Oi, pessoal!
Como prometido estou postando o primeiro capítulo do segundo livro da série "O Professor", que tem como título "A Aluna". Não vou postar todos os capítulos, mas também não sei até quando postarei. Pretendo começar uma nova história em breve, mas no momento estou focada na Bienal do Rio. Preciso avisar que o texto está cru, ou seja, é o primeiro texto, sem a reconstrução que sempre faço e sem a revisão tão necessária, então mereço desconto por qualquer errinho rsrsrrsrsrss Quem gostou, por favor, siga o blog e deixe um cometário. Bjs
CAPÍTULO
01
“Quem tem mais culpa, o tentado? Ou o tentador?”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Andávamos pela mata. A garoa fina ainda descia naquele
início de manhã. Alex, cuidadosamente, me conduzia com uma mão e com a outra o
seu cavalo. O chão encharcado chiava a cada passada nos lembrando do temporal
da noite anterior, assim como os galhos caídos pelo caminho. Um caos do lado de
fora e muita tranquilidade do lado de dentro.
A fraca luminosidade me ajudava a enxergar melhor, já que
meus óculos estavam em algum lugar daquela mata, pedido pra toda a eternidade.
Ajudava não ter luz forte, no entanto, mesmo assim, era complicado enxergar com
nitidez e eu precisava apertar os olhos se quisesse definir qualquer figura com
mais de dois metros de distância.
Eu não conseguia tirar o largo sorriso do rosto e,
aproveitando que “meu noivo” estava de costas, me deixava levar pelas
lembranças. Alex era perfeito. Não. Perfeito é pouco para descrever um homem
como ele. Alex era inacreditável. E foi tudo tão fantástico que eu toda hora
tentava me convencer de que não era um sonho, que eu não acordaria e me daria
conta de que a tempestade continuava.
Quando em minha vida eu poderia imaginar que me envolveria
com um homem como Alex Frankli? Nunca passou pela minha cabeça me jogar sem
limites nessa loucura toda e ainda por cima terminar noiva do homem mais
incrível que já conheci, na vida e nos sonhos. Sim. Porque nem nos romances que
li e tampouco nas histórias que me arrisquei a escrever, nenhum dos personagens
chegava sequer perto dele.
Alex era... algo impossível de descrever!
- Você está bem? – revirei os olhos.
Ele já tinha feito a mesma pergunta quatro vezes desde que
descobriu que nossa deliciosa aventura da noite anterior tinha deixado algumas
sequelas. Não muito grandes ou graves, na verdade eu imagino que normais para
uma primeira noite de prazer intenso.
O que ele queria? Eu era virgem e, apesar disso, aguentei
um round de quatro tempos. Ok! Eu
estava toda orgulhosa de mim e do meu noivo. Merecíamos uma rodada de palmas
pelo nosso desempenho, que não deixava nada a desejar, assim eu acreditava. O
fato foi que fiquei com assaduras e ele descobriu quando tentou me fazer
cavalgar.
No cavalo, claro!
- Estou ótima, Alex! Com certeza aguento mais uma rodada –
ele sorriu e voltou a olhar para frente, mordendo o lábio como se quisesse
esconder o orgulho. – Pare de sorrir como se eu fosse uma aberração. Não tenho
culpa se foi muito bom. Maravilhoso! Você poderia ser menos perfeito,
facilitaria um pouco.
- Não estou rindo porque você é uma aberração. Na verdade
já esperava por esta reação, Charlotte.
- Sério? – estanquei chocada. Como assim ele já esperava?
- O que você queria? Um belo dia estava eu tranquilo em
minha vida e recebo a proposta indecorosa de te ensinar a fazer sexo. Desde a
primeira aula eu tive a certeza de que você seria fogo puro – continuou sorrindo
e eu, mesmo indignada, me derreti por aquele sorriso preguiçoso, torto, cheio
de malícia.
Lindo!
- Então por que demorou tanto a se decidir?
Alex se voltou e me puxou para seus braços. Imediatamente
meu corpo correspondeu, tanto para o lado bom quanto para o ruim, pois a mínima
lembrança e desejo de darmos seguimento aos nossos anseios, eu também era
lembrada de que não estava em meu perfeito estado.
Pensei que meu professor me beijaria, que aproveitaria os
minutos que ainda tínhamos escondido de todos para abusar um pouco mais de mim.
Pensei que o chão molhado não faria diferença, ou que o simples fato de
estarmos protegidos pelas árvores seria um incentivo impossível de ser
ignorado, mas ele apenas acariciou meu rosto, seus olhos de um azul profundo que
sugava tudo o que queria de mim, atentos aos meus, aquele sorriso que parecia
colado no rosto pois nunca se desfazia, fazendo-me ficar cada vez mais
admirada, os dedos quentes, calmos, correndo minha pele e arrumando o cabelo
para trás da orelha.
Ele me admirou com devoção e eu fiquei ainda mais
encantada.
- Não sei – sussurrou muito próximo, sem tirar os dedos do
meu rosto. - Hoje estou convicto de que deveria ter deixado acontecer, mas como
dizem por aí: tudo tem o seu tempo e lugar.
- E foi perfeito! – demonstrei minha empolgação envolvendo
seu pescoço com meus braços e buscando seus lábios. Alex riu e me beijou com
doçura. Não foi o que eu esperava, mas foi bom.
- Realmente. Foi perfeito, apesar de tudo.
Acariciou meus cabelos e minha testa franzida por não
entender o seu “apesar de tudo”. Como assim “apesar de tudo”? Foi incrível!
Nada nos impediu, eu gostei, atingiu muito mais do que eu esperava para a minha
primeira vez. Se ele falava dos problemas com Tiffany e Anita, em minha cabeça
aquilo já estava muito bem resolvido. Mas se ele se referia a situação da vida
profissional dele, ainda tínhamos muito o que conversar.
- Eu fiquei desesperado quando voltei para casa e descobri
que você estava perdida no meio daquela tempestade.
- Eu não estava perdida... – seu indicador me calou. Alex
ficou sério, me encarando com intensidade e eu pude ver o terror que sentiu ao
pensar que algo poderia ter me acontecido. Engoli em seco.
- Você estava sozinha no meio de uma tempestade. Eu nunca
conseguiria apenas sentar e aguardar. Você tem alguma ideia do que foi para
mim? Consegue ter alguma dimensão do meu desespero? E se algo tivesse
acontecido? Tinham raios caindo para todos os lados, o rio transbordou e a
força das suas águas varriam tudo o que encontravam pela frente, sem contar que
árvores caíram. Você pode até pegar uma gripe, uma pneumonia – ele se calou me
observando com mais urgência.
Alex demonstrava angústia quando relembrava as dificuldades
enfrentadas para me resgatar. Foi exatamente por medo daquele tipo de reação que
não contei sobre as horas que caminhei na escuridão porque aquele... Aquele
animal que ele conduzia como se fosse a criatura mais doce do mundo, se recusou
a me carregar e, ainda por cima, me abandonou no meio do nada, com toda aquela
chuva, raios e trovões.
Quando Alex chegou, eu não quis dar a ele o gostinho da
vitória. Estava muito magoada, na verdade eu estava apavorada e vê-lo me deixou
tão feliz que quase pulei sobre o meu professor, chorando. Graças a Deus
consegui me conter. Também não disse que estava com a bunda toda dolorida por
causa da queda que aquele... animal me fez levar. Com certeza eu estava com um
puta hematoma que ele só não percebeu por causa da pouca luz e porque pela
manhã dei um jeitinho de esconder.
- Eu não estava em perigo – rebati para evitar que ele
ficasse ainda mais ansioso. – Já te disse, consegui achar a casa muito rápido e
me protegi. Não precisava se colocar em risco. Agora é você que está machucado,
ou pensa que não vi o hematoma imenso em suas costas? E os arranhões?
- Eu quase morri afogado – fez um biquinho digno de
atenção. Estreitei os olhos e segurei o riso. Alex estava se aproveitando da
minha preocupação.
- Coitadinho! – levei a mão ao rosto, mas lembrei que os
óculos não estavam lá.
- Quase fui eletrocutado – continuou com a carinha de
menino pidão.
- Oh, Deus! Sério? – fui entrando em seu jogo.
- Hum, hum! – Ele me olhava atentamente ainda representando
o menino perdido. – Também quase fui atropelado pelo meu próprio cavalo, sem
contar a queda na frente da cabana e que você não deu a menor importância. Por
isso os hematomas.
- E o ferimento em seu ombro? – mantive a voz preocupada,
atenta ao homem que se fazia de menino só para ganhar a minha atenção.
- Foi quando eu quase fui levado pelo rio – olhou para os lados
parecendo uma criança inocente. Tive vontade de rir, mas me mantive firme em
seu jogo.
- Tudo isso só para conseguir comer a sua aluna? Poxa!
Estou orgulhosa! Você é um homem determinado.
Alex me olhou à princípio surpreso, depois riu alto,
jogando a cabeça para trás e me deixando ainda mais deslumbrada.
- Bem, não estava em meus planos, quer dizer... estava, mas
não do jeito que foi. No final foi ainda melhor do que o planejado – ele disse
voltando a me puxar para perto. Estava mais leve, realizado. Acariciei seu
peitoral e deixei que meus braços descansassem em seus ombros.
- Não sei o que você pretendia, porém não troco a minha
primeira vez por nada neste mundo – e beijei seus lábios em um beijo rápido e
gostoso. Alex sorriu com olhos brilhantes e apaixonados, daquele jeito que me
fazia esquecer como respirar.
Ah! Alex é tão... Alex!
- É melhor continuarmos antes que seu pai consiga mobilizar
o exército.
Meu pai. Imediatamente fiquei tensa. Como ele reagiria? Nós
contaríamos? Tornaríamos nosso noivado algo público ou esconderíamos até termos
um plano mirabolante? Puta que pariu, eu já estava tensa! Só de imaginar o
tamanho da cena que meu pai com certeza armaria era o suficiente para me fazer
esquecer qualquer lembrança do que tínhamos feito.
Merda!
Peter mataria Alex. Não. Peter me colocaria em um convento,
me deserdaria e mataria Alex, que era para mostrar o quanto as regras dele tinham
valor. Que droga! Mas eu já tinha vinte e um anos, estava praticamente formada
e poderia fazer o que bem quisesse da minha vida. Sim, isso se eu quisesse
realmente causar um ataque cardíaco no meu pai que tinha um coração do século
XVII.
O que fazer?
Primeiro eu precisava, a qualquer custo, mantê-lo longe de
Alex. Não podia perder o meu noivo antes mesmo de oficializarmos nossa
situação. E muito menos depois de tudo o que ele tinha feito comigo na noite
anterior. Se a primeira vez fora tão intensa eu não poderia sequer imaginar as
seguintes. Um milhão de formigas marcharam pelo meu corpo me causando comichão
e ardor, afinal de contas não dava para ignorar as consequências das nossas
travessuras.
Avesso aos meus pensamentos desorientados, repletos de
planos que com certeza falhariam, Alex continuou caminhando, segurando firme a
minha mão e conduzindo o cavalo. Estava relaxado, até acrescentaria... Feliz,
realizado... E eu, apesar dos meus temores e angústias, estava no paraíso, em
êxtase. Todo o meu mundo se resumia àquele homem incrível que me segurava pela
mão.
Por ele eu enfrentaria o mundo.
- Como você vai fazer... Isso... Quer dizer... Esta ideia
de casamento.
Um certo incomodo me acompanhava desde que iniciamos aquela
conversa de casamento, e eu nem fazia ideia do motivo. Tudo bem que casamento
nunca fez parte dos meus planos. Não porque tinha problemas quanto a isso e sim
porque me sentia muito jovem ainda para sequer pensar em viver com alguém. Se
bem que com Alex... Sim. Eu poderia passar uma eternidade ao seu lado.
Mas não tão rápido. Não sem antes viver tudo o que eu
pretendia viver com ele.
- Primeiro terei que falar com seu pai, apenas pela questão
de tradição. Você aceitou então nós vamos nos casar com ou sem o consentimento
dele – parei chocada. Alex interrompeu seus passos para virar em minha direção
me encarando. – Ele vai concordar. Não se preocupe.
- Mas...
- Eu conto que tirei sua virgindade, aí será ele quem vai
querer me obrigar a casar – sorriu cinicamente. Os olhos azuis profundos me
encarando cheios de promessas. Alex realmente flertava com o perigo.
- Alex!
- Estou brincando. Não quero ser responsável pela morte do
seu pai. Este será meu último argumento, caso ele invente um monte de
obstáculos para me impedir de ficar com você.
- Dá para parar? Deixe que eu converso com ele. Vai ser
melhor do que deixar os dois fazerem uma competição para decidir quem é o mais
macho – ele riu outra vez sem dar o devido peso a conversa.
- Não estou competindo com ninguém. Mesmo porque já sei que
sou o vencedor – dei um tapa em seu braço bom e ele riu ainda mais.
- Peter vai enlouquecer.
- Peter tem que entender que você já é maior de idade, é
madura e pode muito bem escolher um namorado. Não vejo porque isso tem que ser
um problema. Nossas famílias estão agindo como se fosse uma só. Miranda e
Patrício estão namorando e ninguém se colocou entre eles e eu já deixei bem
claro para seus pais que sou uma pessoa responsável...
- Ah, claro! Com duas mulheres disputando a sua cama
descaradamente. Anita e Tiffany não fizeram questão de esconder o que queriam
de você e todos naquela casa imaginam que você é um devasso – ele estreitou os
olhos e sua boca ficou levemente aberta.
- Eu? Um devasso? Sua mãe não acha isso – sem largar minha
mão voltou a caminhar, me conduzindo de volta à casa.
- Minha mãe?
- Sim. Ela já me deu a sua benção – e eu notei um sorriso
presunçoso se abrindo preguiçosamente em seus lábios.
- Minha mãe o que?
- Ela me abraçou, disse que você me amava e que confiava em
mim para salvá-la – falou debochadamente. – Viu? Até sua mãe confia em mim para
ser o seu namorado.
- Você não entende – ri sem vontade. – E não acho que o meu
pai não vá aceitar, apenas acho que ele vai enlouquecer antes. Vai dar o maior
de todos os espetáculos e vamos combinar que ele pode ter um ataque cardíaco, e
é justamente este ponto que eu quero evitar.
- Peter é um homem forte, não corremos este risco.
- Não se você esconder dele o fato de eu não ser mais
virgem – ele me olhou de soslaio. – E já aviso que o máximo que vamos conseguir
é um namoro do século XV.
- Pensei que ele era do século XVIII – ele rebateu rindo.
- Mas os costumes são de muito antes. Vamos namorar sempre
sob a supervisão de alguém, pegar na mão vai ser um grande avanço, beijos só
escondidos e transar... – neguei com a cabeça. Alex mordeu o lábio sem
interromper a caminhada.
- Eu não acredito que seja assim, até porque nós
conseguimos muito mais do que isso antes. E seu pai vai confiar em mim, pode
deixar comigo.
- Estou deixando – mas eu não estava. Daria uma forma de
estar entre eles e evitar o confronto. – Mas não conte que...
- Eu sei o que vou fazer, Charlotte – ele me interrompeu
ficando brusco de uma hora para a outra. - O rio ainda está muito cheio – Alex
estava preocupado. Atravessar o rio naquelas circunstâncias seria uma grande
aventura.
- E agora?
- Acho melhor você montar e eu conduzo vocês dois.
- Não vou montar nesse... Não vou montar em seu cavalo.
Ainda estou dolorida – suavizei um pouco a voz para que ele não desconfiasse da
minha antipatia pelo animal.
- Charlotte, eu consigo atravessar. A água não está nem com
metade da força de ontem. Já você, não tenho certeza se vai conseguir.
- Posso tentar. Você segura minha mão – ele respirou fundo
e, olhando para a água, concordou.
- Tudo bem, mas não será nada agradável. Esta época do ano
a água fica gelada.
- Você consegue mesmo com todos os seus machucados? – ele
revirou os olhos desdenhando da minha preocupação.
- Isso não é nada. E nem lembro que estão aí. Vamos, quanto
antes começarmos, antes terminamos. Segure firme em minha mão e tente fazer o
mesmo caminho que eu, pisando onde eu pisar.
- Entendido, professor.
Ele me encarou e deu um sorriso leve, depois depositou um
beijo casto em meus lábios, para logo em seguida iniciar a nossa travessia.
Começamos a entrar e... arg! Estava gelada demais.
Insuportavelmente gelada. Estremeci e Alex percebeu. Claro que ele perceberia. Sem
contar que a correnteza estava mesmo muito forte. Batia na lateral das nossas
pernas que pareciam querer ceder a cada investida. Era realmente uma luta. Cada
passo tinha que ser muito bem calculado. Quando a água já estava nas minhas
coxas eu comecei a tremer e bater o queixo. Não dava para suportar.
- Tudo bem, Charlotte. Suba em minhas costas. O seu peso
vai me ajudar a ficar mais estável.
Ele parou um pouco já me posicionando para subir. Aceitei
sem questionar, mesmo sabendo dos seus machucados. Muito melhor as costas de
Alex do que no lombo daquele animal falso e dissimulado. Era incrível como ele
fingia ser bem comportado perto do dono.
Agarrei-me as suas costas e ele continuou a caminhar, com
mais cuidado. Livre da água e sentindo sua mão em minha perna, toda a minha
atenção foi desviada. Deitei o rosto em seu pescoço e inspirei aquele aroma
fantástico que só Alex conseguia ter. Ele, sutilmente, inclinou a cabeça em
minha direção, aceitando o carinho. A garoa molhava o seu rosto.
- Onde estão os seus óculos? – ele perguntou e
imediatamente lembrei da armação que estava perdida em algum lugar entre as
árvores. Não tive como evitar levar a mão ao rosto para conferir.
- Perdi ontem.
- Perdeu? Como perdeu?
- Ah... – o que eu poderia dizer? O seu precioso cavalo me
derrubou e depois eu tive que correr no meio do nada na completa escuridão? –
Acho que quando começou a chover muito forte ele escorregou enquanto eu
cavalgava. Vou providenciar outro assim que conseguir voltar para casa.
- E vai ficar sem enxergar até lá?
- Uso as lentes. Não gosto muito, mas na falta dos
óculos... – dei de ombros e senti uma pontada aguda. Meu pai enlouqueceria
quando visse os meus machucados. Era melhor desviar a atenção daquele assunto.
- Podemos voltar a cabana um dia?
- Quantas vezes você quiser.
- Podemos passar nossa lua-de-mel aqui? – Ele riu.
- Eu tinha pensado em um lugar especial, Paris por exemplo.
- Você sempre pensa em tudo? - riu divertido. – Já fui
muitas vezes a Paris. Aquela cabana é o lugar mais especial do mundo.
- Tem razão. É que eu penso em tantas coisas para nós
dois... Viajar, conhecer lugares, revisitar outros. Fazer amor em vários
outros... – não resisti, beijei seu pescoço e corri minha mão por seu peito com
paixão. – Assim eu não vou conseguir continuar e nós estamos indo bem até
demais, então não vamos abusar da sorte.
Naquele momento ouvimos o barulho de motores. Agucei as
vistas e logo à frente pude enxergar um jipe, uma moto e alguém a cavalo.
Caramba!
- O reforço chegou – Alex falou sem muito entusiasmo.
Com certeza estava tão apreensivo quanto eu. Não sabíamos
como agir. O que fazer primeiro? Não podíamos simplesmente anunciar que
estávamos juntos. Podíamos? Não. Era necessário passar por um obstáculo terrivelmente
perigoso: meu pai.
Continuamos andando. Ele com passos firmes e cautelosos
comigo em suas costas, agora sem me deitar em seu pescoço, ou acariciar seu
peito. Estava mais para uma mochila.
Patético.
Alcançamos o outro lado, sãos e salvos, quase que no mesmo
instante em que eles. João Pedro e Patrício estavam no Jipe, Johnny na moto e
meu pai, como não poderia deixar de ser, a cavalo, como um rei procurando sua
linda princesa. Não pude deixar de rir. Meu pai era uma figura.
Peter, apesar de toda aquela história sobre virgindade,
escolher o meu marido e tudo mais, é a pessoa mais incrível que eu conheço. Um
homem de honra, que cresceu com seu próprio esforço, sem nunca ter prejudicado ninguém.
Ele é uma pessoa boa. Por detrás daquela máscara de austeridade existe um homem
bom que se preocupa em dar condições dignas de saúde para quem não tem como
pagar. Eu me orgulhava muito dele.
Alex parou, me ajudou a descer e me manteve ao seu lado com
a mão em minha cintura. Ele não recuou, nem se intimidou sob o olhar atento do
meu pai, que aliás, imediatamente percebeu este detalhe. Alex permaneceu ali,
deixando clara a sua escolha, a sua posição a respeito do nosso relacionamento,
e isso, mesmo me fazendo temer, me encheu de orgulho.
Ali, sendo analisada detalhadamente por todos, tendo que
aceitar os sorrisos sorrateiros, os olhares estreitos que não tornavam nada
delicada a nossa situação, eu corei de uma maneira que nunca achei possível,
sentindo minha pele esquentar e queimar. Johnny sorriu cúmplice deixando claro
que tinha entendido tudo: eu não era mais virgem.
Porra, eu não era mais virgem! E tinha vontade de fazer a
dancinha da vitória, mas me contive.
Por que aquilo me deixava tão envergonhada? Todo mundo ali
sabia que eu era virgem e que tinha envolvido Alex num plano absurdo e maluco
para deixar de ser. Tudo bem que meu pai não sabia, mas os outros, de uma forma
ou de outra, acabaram sendo envolvidos pela situação. Então qual o motivo de
tanta vergonha? O fato era que eu estava incrivelmente constrangida. Apesar de
absurdamente feliz!
- Charlotte, que bom encontrar você inteira sem nenhum
pedaço faltando! – Johnny me agarrou puxando-me para longe de Alex. Tive tempo
de perceber seu gesto de reprovação, mas permiti que meu amigo roubasse a
atenção. – Será que está inteira mesmo? Deixe-me observar melhor.
- Idiota! – dei um tapa em seu braço, rindo da sua
insinuação.
- Sério, estou feliz por você – ele disse um pouco mais
baixo, deixando que seus olhos demonstrassem a sua real motivação para tanta felicidade.
Não sei porque ele e Miranda estavam tão preocupados com
este detalhe. Ser virgem era algo tão assustador ao ponto das pessoas
comemorarem só porque deixei de ser?
- Ah, claro! – revirei os olhos. – Vai dizer que não ficou
nem um pouco decepcionado por perder a chance de receber a minha herança – ele
sorriu amplamente, revelando a fileira de dentes perfeitos.
- Esta parte é verdade, mas ainda assim é melhor ter você
de volta do que aguentar os lamentos do padrinho.
- Posso pegar a minha filha? – meu pai estava logo atrás de
mim. – Lottie! – me apertou em seus braços com força. Dava para sentir o
desespero contido. Ah, pai! – Fiquei tão preocupado! Nunca mais faça isso,
mocinha. Sua mãe está muito nervosa e não vai sossegar enquanto não colocar os
olhos em você – ele lutava contra os olhos marejados.
- Eu estou bem, pai – afirmei com meus olhos úmidos.
- Eu sempre disse a sua mãe que ela te mimava demais –
respirei fundo me preparando para o discurso de sempre. – Se ela não fizesse
todas as suas vontades você jamais teria se colocado em risco como fez ontem.
- Eu não estava em risco. Saí para montar, não imaginei que
a chuva chegaria com tanta força, nem tão rápido.
- Montar?
- Você sabe que eu adoro cavalos, pai – rebati cansada. Eu
não queria ter aquela conversa. Não naquele momento.
- E se embrenhou na floresta mesmo com a ameaça de uma
tempestade? Isso foi...
- Pai! – ouvi o risinho abafado que provavelmente partia do
Patrício. E eu ainda teria que aguentar aquilo.
- Tá!
Ele respirou fundo e com as mãos em meus ombros. Impedi um
gemido de dor devido à pressão que ele fazia sobre um hematoma que
provavelmente me daria trabalho. Seus olhos correram meu corpo em uma análise
rápida, típica de médico e pai, os dois misturados em uma figura só.
- Está frio e você molhada. Como foi a noite? Choveu muito.
Eu mesmo teria ido, mas Alex... – seus olhos correram para meu namorado e meu
coração descompassou.
- Eu estou bem! Ótima! Alex me encontrou na hora certa.
Conseguimos acender a lareira e... – suspirei pensando em como tudo deu certo.
- Ela está bem, Peter – meu namorado se aproximou.
Olhei para trás e vi aquele homem seguro, forte e decidido
que eu conhecia. Era possível me apaixonar ainda mais por ele? Apesar do meu
pai ter assumido sua postura intimidante habitual, Alex não recuou. Apertaram
as mãos sem desviar o olhar.
Ok! Aquilo era mesmo estranho.
- Estou vendo – meu pai falou sem largar a mão do meu
professor. Seus olhos astutos liam na entrelinha o que havia acontecido.
- Vamos voltar. Vocês devem estar cansados, está muito
frio, sem contar que as mulheres estão quase botando um ovo – João Pedro falou
se aproximando e foi repreendido pelo olhar de Alex.
Que história era aquela de botar ovo? Meu Deus! João era
muito debochado. Pelo menos serviu para tirar a atenção do meu pai.
- Vamos! – Patrício se intrometeu tentando conter um
risinho do tipo “eu sei o que vocês fizeram na noite passada”. Minha vontade
era de esmurrá-lo. – Vocês devem estar com fome. Eu estou. Graças a Deus não
precisamos ir até a cabana, derrubar a porta, pegá-los de surpresa...
Patrício piscou contando um riso. Porra, eu queria poder
matá-lo! Meu pai voltou a olhar Alex com aquele jeito que ele fazia quando
deixava claro que me castigaria por quebrar alguma regra.
Merda, e eu quebrei a mais importante de todas!
- Certo. Vá no jipe com eles, filha. Estarei logo atrás,
levando os cavalos com Alex.
Puta que pariu! Eu conhecia aquele tom muito bem. Precisava
evitar o tal confronto. Alex mesmo assim não recuou. Se ele voltasse atrás ali
eu entenderia. Entenderia até se ele montasse naquele cavalo dissimulado e
fugisse para bem longe. Mas ele não fez isso. Apenas ficou e encarou o meu pai.
E não é que príncipes encantados existem mesmo?
- Eu posso montar, pai – Alex estreitou os olhos em minha
direção. Ok! Eu não podia montar sem sentir dor, mas era por uma boa causa
então tentaria. – Por que o senhor não vai no jipe e me deixa levar os cavalos
com Alex? Seria mais confortável – pela minha visão periférica percebi que
Johnny abriu um imenso sorriso e balançou a cabeça.
- De jeito nenhum. Você vai no jipe onde estará segura. Eu
chegarei logo em seguida.
Puta que pariu um milhão de vezes!
- Mas pai...
- Charlotte! Tudo bem, vá no jipe. Faça o que seu pai está
pedindo.
Alex interferiu me deixando ainda mais irritada. Como se
não bastasse o meu pai decidir sobre a minha vida eu arranjei um namorado mais
do que mandão.
Infelizmente não havia como argumentar. Com Alex e meu pai
me dando ordens ao mesmo tempo o melhor a fazer era me afastar e deixar as
coisas acontecerem. Entrei no carro recebendo um olhar de conforto do João e um
afago do Patrício. Só fizeram com que eu me sentisse ainda mais criança. O que
eles estavam pensando? Eu não era mais uma menininha. Eu nem era mais virgem.
Foi impossível não sorrir.