazer. Amanhã quando Cathy chegar em casa eu vou precisar ter
tudo planejado. Isto se eu conseguisse
esperar até amanhã. Voltei para o balcão e percebi que Anna ainda estava lá.
Peguei meu copo e tomei mais um longo gole. Era a minha deixa para ir embora.
- Sinto muito por vocês Thomas. Há alguma coisa que eu possa
fazer... – olhei para Anna e pensei em dizer que ela poderia ser melhor para
Cathy, para começar e, depois, se ela ainda quisesse fazer algo por mim,
poderia ir embora e me deixar em paz. Tomei outro gole e senti a bebida amarga
na boca. Olhei outra vez para Anna e então percebi que não conseguia mais
entender o que ela estava me falando. Eu precisava mesmo voltar para casa. Bebi
o restante do conteúdo e, mais uma vez, senti minha cabeça rodar.
- Droga! Acho que bebi rápido demais. Estou um pouco tonto e... – puxei
o ar e percebi que minha respiração estava irregular. - Acho melhor voltar para
casa. – Comecei a levantar e fiquei tonto rapidamente. Precisei me apoiar no
balcão para não cair. Ouvi o risinho nervoso da Anna ao meu lado e, quase ao
mesmo tempo, senti suas mãos em meus braços.
- Deixe-me ajudá-lo Thomas. Você não vai conseguir dirigir assim. - Eu
não podia recusar sua ajuda neste momento. Do jeito que me sentia eu sabia que
não conseguiria chegar em casa sozinho.
- Tudo bem. - Olhei para o garçom
que já estava com minha conta na mão
olhando-me sem saber como agir. Peguei uma nota de cem do bolso e entreguei a ele
pegando rapidamente a conta de sua mão e colocando no bolso.
– Pode ficar com o troco. E seu uísque é uma
droga.
– Deixei Anna me levar até o carro e, quando
chegamos lá, eu apaguei.
3 comentários:
Caramba Tati sou capaz de imaginar o pior desta cena...Essa Anna é a mulher que vc comentou no Face não é? Tadinho do Thomas caiu no golpe da pilantra. E a Cathy foi muito injusta com ele e pelo jeito ainda vai ser! Já sofro por antecipação!
Aiii amiga q raiva desse Roger,já vi q vou sofrer RSRSRS,esses 2 malas(Anna e Roger)estão me dando raiva e Cathy tbm por não ouvir Thomas :( Super anciosa pelo livro!!Bjs amiga amo vc!Está mara!!
Eu li Segredos e adorei!!!!!
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